Djavan ensaia striptease e requebra em show de novo disco
Cantor trouxe a turnê de seu mais novo álbum, ‘Vesúvio’, a São Paulo com apresentação no último fim de semana
Djavan - Turnê Vesúvio **** *
Km de Vantagens Hall- Av. Ayrton Senna, 3.000, Barra da Tijuca, Rio de Janeiro. Sáb. (14), às 22h. R$ 180 a R$ 300
O Djavan que se apresentou no último fim de semana no lotado Espaço das Américas, em São Paulo, atravessa agora sua quinta década de produção musical. Tem repertório para construir shows que garantam uma noite fantástica. Mas a apresentação, que mostrou também muito de seu último álbum, “Vesúvio”, poderia ter sido melhor.
Não que tenha faltado alguma coisa. Todos os grandes sucessos foram entregues ao público. E esta turnê, em especial, tem potencial para ser uma das grandes da carreira do cantor, já que seu álbum mais recente é poderoso, com doses fartas de romantismo e observações políticas.
Canções como “Viver É Dever”, “Vesúvio” e “Meu Romance” são postas lado a lado com clássicos do tamanho de “Sina” e “Oceanos”, sem que a intensidade da comunicação com o público diminua.
Para quem queria apenas se emocionar com a presença tão próxima do ídolo, a noite foi incrível, mas uma análise mais exigente deixa claro que alguns arranjos não foram escolhas muito felizes.
A “culpa” é do próprio Djavan e seus discos memoráveis. Talentoso e conhecedor das minúcias da produção, a ponto de ter um estúdio profissional em sua casa, no Rio de Janeiro, o cantor tece intrincadas tramas sonoras nos álbuns.
Mesmo que os fãs possam cantarolar as músicas, não são canções simples. Com um time de bambas nas gravações, encaixa cordas, metais e outros penduricalhos preciosos para arquitetar sucessos. Mas, no show, apesar de seus músicos carregarem credenciais irretocáveis, há uma simplificação na execução.
Seus dois tecladistas fazem muitas passagens que nas gravações originais contam com mais instrumentistas. Assim, o som do teclado eletrônico dá um pouco do tom do show. Em alguns momentos, parece um grupo de baile retomando o repertório de Djavan — competentíssimo, é verdade, mas algo não soa bem.
No centro de tudo, Djavan está em ótima forma. Aos 70 anos, canta com vigor e exibe a simpatia de sempre. Começa o show meio “escondido”, com chapéu, óculos escuros e um casaco. Aos poucos vai tirando as peças excessivas, e esse lento strip-tease traz uma descontração cada vez maior.
Nas músicas agitadas, arrisca requebrar o corpo, numa dança um tanto contida, mas suficiente para arrancar o carinho da plateia, que responde com gritinhos. Falou do Flamengo, campeão da Libertadores poucas horas antes, e contou histórias.
A mescla do material mais recente com os hits históricos flui bem. O público vê o final se aproximar e vai listando as “obrigatórias” que ainda devem vir. E Djavan não nega prazer aos seguidores. “Topázio”, “Esquinas”, “Samurai”, “Lilás”, estão todas ali.
As músicas são mesmo ótimas, mas o crítico ranzinza ainda pode reclamar dos arranjos. A ponto de classificar como o melhor bloco do show o momento em que Djavan fica sozinho no palco, com banquinho e violão. Sem a moldura pesada da banda, Djavan mostra exemplos que justificam sua presença no panteão dos gigantes da MPB.