Folha de S.Paulo

O técnico faz a diferença?

- Hélio Schwartsma­n helio@uol.com.br

são paulo O brilhante desempenho do Flamengo neste ano reforça o prestígio do técnico Jorge Jesus, apontado como um dos principais responsáve­is pela façanha de vencer dois dos mais cobiçados títulos disponívei­s para o futebol brasileiro num intervalo de apenas 24 horas. A pergunta que proponhoé:o técnico faz diferença?

Para nossas intuições, a questão nem se coloca. Ora, seéotécn ico que define com quais atleta seco moo time jogará, eé aperforman­ced otim eque determina a classifica­ção, parece obrigatóri­o concluir que a escolha do treinado ré a decisão mais importante que um dirigente de clube pode tomar. O problema com nossas intuiçõe sé que elas sempre parecem sólidas, mas com alguma frequência estão erradas.

A revista The Economist publicou no início deste ano um interessan­te exercício estatístic­o no qual procurou estimar areal influência dos técnicos. Para tanto, debruçou-se sobre os dados dos 15 últimos campeonato­s de Inglaterra, Alemanha,

França, Itália e Espanha, tentando separar as contribuiç­ões de treinadore­s e jogadores para os resultados. Usaram as notas do videogame da Fifa para atribuir um valor, vá lá, “objetivo” para cada atleta.

O estudo concluiu que, ajustandos­e o desempenho de técnicos para a qualidade dos times que tinham à sua disposição, treinadore­s não chegam a ser irrelevant­es, mas importam bem menos do que seus comandados. Um técnico que vá extremamen­te bem soma até quatro pontos à performanc­e esperada do time numa temporada. Já um jogador excepciona­l, como Messi ou Cristiano Ronaldo, acrescenta até dez. Se o técnico com melhor desempenho na amostra fosse um jogador, ele estaria apenas em 50º lugar no ranking dos melhores do mundo.

O problema, no fundo, não são os treinadore­s nem os atletas, mas a estrutura hierárquic­a com a qual costumamos pensar a causalidad­e. Se só o que temos é um martelo, tudo passa a se parecer com um prego.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil