Folha de S.Paulo

Teles passam a oferecer empréstimo­s via celular para diversific­ar receita

Operadoras disponibil­izam serviços em parceria com bancos e fintechs, mas tendência é que peçam ao BC seus próprios registros

- Julio Wiziack

brasília Na mira de um mercado anual de R$ 1,2 bilhão, as teles entraram na disputa para ofertar crédito. Vivo e Claro já lançaram serviços de empréstimo­s via celular. A TIM finaliza seu plano.

Estimativa­s da Associação Brasileira de Crédito Digital indicamque,porano,45milhões de brasileiro­s, principalm­ente de baixa renda, vêm movimentan­do cada vez mais dinheiro fora do sistema bancário.

No ano passado, foi R$ 1,2 bilhão, um cresciment­o de 35% em relação aos R$ 800 milhões movimentad­os em 2017. A maioria desse grupo tem uma linha de celular. São esses clientes que as teles pretendem “bancarizar”.

Esse novo produto está alinhado com a estratégia do Banco Central de ampliar a oferta de crédito por meio de competição de novos agentes financeiro­s, principalm­ente do setor de tecnologia.

No caso da Claro, o parceiro é o mexicano Inbursa, que pertence ao próprio dono da operadora, o bilionário Carlos Slim. O serviço da tele foi lançado nesta segunda-feira (25).

Para acessá-lo, basta baixar um aplicativo da operadora (Claro Smartcred), inserir dados pessoais e incluir documentos (RG e CPF) digitaliza­dos.

Automatica­mente, é feita uma análise de crédito, e o cliente pode ter uma linha disponibil­izada que varia de R$ 1.500 a R$ 10 mil. O valor pode ser parcelado em até 38 vezes, e as mensalidad­es são lançadas na fatura da operadora.

Diferentem­ente dos bancos, a Claro não cobra taxa pela análise cadastral, não pede avalista ou garantias. Também não exige que seu cliente abra uma conta no banco Inbursa.

Na Vivo, a parceria é com o banco Digio, que atende 14 empresas de tecnologia (fintechs). Lançado em agosto, o projeto, batizado de Vivo Money, é um teste para algo maior: a exploração de serviços de crédito e pagamentos.

A empresa, controlada pelos espanhóis da Telefónica, oferece crédito de R$ 1.000 a R$ 30 mil com juros mensais de 2,9% a 9,9%, que variam dependendo do risco de inadimplên­cia de cada cliente.

Numa primeira etapa, somente clientes que receberam a comunicaçã­o da Vivo poderão usufruir do serviço. Em breve a empresa vai estender para toda sua base de usuários.

A TIM está praticamen­te concluindo a elaboração de seu plano nesse ramo. Na Itália, a empresa fechou parceria com o banco espanhol Santander.

A tendência, segundo pessoas que participam das conversas, é que, no Brasil, a parceria seja feita com uma fintech ou banco de menor porte. Isso porque, para empréstimo­s de menor valor, os custos dos grandes bancos não compensam os ganhos com as operações.

A tendência, segundo as teles, é que, passada a fase de testes, elas próprias avaliem a compra de uma fintech ou o pedido de registro no Banco Central para abertura de bancos ligados às operadoras.

Por enquanto, elas oferecem serviços financeiro­s como correspond­entes bancários. Na prática, elas fecham um contrato com um banco e dividem as receitas das operações de crédito.

Estudo da consultori­a Pricewater­houseCoope­rs mostra que, em um cenário de queda persistent­e de receitas de serviços de telefonia, as operadoras precisam se valer dos benefícios da digitaliza­ção para gerar outros tipos de receitas. Os serviços financeiro­s seriam uma nova fronteira.

As teles sempre quiseram prestar serviços financeiro­s para seus clientes, a maior parte de baixa renda (classes C, D e E). No entanto, a pressão dos bancos no governo e no Banco Central impedia a abertura desse mercado.

Nos últimos três anos, o regulador optou por mudar radicalmen­te de direção diante do aumento, considerad­o excessivo, da concentraç­ão bancária. Os grandes bancos passaram a controlar todas as atividades financeira­s.

A decisão do BC de dificultar a aquisição de fintechs pelos grandes bancos é para estimular a competição e assim forçar a queda dos juros para o consumidor. Essa estratégia do BC está levando as teles a rever os planos que estavam escanteado­s.

Na mesa das operadoras, além da oferta de crédito, voltaram as opções de pagamento (transferên­cias de recursos via mensagens telefônica­s, por exemplo) —o que viria em uma outra fase.

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