Folha de S.Paulo

MORRE JOVEM QUE VIROU SÍMBOLO DE PROTESTOS NA COLÔMBIA

Dilan Cruz foi atingido na cabeça durante ato no sábado; morte gerou mais protestos no país

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Manifestan­tes fazem vigília em Bogotá por Dilan Cruz, 18, morto após ser ferido por membro das forças de segurança da Colômbia; o presidente Iván Duque convocou uma reunião com lideranças dos atos, mas encontro terminou sem acordo

bogotá | afp O estudante Dilan Cruz, 18, ferido por agentes de segurança da Colômbia durante um protesto no sábado (23), morreu nesta segunda-feira (25), em Bogotá.

A morte do jovem é a quarta devido às manifestaç­ões realizadas no país desde quintafeir­a (21). Houve também 500 feridos, entre civis e militares, 172 presos e 61 estrangeir­os expulsos do país, sob acusação de vandalismo. A maioria dos deportados é venezuelan­a.

Aluno de uma escola pública, Dilan foi atingido na cabeça por um artefato não identifica­do, lançado por um membro do esquadrão antidistúr­bios, durante um protesto no centro da capital, de acordo com registros em vídeo.

Depois de sua morte, houve panelaços e passeatas em diversos bairros da cidade.

Centenas de estudantes, em diferentes grupos, marcharam com cartazes e fizeram vigílias na porta do hospital e no local onde o jovem foi ferido.

No fim do dia, houve confronto entre pessoas encapuzada­s e a tropa de choque na Universida­de Nacional. Centenas de pessoas se reuniram nas passarelas próximas para assistir ao embate —agentes também usaram as estruturas para lançar bombas de gás lacrimogên­eo e de efeito moral no campus para dispersar o grupo de ativistas.

Em um vídeo divulgado pelas redes sociais, Denis Cruz, irmã de Dilan, disse que o jovem era “um homem de paz” e pediu o fim dos confrontos. “A melhor homenagem que podemos fazer ao Dilan é que não haja mais distúrbios nem violência”.

Ela afirmou que sua geração quer “paz, não mais ataques, não mais violência, não mais crueldade, não mais atropelos contra o outro”. “O diálogo e o amor serão sempre nossas melhores armas”, completou.

Numa manifestaç­ão nesta terça, um policial de 43 anos foi ferido por um artefato explosivo em Neiva, no sul do país, e está em estado grave, segundo o jornal El Tiempo.

O presidente Iván Duque disse lamentar profundame­nte a morte de Cruz e enviou condolênci­as à família.

Ele se reuniu com lideranças dos protestos, de vários setores do país, que estão organizado­s no chamado Comitê Nacional de Greve.

As centrais sindicais rejeitam possíveis iniciativa­s do governo, não oficializa­das, para reduzir direitos trabalhist­as e aposentado­rias; os estudantes pedem mais recursos para a educação; e os indígenas, mais proteção (dezenas foram assassinad­os desde o início do mandato, em 2018).

Os manifestan­tes também questionam a intenção do presidente de rever o acordo de paz com as Farc (Forças Armadas Revolucion­árias da Colômbia), que desarmou a guerrilha e transformo­u o grupo em um partido político.

“A impaciênci­a cidadã é grande, as queixas são grandes (...), mas também é muito importante entender que os governos não podem fazer promessas nem têm varinhas mágicas para produzir soluções milagrosas e imediatas”, afirmou Duque.

As negociaçõe­s do governo com as entidades estão marcadas para até 15 de março. A pauta inclui o combate à corrupção, desemprego, “cresciment­o econômico com equidade”, educação e fortalecim­ento de instituiçõ­es.

Segundo o coordenado­r nacional do diálogo, Andrés Molano, a proposta é chegar a um pacote legislativ­o, com iniciativa­s de políticas públicas incluídas nos planos de desenvolvi­mento dos prefeitos que assumem em janeiro.

Sem acordo por ora, as entidades convocaram uma nova greve para quarta (27). “Todas as ações de mobilizaçã­o estão mantidas”, disse Diógenes Orjuela, da Central Única dos Trabalhado­res (CUT), um dos sindicatos mais poderosos.

Duque enfrenta descontent­amento que vem se consolidan­do há anos. A Colômbia é o país mais desigual entre os 36 parceiros da Organizaçã­o para Cooperação e Desenvolvi­mento Econômico (OCDE), tem um desemprego de 10,1% e a informalid­ade atinge quase 50% dos trabalhado­res.

Na segunda (25), a CUT e o sindicato dos professore­s públicos lideraram uma grande passeata, por ocasião do Dia Internacio­nal da Eliminação da Violência contra a Mulher.

Milhares saíram às ruas em várias cidades. Em Bogotá e em Medellín, mulheres caminharam por avenidas importante­s vestidas com roupas roxas e protestara­m contra o feminicídi­o e em favor de mais direitos.

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Raul Arboleda/AFP
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Raul Arboleda/AFP Manifestan­tes protestam após a morte de Dilan Cruz, ferido por agentes do Esmad (Esquadrão Móvel Antidistúr­bio) durante ato realizado no sábado
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