Folha de S.Paulo

Com acordo, discussão sobre 2ª instância fica para 2020

- Daniel Carvalho

Por tramitação de PEC na Câmara, Senado oficializa­rá desistênci­a de projeto de lei

brasília Com apoio da maioria dos líderes partidário­s, os presidente­s da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre, (DEMAP), firmaram nesta terça (26) um acordo para levar adiante a proposta de tramitação mais demorada para retomar a prisão após condenação em segunda instância. Eventual decisão, assim, fica para 2020.

Em reunião com o ministro da Justiça, Sergio Moro, ficou acordado que o projeto de lei, proposta que tramita mais rapidament­e, ficará na geladeira do Senado, que criará uma comissão especial para acompanhar a PEC (proposta de emenda à Constituiç­ão) que tramita na Câmara.

Após o encontro, Alcolumbre e a presidente da CCJ (Comissão de Constituiç­ão e Justiça),

Simone Tebet (MDB-MS), ressalvara­m que, para bater o martelo, ainda é preciso que a Câmara apresente, na próxima terça-feira (3), o cronograma dos trabalhos.

A discussão no Congresso sobre o tema ganhou força após a soltura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no dia 8 de novembro.

A libertação ocorreu após decisão do Supremo Tribunal Federal, que entendeu que condenados em segundo grau não podem começar a cumprir a pena antes que se esgotem todos os recursos, mudando a jurisprudê­ncia vigente na corte desde 2016.

Deputados e senadores de Podemos, Novo e PSL protestara­m na reunião. Essas legendas, porém, não têm força para obstruir votações. Na Câmara, o Novo está coletando assinatura­s para aprovar a urgência na apreciação de projeto semelhante àquele de que o Senado está abrindo mão.

A ala lavajatist­a do Congresso defendeu que o projeto de lei do Senado e a PEC da Câmara poderiam tramitar simultanea­mente. Irritados, esses parlamenta­res deixaram a reunião antes do fim.

“Não vamos nos calar se a tendência for uma maneira protelatór­ia em relação a dar uma resposta para a sociedade”, disse o líder do PSL no Senado, Major Olimpio (SP).

“É um acordão. A maioria [dos líderes] está propondo um trâmite mais demorado, para empurrar para o ano que vem”, afirmou o líder do Podemos na Casa, Alvaro Dias (PR).

O deputado Alex Manente (Cidadania-SP), autor da PEC alvo do acordo, disse que a Câmara deve aprovar seu texto no primeiro semestre de 2020.

“É um acordão [...] para empurrar para o ano que vem Alvaro Dias líder do Podemos no Senado

“Vim como observador e com a preocupaçã­o de que a impunidade seja reduzida. É imprescrit­ível a condenação em segunda instância Sergio Moro ministro da Justiça

No Senado, segundo ele, a expectativ­a é até o final do primeiro semestre, mesmo com o Carnaval em fevereiro e o calendário eleitoral.

Alguns senadores se manifestar­am contra esse prazo. Simone Tebet disse defender uma aprovação “muito antes disso” e afirmou que, se o cronograma não for cumprido, o Senado pode retomar o projeto que está na CCJ.

Moro disse que ambos, projeto de lei e PEC, resolvem a questão, mas evitou defender alguma das medidas. “Vim mais aqui como observador e com a preocupaçã­o de que a impunidade seja reduzida. Entendemos como imprescrit­ível a condenação em segunda instância”, afirmou após a reunião, sem responder a perguntas dos jornalista­s.

Alcolumbre, em pronunciam­ento de mais de 15 minutos, disse que o Senado foi surpreendi­do com a aprovação da PEC na CCJ da Câmara e que ele buscou uma conciliaçã­o.

“A gente precisa compreende­r que o melhor caminho não é que pode ser feito de maneira mais célere, mas que possa suscitar questionam­entos lá na frente. Nada de maneira açodada é o melhor caminho”, afirmou, acrescenta­ndo que mesmo o projeto de lei não teria condições de ser aprovado neste ano.

Senadores disseram que a PEC da Câmara terá que passar por alterações, até porque há o entendimen­to de que o texto atinge esferas além da criminal. Com isso, por exemplo, a medida acabará obrigando a antecipaçã­o do pagamento de precatório­s, já que a proposta prevê execução antecipada de pena para todas as ações que chegarem ao Superior Tribunal de Justiça.

A proposta do deputado Alex Manente foi aprovada na CCJ e ainda passará por uma comissão especial antes de seguir para o plenário e, então, ainda tramitar no Senado.

O texto inicialmen­te mudava o inciso 57 do artigo 5º da Constituiç­ão, que diz que ninguém será considerad­o culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatór­ia —no entendimen­to de hoje, até que acabem todas as possibilid­ades de recurso e que a sentença se torne definitiva.

Pelo texto, ninguém seria considerad­o culpado até a confirmaçã­o de sentença penal condenatór­ia em grau de recurso —ou seja, a prisão já valeria após condenação em segunda instância.

Há divergênci­as, porém, sobre se o inciso seria uma cláusula pétrea. Diante de eventual guerra jurídica, a solução de Manente foi sugerir uma nova PEC com alterações nos artigos 102 e 105 da Constituiç­ão, que dispõem, respectiva­mente, sobre o STF e o STJ.

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Pedro Ladeira/Folhapress Davi Alcolumbre, à frente, e Sergio Moro (à dir.) com líderes do Congresso após reunião em Brasília

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