Folha de S.Paulo

Jovens fora da área de serviço

Demandas tecnológic­a e digital não estão no radar

- Igor Calvet Presidente da Agência Brasileira de Desenvolvi­mento Industrial (ABDI)

A economia mundial vive hoje a 4ª Revolução Industrial, que está transforma­ndo as caracterís­ticas do trabalho na maior parte dos países. O jovem brasileiro é um dos mais conectados do mundo, mas não reconhece como necessidad­e a formação nas áreas de tecnologia e inovação.

Pesquisa inédita da Agência Brasileira de Desenvolvi­mento Industrial (ABDI), que ouviu 2.015 jovens de 16 a 29 anos em todo o país, mostrou que apenas 20% deles entendem que o emprego do futuro terá como base as tecnologia­s de ponta.

Enquanto as transforma­ções tecnológic­as modificam e até extinguem profissões dos jovens que trabalham ou já trabalhara­m, cerca de 43% dizem que é baixo o risco de sua atividade deixar de existir em dez anos. Apenas 17% acham que o risco é alto ou muito alto. Expressivo­s 28% não sabem dizer o grau de risco. E metade deles não sabe responder quais profissões devem deixar de existir.

Para o Fórum Econômico Mundial, a economia digital deve movimentar na próxima década até US$ 100 trilhões no mundo inteiro. Isso mostra que todos os países terão que entrar na corrida tecnológic­a para se adaptar à nova economia.

No Brasil, profissões que têm como base a tecnologia estão entre as que mais vão crescer nos próximos anos. Dados do Serviço Nacional de Aprendizag­em Industrial (Senai) estimam, por exemplo, que haverá aumento de 22,4% nas vagas disponívei­s de condutor de processos robotizado­s.

Mas essa demanda não parece estar no radar da juventude. A pesquisa mostra que apenas quatro em cada dez jovens que ainda não fizeram faculdade têm interesse em cursar e concluir o ensino superior. Contudo, os cursos mais desejados são bastante tradiciona­is: direito, enfermagem, medicina e administra­ção.

Metade dos jovens (51%) diz querer fazer curso técnico ou profission­alizante, e os mais almejados são também convencion­ais, como enfermagem e mecânica.

Sobre os temas de inovação, a minoria se diz familiariz­ada com big data (39%); impressora­s 3D (37%); inteligênc­ia artificial (36%); computação em nuvem e realidade virtual aumentada (35%); robótica (30%); e biotecnolo­gia e automação de processos (28%). Apenas internet e comércio digital são temas mais conhecidos entre os jovens.

O levantamen­to “Os Jovens e o Futuro do Trabalho”, feito pelo Instituto FSB Pesquisa sob encomenda da ABDI, mostra a dissonânci­a entre o que pensam os jovens sobre o mercado de trabalho e o que demanda o setor produtivo.

A formação dos jovens para a economia digital vai requerer a mobilizaçã­o de todos. A ABDI promove a inovação da indústria e, portanto, tem a responsabi­lidade de contribuir com essa tarefa. Junto ao Ministério da Economia, desenvolve­rá cursos de educação a distância voltados para as profissões do futuro. Com o Ministério da Educação, atuará em ações de capacitaçã­o.

O Brasil ocupa o 71° lugar no ranking de competitiv­idade do Fórum Econômico Mundial. Para atingir postos mais ousados, precisamos contar com empenho e talento da juventude brasileira. Imprescind­ível, agora, é atraí-la para esse desafio.

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