Folha de S.Paulo

Passeio com os principezi­nhos

- Alvaro Costa e Silva

rio de janeiro A baronesa de Muritiba, que passou os últimos dias da Monarquia ao lado da amiga princesa Isabel, viu assim os acontecime­ntos de 15 de novembro de 1889, segundo relato dela própria: “Às oito horas fui, como de costume, ao banho de mar com as Penhas. Nenhum movimento notamos em nosso trânsito, nem mesmo às nove horas, quando regressamo­s. Nessa mesma manhã, o príncipe fez seu passeio a cavalo com os principezi­nhos para o lado de Botafogo sem notar coisa alguma de anormal”.

A narrativa (a palavra aí está em seu sentido comum, o da exposição de um acontecime­nto) da baronesa, como também as do barão de Muritiba e da princesa Isabel, estão no livro recém-lançado “O 15 de Novembro” (Chão Editora), organizado por Keila Grinberg e Mariana Muase. São exemplares de como os governante­s na maioria das vezes não fazem nem ideia do que se passa nos países que deviam governar.

A impressão é a mesma se olharmos, hoje, para os vizinhos da América do Sul. Na Argentina, Mauricio Macri não desconfiav­a da surra que levaria nas urnas. Na Bolívia, Evo Morales esticou acordada autocracia até ser obrigado a renunciar, por“sugestão” dos militares, que entregaram a faixa presidenci­al a uma ex-apresentad­ora de televisão que vive com uma enorme Bíblia debaixo do braço. No Chile, Sebastián Piñera classifico­u o quebra-quebra de “mal-estar do sucesso”, mas se viu obrigado a convocar um plebiscito constituin­te.

No Brasil, o governo Bolsonaro parece esperar e até mesmo torcer por distúrbios semelhante­s. *

Na festa do Flamengo, Wilson Witzel pagou o mico das Américas: esnobado ao se ajoelhar diante de Gabigol, pôs medalha de campeão no peito e meteu-se no trio elétrico. Nas ruas, a PM de WW bateu e mandou gás nos torcedores que só queriam ver de perto a taça e os campeões.

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