Concentração de gases do efeito estufa bate recorde
Anúncio foi feito pela ONU a poucos dias de seu encontro do clima; documento diz que não há indícios de redução
Tendência, segundo a ONU, é de aumento e de mudanças climáticas mais intensas
genebra | afp Os principais gases do efeito estufa registraram um recorde de concentração em 2018, anunciou nesta segunda-feira (23) a ONU, e não há indícios de desaceleração visíveis.
O alarme foi divulgado poucos dias antes do início da reunião anual da ONU sobre mudanças climáticas, a COP-25, que acontecerá de 2 a 13 de dezembro em Madri.
“Não há indícios de que vai acontecer uma desaceleração e muito menos uma redução da concentração dos gases do efeito estufa na atmosfera, apesar de todos os compromissos assumidos no Acordo de Paris sobre a mudança climática”, destacou o secretário-geral da Organização Meteorológica Mundial (OMM), Petteri Taalas.
O documento não leva em consideração as quantidades de gases do efeito estufa expelidas na atmosfera, e sim as que permanecem nela, já que os oceanos absorvem quase 25% das emissões totais, assim como a biosfera, à qual pertencem as florestas.
De acordo com os cientistas, o dióxido de carbono (CO2), que está associado às atividades humanas e que constitui o principal gás do efeito estufa que permanece na atmosfera, bateu um novo recorde de concentração em 2018, de 407,8 partes por milhão (ppm), ou seja, 147% a mais que o nível pré-industrial de 1750.
“Cabe recordar que a última vez que a Terra registrou uma concentração de CO2 comparável foi entre 3 e 5 milhões de anos atrás. Na época, a temperatura era de 2 °C a 3 °C mais quente e o nível do mar era entre 10 metros e 20 metros superior ao atual”, afirmou Taalas em um comunicado.
Além disso, a OMM destacou que o aumento anual da concentração de CO2, que persiste durante séculos na atmosfera e ainda mais tempo nos oceanos, foi superior à taxa de crescimento média dos últimos dez anos.
De acordo com as observações dos cientistas, as concentrações de metano (CH4), que aparece em segundo lugar entre os gases do efeito estufa com maior persistência, e de óxido nitroso (N2O) também aumentaram mais que a média anual da última década.
O metano, cujas emissões são provocadas em 60% pela atividade humana (gado, cultivo de arroz, exploração de combustíveis fósseis, aterros, etc.), e o óxido nitroso, com 40% das emissões de origem humano (como fertilizantes e processos industriais), também alcançaram níveis máximos de concentração.
O óxido nitroso também tem um forte impacto na destruição da camada de ozônio, que filtra os raios ultravioleta.
Diante da emergência climática, os países se comprometeram, em 2015 em Paris, a adotar planos de redução das emissões de gases do efeito estufa, mas as emissões mundiais não param de crescer.
Petteri Taalas pediu aos países para que “cumpram os compromissos em ação e aumentem o nível de ambição em nome do bem-estar futuro da humanidade”.
No início do mês, porém, o governo dos Estados Unidos oficializou a saída do Acordo de Paris. O país deve deixar oficialmente o acordo em 4 de novembro de 2020, um dia após a eleição presidencial.
A saída já havia sido anunciada pelo presidente americano Donald Trump em junho de 2017. Na época, ele alegou defender os interesses do país.
Sob a presidência de Barack Obama, um dos grandes fiadores do Acordo de Paris, os EUA tinham se comprometido a reduzir as emissões dos gases-estufa de 26% para 28% até 2025, em comparação com 2005.
Os quatro maiores emissores de gases do efeito estufa —China, EUA, União Europeia e Índia — representam 56% das emissões globais.
Apenas a União Europeia (9% do total) está a caminho de cumprir, ou até superar, seus objetivos, de acordo com um estudo recente da ONG americana Fundação Ecológica Universal (FEU-US).
No Brasil, as emissões brasileiras tiveram um leve aumento de 0,3% entre 2017 e 2018, puxadas pelo desmatamento relacionado ao agronegócio.
Sozinho, o setor respondeu por 69% das emissões do país em 2018. Levando-se em conta o período de 1990 até 2017, o agronegócio é responsável por cerca de 80% das emissões brasileiras. As emissões brasileiras de gases-estufa ligadas ao desmatamento cresceram 3,6% em 2018.