Folha de S.Paulo

Venda de propriedad­e pode resultar em lucro de R$ 870 mil

- Flávio Ferreira

são paulo O sítio em Atibaia (SP) que era frequentad­o pelo ex-presidente Lula ficará livre de confisco se, nesta quartafeir­a (27), o TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região) anular a sentença que condenou o petista em primeira instância por corrupção e lavagem de dinheiro em decorrênci­a de reformas bancadas por empreiteir­as na propriedad­e.

Sem o confisco judicial, a eventual venda do imóvel pode resultar em lucro de quase R$ 900 mil ao seu dono formal, um amigo da família de Lula.

Nesta quarta, o TRF-4 vai julgar os recursos das partes do processo que condenou Lula pelo caso. Um ponto fundamenta­l a ser decidido é se o processo deve ou não voltar à primeira instância para correção da ordem de apresentaç­ão das alegações finais, conforme recentes decisões do STF (Supremo Tribunal Federal).

O Supremo anulou duas condenaçõe­s da Lava Jato e determinou que esses processos retornasse­m à fase de alegações finais por não ter sido respeitado o princípio de que as defesas devem se manifestar por último nos processos

—ou seja, que réus delatores falem antes dos delatados.

No caso do sítio, o ex-presidente apresentou alegações finais no mesmo prazo de seus delatores, o que abre brecha para anular sua condenação a 12 anos e 11 meses de prisão.

O sítio foi comprado em outubro de 2010 por R$ 500 mil (R$ 830 mil em valor atualizado pela inflação). Segundo o

Ministério Público Federal, a propriedad­e teve reformas financiada­s pelo pecuarista José Carlos Bumlai e pelas empreiteir­as Odebrecht e OAS.

Uma avaliação judicial realizada em meados deste ano por determinaç­ão da 13ª Vara Federal de Curitiba, responsáve­l pelo processo, indicou que o sítio vale hoje R$ 1,7 milhão.

A Justiça autorizou a venda do local, mas determinou que parte do valor eventualme­nte obtido seja depositado em conta judicial e fique bloqueado até o julgamento do caso em instâncias superiores.

Porém, se a sentença de primeira instância for anulada pelo TRF-4, o dono poderá ficar com o valor total do negócio, já que a decretação de confisco do imóvel também seria cancelada pelo tribunal.

A área onde está a casa, o lago e outras benfeitori­as está registrada em nome do empresário Fernando Bittar, filho de Jacó Bittar, amigo de Lula que atuou na fundação do PT.

A sentença de primeira instância, da juíza federal Gabriela Hardt, viu corrupção e lavagem de dinheiro no caso.

Na decisão, de fevereiro passado, a magistrada ressaltou que não entrou na discussão sobre a propriedad­e formal do sítio, já que a denúncia teve como foco a reforma e benfeitori­as realizadas em favor de Lula e sua família.

Para a juíza, Bittar cometeu o crime de lavagem de dinheiro em relação às obras da cozinha do sítio, pagas pela OAS, uma vez que as notas fiscais foram emitidas em nome do empresário, e ele assinou os projetos da obra.

Com base no entendimen­to, a magistrada condenou Bittar a três anos de reclusão, mas substituiu a punição por prestação de serviços à comunidade e pagamento de dez salários mínimos. Os advogados do empresário negam que ele tenha cometido o crime.

Em abril, a defesa de Bittar apresentou petição com pedido de autorizaçã­o para negociar o imóvel no mercado convencion­al. Segundo os advogados, “a venda de imóveis por meio de leilão judicial tende a resultar em significan­te deságio”, o que poderia prejudicar Bittar e “os próprios interesses da Justiça”.

A defesa acrescento­u que Bittar não frequenta mais o sítio e que um eventual leilão judicial só ocorreria após o julgamento pelas instâncias superiores. Pediu, então, para fazer a venda convencion­al do bem após uma avaliação judicial do imóvel.

O Ministério Público Federal concordou com o requerimen­to dos advogados de Bittar e, em maio, a Justiça determinou a realização da avaliação judicial. O perito indicado pela Justiça emitiu um laudo que estimou em R$ 1,7 milhão o valor da propriedad­e rural.

Procurada pela Folha ,aadvogada de Bittar Luiza Oliver afirmou que mesmo em caso de anulação do confisco por decisão do TRF-4, a defesa não adotará medidas para vender a propriedad­e rural sem antes comunicar a Justiça Federal. Disse ainda que pedirá autorizaçã­o para concretiza­r qualquer transação.

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Eduardo Anizelli - 4.mar.16/Folhapress Vista aérea do sítio que Lula frequentav­a em Atibaia

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