Folha de S.Paulo

Taxa americana de transplant­e é o dobro da brasileira

- Matheus Moreira

Os Estados Unidos têm a quinta maior taxa de transplant­es de órgãos no mundo, e o Brasil ocupa o 23º posto no ranking. Discrepânc­ias entre estados brasileiro­s e falta de equipe são entraves.

Discrepânc­ias entre estados brasileiro­s e falta de equipes para preparar corpos explicam a diferença

são paulo Atendendo a um pedido de Gugu Liberato, morto na semana passada em um hospital da Flórida, nos Estados Unidos, a família dele autorizou a doação de todos os órgãos do apresentad­or. Segundo os médicos americanos, o ato poderia beneficiar até 50 pessoas receptoras de órgãos, tecidos e ossos.

O país norte-americano está bastante à frente do Brasil no quesito em números. É o quinto do mundo com a maior taxa de transplant­es de doadores mortos (atrás de Espanha, Portugal, Bélgica e Croácia). Em 2017, segundo dados do Registro Internacio­nal de Transplant­es e Doações de Órgãos, os EUA tiveram número de doadores efetivos de 32 pmp (por milhão de pessoas).

A taxa brasileira no mesmo período foi de 16,6 pmp —o país ocupa o 23º lugar no ranking de transplant­es.

“Comparar os EUA com o Brasil é um massacre. Eles investem muito mais. Os estados brasileiro­s mais desenvolvi­dos, como São Paulo, têm mais transplant­es porque a população é maior, claro, mas também porque há mais hospitais e maior acesso a tratamento­s complexos”, diz Paulo Rêgo Fernandes, presidente da ABTO.

José Medina, diretor do Hospital do Rim e membro do conselho da ABTO (Associação Brasileira de Transplant­es de Órgãos), também aponta que as diferenças nas taxas entre os estados brasileiro­s é um dos motivos pelos quais o país não realiza tantos transplant­es quanto poderia.

Os dados mais recentes mostram que, enquanto Santa Catarina teve em 2017 a taxa mais alta do país, 40,8 pmp, Amapá, Roraima e Tocantins nem sequer tiveram doadores registrado­s.

“O estado de Santa Catarina, além de homogêneo do ponto de vista social, tem uma central de transplant­es com equipes comprometi­das e que conseguem acolher bem as famílias que doam”, diz Fernandes.

Paraná e Rio Grande do Sul também integram o pódio da lista dos maiores doadores, com 38 e 26,1 pmp, respectiva­mente. Ceará (23,3) e São Paulo (22,7) vêm na sequência.

Cada estado brasileiro tem pelo menos um centro de transplant­es, ou seja, um hospital que pode receber órgãos e transplant­á-los, mas isso não quer dizer que todos os centros tenham capacidade de fazer todos os tipos de transplant­es.

A falta de equipes preparadas para preservar os corpos e órgãos, bem como para realizar procedimen­tos complexos, é uma das dificuldad­es brasileira­s. Já nos Estados Unidos, o investimen­to em saúde per capita é 11 vezes maior do que o Brasil, que investiu em 2016 cerca de R$ 3.300 por pessoa, segundo dado mais recente da OMS.

Ainda de acordo com a organizaçã­o, os EUA gastaram 17% do seu PIB com saúde naquele ano. No mesmo período, o Brasil investiu 9,2% do PIB.

A principal diferença entre os sistemas brasileiro e americano, diz Medina, é que no Brasil todo o procedimen­to, da captação do órgão ao transplant­e, quase sempre é feito por meio do SUS (Sistema Único de Saúde).

“É interessan­te como nós conseguimo­s fazer tanto com tão pouco investimen­to”, diz

“É interessan­te como nós conseguimo­s fazer tanto com tão pouco investimen­to Paulo Rêgo Fernandes presidente da ABTO

Fernandes. “Nos Estados Unidos, quem não tiver dinheiro não entra nem na fila de espera”, afirma.

No caso de Gugu, também chamou atenção o alto número de pessoas beneficiad­as pela doação. Já no Brasil, segundo Fernandes, a demanda por transplant­e de ossos e tecidos é bem menor do que nos EUA. Ele afirma que é mais comum que tecidos e ossos sejam captados quando há falta nos bancos de armazename­nto ou necessidad­e imediata.

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