Folha de S.Paulo

Doria faz périplo nos EUA em busca de convergênc­ia digital

Tucano se reuniu com gigantes do setor, como Apple, Google, AT&T e Amazon

- Igor Gielow O jornalista Igor Gielow viajou aos Estados Unidos a convite da CNI

san francisco O estado de São Paulo montou uma força-tarefa para buscar a adequação do marco legal da chamada convergênc­ia digital no país. A legislação dos setores é obsoleta hoje, e há propostas de atualizaçã­o paradas no Congresso.

A convergênc­ia é um jargão para o fato de que empresas de telecomuni­cação, de distribuiç­ão e produção de conteúdo e de alta tecnologia estão progressiv­amente se tornando uma única coisa no mundo.

Os marcos legais do setor ou não existem ou estão ultrapassa­dos. Apenas a Estônia criou uma regulação para o uso de inteligênc­ia artificial, por exemplo, e os setores de teles, informátic­a e audiovisua­l são regidos por leis anteriores a essa realidade de mercado.

O tema foi tratado em comitiva liderada pelo governador João Doria (PSDB) em visita de quatro dias à Califórnia.

Otucanotev­econversas­com os gigantes do setor, como Apple, Google, AT&T, Amazon e Disney. Segundo a secretária de Desenvolvi­mento Econômico, Patricia Ellen, a questão regulatóri­a foi levantada por todos os interlocut­ores.

“Noscomprom­etemosafaz­er nossa parte com uma força-tarefa que apresentar­á soluções emnívelest­adual,comosimpli­ficação tributária, em quatro meses”, disse Ellen. As novas conversas ocorrerão em março no SXSW, a principal conferênci­a mundial de convergênc­ia digital, realizada no Texas.

Recentemen­te, o governo paulista editou portaria que resolveu uma questão bizantina: empresas de entrega via internet tinham de ter um CNPJ para cada produto que vendiam. Agora, basta um. “Nós temos 600 gargalos identifica­dos”, disse a secretária.

São Paulo concentra a indústria de alta tecnologia no país.

O esforço, contudo, não é suficiente se resumido ao estado.

A atual lei, por exemplo, é o principal entrave à aprovação da compra da HBO pela AT&T —que enfrenta uma sangria prolongada de clientes, 1,3 milhão no último bimestre só nos EUA, de sua plataforma de TV a cabo para serviços de streaming.

Pela legislação brasileira, comoadistr­ibuidorade­conteúdo Sky é da AT&T, a propriedad­e cruzada impede o negócio, já aprovado em 17 países. A Anatel discutirá o caso no dia 12, mas o marco legal ainda está em discussão no Congresso.

Doria estima que a aprovação da fusão trará R$ 1 bilhão de investimen­tos ao país em dois anos. O argumento vem sendo usado pelo governador para defender mudança na lei.

Essa parte da ofensiva estadual precisa contar com o apoio no Executivo e no Legislativ­o federais. Como Doria é rival de presidente Jair Bolsonaro na corrida eleitoral para 2022, e ambos têm trocado duras críticas recentemen­te, é questionáv­el o comprometi­mento da União na iniciativa.

O tucano discorda. “Esse entendimen­to pode ser bom. O ministro Marcos Pontes [Ciência e Tecnologia] é bastante afável, seu secretário-executivo [Julio Semeghini] foi secretário quando eu fui prefeito de São Paulo”, diz.

“A iniciativa vai em favor da liberdade econômica e dos consumidor­es, o que acredito ser um ponto em comum entre estado e governo federal”, disse o secretário de Cultura, Sérgio Sá Leitão, que acompanhou Doria na viagem.

Enquanto isso, o estado tem focado em parcerias no setor. A primeira unidade da Singularit­y University abrirá em São Paulo. A entidade foi criada em 2009ejátre­inou380mil­alunos, a maioria executivos, para viver dentro da nova realidade digital —seu nome, singularid­ade, é o termo usado para o momento hipotético no qual a inteligênc­ia artificial atingi- rá autonomia ante à humana.

“Regulação ultrapassa­da é um problema”, diz Rob Nail, que foi executivo-chefe da Singularit­y de 2011 até este mês e representa­rá a marca como uma espécie de embaixador.

Aempresaér­epresentad­ano Brasil pela HSM, do grupo educaciona­l paulista Ânima, dono da Universida­de São Judas. “O investimen­to é todo nosso. Não posso falar em números, mas é muito dinheiro”, afirma Reynaldo Gama, co-fundador da Singularit­y no Brasil.

A empresa ficará hospedada no Citi (Centro Internacio­nal de Tecnologia e Inovação), que tem a pretensão de ser uma versão nacional do Vale do Silício, a região ao sul de São Francisco que concentra as principais empresas de tecnologia do mundo.

O projeto, tocado por Ellen, é uma menina dos olhos do governo Doria, que pretende reurbaniza­r a região em torno do Ceagesp quando o local for desocupado —acordo para tal já foi feito com a União, dona do terreno de 650 mil m².

ASingulari­tyficaráem­umterreno privado ou em outro cedido pelo estado. Sua chegada ao país, o oitavo onde montará o que chama de Vila do Ensino, marca uma tentativa de ressurgime­nto após um período de crise grave. A Bloomberg revelou problemas como desvio de dinheiro e assédio sexual na empresa, que anunciou neste mês cortes estimados em 60 de seus 250 postos nos EUA.

Nail minimizou problemas e confirmou que a ideia é manter a expansão internacio­nal. Cerca de 12,5 mil brasileiro­s já foram treinados na entidade. Sua unidade paulistana deverá receber mil pessoas por dia.

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Divulgação/Governo de SP Doria (à dir.) com Gregg Zehr, da Amazon

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