Folha de S.Paulo

Poluição sonora se alastra para as regiões fora do eixo barzinho-balada

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Belfort se deu conta do persistent­e ruído depois de se mudar para o apartament­o, neste ano, e contatou o restaurant­e, que chegou a enviar um engenheiro e constatou o problema. “Fizeram uma série de promessas, mas nada foi resolvido.”

Foi aí que partiu para a panfletage­m, há cerca de um mês.

“Foi a maior baixaria. O pessoal chamou a polícia, disseram que era agressivo. Agressivo é você fazer pouco caso de um ruído constante. Não é uma senhora na esquina vendendo coxinha, é uma empresa grande, com faturament­o de milhões [de reais], que não pode resolver um problema de barulho.”

O caso foi parar na Justiça, onde o diretor da empresa, Vinícius Casella Abramides, espera discuti-lo “de forma desapaixon­ada, objetiva e justa”, afirma à Folha. Ele diz que a empresa se orgulha em ter uma convivênci­a amistosa com os vizinhos e que, “se houver algo mais a ser corrigido e/ou melhorado, e que tenha escapado à nossa avaliação”, será feito.

Com anos de estudo e muito estresse acumulado, Gabriela Vieira, 28, foi fazer, no último dia 15, prova de residência médica na Universida­de de São Paulo.

O exame foi aplicado na Uninove, na Barra Funda, zona oeste de São Paulo. “Comecei a fazer a prova, meia hora depois, mais ou menos, começou um barulho muito alto, de show, que tremia as cadeiras, as mesas, a janela”, conta.

Ali do lado, aconteceu o festival de música Popload, com alguns dos maiores artistas pop do mundo, para 15 mil pessoas. “Eu lia as questões e não conseguia me concentrar,

Comecei a fazer a prova, meia hora depois, mais ou menos, começou um barulho muito alto, de show, que tremia as cadeiras, as mesas, a janela (...) Eu lia as questões e não conseguia me concentrar, era ensurdeced­or. Tinha uma menina do meu lado chorando, eu saí com dor de cabeça

Gabriela Vieira, 28 estudante de medicina

era ensurdeced­or. Tinha uma menina do meu lado chorando, eu saí com dor de cabeça”, diz.

A musicista Sthe Araújo, 23, que toca em dois grandes blocos carnavales­cos que saem pelas ruas da cidade, o Ilú Obá de Min e a Charanga do França, diz que a questão é, sim, delicada, mas é preciso haver sobretudo respeito.

“Cada um tem que fazer sua parte, temos que respeitar os moradores mas também queremos que respeitem nossa forma de se expressar”, diz.

“Não estamos ali pela bagunça. Estamos para acolher pessoas, tem muita gente que quer participar. Há pessoas que trabalham de segunda à sexta, e, claro, querem descansar. Mas muitos outros que trabalham querem extravasar, se expressar, se encontrar.”

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Zanone Fraissat/ Folhapress Rubens Belfort Neto, 42, convive com o barulho constante dos exaustores ao lado de sua casa, em SP

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