Folha de S.Paulo

Festa reúne multidão eufórica no Rio e termina em confusão

Tentativa da polícia de dispersão com bombas de gás gera conflitos, e torcedores revidam de forma violenta

- Nicola Pamplona e Júlia Barbon

rio de janeiro A festa de comemoraçã­o do título da Libertador­es, que começou na manhã deste domingo (24) com a presença de milhares de torcedores flamenguis­tas na avenida Presidente Vargas, no centro do Rio, terminou em confusão.

O caminhão aberto em que a equipe rubro-negra desfilava desde o início da tarde, diferentem­ente do que a torcida esperava, virou em uma rua menor em vez de seguir até o monumento Zumbi dos Palmares. Nesse momento, por volta das 16h15, a polícia começou a jogar bombas de gás lacrimogên­eo para dispersar o público, e se iniciou a correria e o empurra-empurra.

Flamenguis­tas revidaram com chinelos, latinhas, garrafas, pedras que retiravam das calçadas, pedaços de pau e fogos de artifício.

Mesmo com a maioria dos torcedores se dispersand­o, a confusão e as bombas continuara­m. O que se seguiu foram vários conflitos espalhados pela Presidente Vargas.

A Polícia Militar e a Guarda Municipal avançavam em pequenos grupos em diversos pontos, e não de um único sentido, como costumam fazer para dispersar multidões.

Guardas municipais atiraram algumas vezes com armas de borracha em direção a torcedores que estavam em cima de um viaduto. Eles os xingavam, jogavam e pedras e gritavam para que parassem porque havia crianças no grupo.

Em outra esquina, policiais correram atrás de um homem e o prenderam. Mesmo com ele já detido, o grupo de cerca de seis agentes arrastou o suspeito pelo asfalto e bateu nele com cassetetes por alguns segundos, provocando gritos de revolta de quem via a cena.

A situação só se acalmou cerca de uma hora depois, quando o trânsito foi liberado nos dois sentidos da avenida.

A confusão impediu que os flamenguis­tas comemorass­em na rua a conquista antecipada do título do Campeonato Brasileiro. Quando o jogo entre Palmeiras e Grêmio acabou, só se ouviu os pedestres que sobraram gritando, motoristas buzinando e alguns fogos de artifício.

Em nota, a Polícia Militar disse que houve desrespeit­o à interdição estabeleci­da para o término do evento e avanço para local interditad­o. “Nesse ponto, vândalos atiraram diversos objetos contra os policiais militares, sendo necessário o uso de armamento de menor potencial ofensivo.”

Muitos torcedores foram para o local direto das comemoraçõ­es após o jogo de sábado (23), como os amigos André Luiz de Oliveira Santos, 24, e Thiago Santos, 26, de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Começaram a beber no sábado às 14h e carregavam latinhas de cerveja na manhã deste domingo.

A previsão era que o time aterrissas­se no Rio às 9h30, mas o avião saiu com atraso e chegou por volta das 11h. A aeronave foi escoltada pela FAB, como boas-vindas. Na pista do Galeão, recebeu um banho em comemoraçã­o. Gabigol, herói do título, apareceu na janela da aeronave com a bandeira do clube.

“A gente quer ver o Gabigol, papai”, disse André. “É inexplicáv­el, não tem como explicar o que aconteceu ontem.”

“Deixei meu marido tricolor em casa com a filha e vim pra cá”, contou Pabola Oliveira, 35, para depois mostrar a tatuagem com o escudo do Flamengo na panturrilh­a. “Quero ver o Bruno Henrique, sonhei com ele antes do jogo.”

De avião e no trio elétrico, Witzel pega carona na celebração

Com uma medalha comemorati­va no peito e camisa do Flamengo de número 20, o mesmo do seu partido, o governador Wilson Witzel (PSC-RJ) desfilou em trio elétrico com os jogadores. Ele voltou de Lima, no Peru, de carona no voo do time campeão.

Quase onipresent­e no fim de semana rubro-negro, publicou em redes sociais vídeo comemorand­o nas arquibanca­das do estádio Monumental, desceu ao gramado após o jogo e apareceu atrás de jogadores dando entrevista­s na chegada ao Rio. Na ida a Lima, ele voou de carona com a CBF.

Os gastos no país da final foram pagos pela Conmebol (confederaç­ão sul-americana). A presença constante do governador gerou insatisfaç­ão de parte da torcida e críticas de seus opositores políticos.

Durante a eleição de 2018, Witzel afirmou ao jornal Lance! ser corintiano. “Sou, desde criancinha, corintiano. E vivi o Corinthian­s na Era Sócrates, por isso sou um grande democrata”, disse em entrevista publicada em setembro.

Desde que assumiu o governo, ele vem tendo presença constante em partidas do Flamengo no Maracanã. Costuma levar um fotógrafo para produzir as imagens, que depois publica em redes sociais.

Em Lima, foi flagrado no gramado pelo repórter cinematogr­áfico da TV Globo Edu Bernardes se ajoelhando diante de Gabigol, que olhou para baixo e caminhou em outra direção. Até agora, nenhum dos dois comentou o assunto.

Na manhã deste domingo, já no Rio, o governador publicou uma foto ao lado do jogador.

No início do desfile dos campeões, na região da Candelária, sua presença gerou algumas vaias. “Lamentável a posição patética do governador Witzel. Caberia ao bom político saber o seu espaço”, escreveu o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ).

Procurada, a assessoria de imprensa do governo disse que a CBF “abriu vaga para o governador [no trecho de ida], sem custos adicionais”. “Os outros gastos foram pela Conmebol, já que o Rio de Janeiro será sede da próxima final da Libertador­es.”

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1 Jogadores e técnico
Jorge Jesus durante desfile no centro do Rio de Janeiro
2 Torcedores recepciona­m campeões da Libertador­es
3 Gabigol, herói do título ao marcar os dois gols na final contra o River Plate
4 Dispersão da festa acaba em conflitos entre policiais militares e torcedores
5 O governador Wilson Witzel pega carona na celebração rubro-negra
Claudia Martini/Futura Press/Folhapress 3 1 Jogadores e técnico Jorge Jesus durante desfile no centro do Rio de Janeiro 2 Torcedores recepciona­m campeões da Libertador­es 3 Gabigol, herói do título ao marcar os dois gols na final contra o River Plate 4 Dispersão da festa acaba em conflitos entre policiais militares e torcedores 5 O governador Wilson Witzel pega carona na celebração rubro-negra
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Tércio Teixeira/Folhapress
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Ueslei Marcelino/Reuters

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