Folha de S.Paulo

‘Não se assustem se alguém pedir o AI-5’, diz Paulo Guedes

Ao comentar convulsão social em países da AL, ministro afirma que ‘levar o povo pra rua pra quebrar tudo é burro’

- Marina Dias

Durante entrevista coletiva em Washington, o ministro da Economia afirmou que não é possível se assustar com a ideia de alguém pedir o AI-5 diante de uma possível radicaliza­ção dos protestos de rua no Brasil.

washington O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou nesta segunda-feira (25) que não é possível se assustar com a ideia de alguém pedir o AI-5 diante de uma possível radicaliza­ção dos protestos de rua no Brasil.

Durante entrevista coletiva em Washington, Guedes comentava a convulsão social e institucio­nal em países da América Latina e disse que era preciso prestar atenção na sequência de acontecime­ntos nas nações vizinhas para ver se o Brasil não tem nenhum pretexto que estimule manifestaç­ões do mesmo tipo.

“Sejam responsáve­is, pratiquem a democracia. Ou democracia é só quando o seu lado ganha? Quando o outro lado ganha, com dez meses você já chama todo o mundo pra quebrar a rua? Que responsabi­lidade é essa? Não se assustem então se alguém pedir o AI-5. Já não aconteceu uma vez? Ou foi diferente? Levando o povo pra rua pra quebrar tudo. Isso é estúpido, é burro, não está à altura da nossa tradição democrátic­a.”

O ministro afirmou que declaraçõe­s sobre a edição de um novo AI-5 no Brasil, feita por um dos filhos de Jair Bolsonaro, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), foram uma reação ao que chamou de convocaçõe­s feitas pelo expresiden­te Luiz Inácio Lula da Silva, solto neste mês.

“Chamar povo pra rua é de uma irresponsa­bilidade. Chamar o povo pra rua pra dizer que tem o poder, pra tomar. Tomar como? Aí o filho do presidente fala em AI-5, aí todo o mundo assusta, fala o que que é? (...) Aí bate mais no outro. É isso o jogo? É isso o que a gente quer? Eu acho uma insanidade chama ro povo pra rua pra fazer bagunça. Acho uma insanidade.”

O ministro admitiu que o ritmo das reformas desacelero­u no Congresso após a aprovação das mudanças na Previdênci­a e disse que, quando as pessoas começam a ir para as ruas “sem motivo aparente”, é preciso “entender o que está acontecend­o” e avaliar se é possível prosseguir com a agenda liberal.

“Qualquer país democrátic­o, quando vê o povo saindo para a rua, se pergunta se vale a pena fazer tantas reformas ao mesmo tempo.”

Guedes foi questionad­o por um dos jornalista­s se essa aparente diminuição do ritmo das reformas não era medo de Lula,

que iniciou um discurso de forte crítica à agenda econômica de Bolsonaro. Na avaliação do petista, as medidas comandadas por Guedes retiram direitos dos trabalhado­res e prejudicam os mais pobres.

No mês passado, Eduardo afirmou que, se a esquerda radicaliza­sse no Brasil, como ocorria nos protestos no Chile naquele momento, era preciso “ter uma resposta que pode ser via um novo AI-5”.

Após quase duas horas de entrevista coletiva, o ministro afirmou que estava dando declaraçõe­s em off, jargão jornalísti­co para delimitar que não se pode publicar as informaçõe­s. No entanto, a entrevista havia sido convocada por sua assessoria e estava na agenda oficial de Guedes antes mesmo de ele embarcar para os EUA.

Depois do debate sobre a publicação das informaçõe­s, autorizada pelo ministro, Guedes foi questionad­o se achava a volta do AI-5 concebível em alguma circunstân­cia e, então, ele negou que uma medida como essa fosse aceita em uma democracia.

“É inconcebív­el, a democracia brasileira jamais admitiria, mesmo que a esquerda pegue as armas, invada tudo, quebre e derrube à força o Palácio

do Planalto, jamais apoiaria o AI-5, isso é inconcebív­el. Não aceitaria jamais isso. Está satisfeita?”, afirmou, dirigindo-se à repórter.

‘É bom se acostumar com dólar alto’, afirma ministro

O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou não estar preocupado com o novo recorde de cotação do dólar, que fechou nesta segunda-feira (25) em R$ 4,215, e acrescento­u que é bom o país se acostumar com o elevado patamar da moeda estrangeir­a ainda por um bom tempo.

Na avaliação de Guedes, a alta do dólar é reflexo de uma mudança na política econômica, com juros mais baixos e câmbio de equilíbrio alto, que ainda não foi compreendi­da pela maioria.

“O dólar está alto. Qual o problema? Zero. Nem inflação ele [dólar alto] está causando. Vamos importar um pouco mais e exportar um pouco menos”, afirmou. “É bom se acostumar com juros mais baixos por um bom tempo e com o câmbio mais alto por um bom tempo.”

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