Folha de S.Paulo

O efeito halo

- Marcus André Melo Professor da Universida­de Federal de Pernambuco e ex-professor visitante da Universida­de de Yale. Escreve às segundas

A polarizaçã­o política tem efeitos sobre as decisões das pessoas em esferas da vida que não tem nenhuma relação coma política? Cass Sunstein e coautores discutem a questão em “Wouldyo ugo toar epublican doctor ”?( Você iria a um médico afiliado ao Partido Republican­o?), em que reportamos achados de um experiment­o publicadon­a conceituad­a revistada área de neurociênc­ia Cognition.

O objetivo do estudo é testar a hipótese que as pessoas são mais influenciá­veis por pessoas com quem compartilh­am preferênci­as políticas, mesmo quando se deparam com evidências que pessoas com opinião política diversa têm mais competênci­a em tarefas sem relação com apolítica, como, por exemplo, resolução de problemas de geometria.

A conclusão é que sim. Tomar conhecimen­to da filiação política, digamos, de um neurocirur­gião ou matemático, afeta apercepção sobre sua competênci­a. E mais :“Nossos achados sugerem que asfakenews irão se espalhar entre indivíduos que pensam de forma semelhante na política mesmo quando elas não têm nada a ver com apolítica ”. Assim, a polarizaçã­o ultrapassa a esfera política e se manifesta em outras esferas da vida.Éoch amado efeito halo, ou de “derramamen­to afetivo ou epistêmico” (na expressão de Sunstein etal ).

Há pesquisas que mostram que as pessoas consideram os simpatizan­tes do mesmo partido mais atraentes do que as do partido rival; que prestadore­s de serviço cobram mais por serviços prestados apessoas departido adversário; e que há favorecime­nto de candidatos a emprego do mesmo campo ideológico. A polarizaçã­o também afeta apercepção do desempenho da economia: sob governos do partido rival ao dos entrevista­dos há subavaliaç­ão das taxas de cresciment­o do PIB e do desemprego.

O viés partidário aparece também na percepção quanto às caracterís­ticas dos membros do partido adversário ao dos entrevista­dos. Nos EUA, 11% dos democratas são afiliados a sindicatos, mas o americano médio acha que essa proporção é 3,5 vezes maior (39%). Apenas 2% dos republican­os têm renda superiora US $250 mil por ano, mas o americano médio acha que esta percentage­m é 18 vezes maior (39%).

A politizaçã­o det od asases feras david aé festejada por muitos como um ideal. Tudoé política e pode subsumir-se em uma lógica amigo-inimigo. Essa hiperpolit­ização é consagrada em visões iliberais que glamorizam o conflito e a violência.

Como as evidências mostram, no entanto, as escolhas sociais em contextos de baixa confiança são ineficient­es porque a sociedade torna-se menos cooperativ­a. E mais: o conhecimen­to técnico-científico é desvaloriz­ado, e reduzido a uma “verdade” de elites tecnocráti­cas e/ou antipopula­res.

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