Crise na Bolívia faz Petrobras perder negócio com russos
Sem conseguir fechar contrato para obter gás, Acron encerra negociações para comprar fábricas de fertilizantes
rio de janeiro A Petrobras comunicou nesta terça (26) o encerramento de negociações para a venda de duas fábricas de fertilizantes à russa Acron. As empresas não informaram o motivo, mas a Folha apurou que a instabilidade política na Bolívia inviabilizou o negócio.
O país vizinho seria o fornecedor de gás natural da Acron. Segundo fontes, apesar de acordos prévios com o governo Evo Morales, os russos não conseguiram fechar contrato para fornecimento firme do combustível. O gás é matéria-prima para a produção de fertilizantes nitrogenados.
A Petrobras negociava com a Acron duas unidades: a Araucária Nitrogenados, já em operação no Paraná, e a Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados 3, projeto em Mato Grosso do Sul criado ainda em governos petistas e com obras paralisadas desde 2015.
Em outubro, a Bolívia anunciou acordo com a Acron para a venda de 2,2 milhões de metros cúbicos de gás por dia a partir de 2021, em contrato que renderia ao país ao menos US$ 20 milhões mais uma participação de 12% na fábrica de Três Lagoas.
No mesmo mês, o governo Morales e a Acron anunciaram acordo para criar empresa conjunta para vender ureia —um dos fertilizantes nitrogenados— boliviana para o mercado brasileiro.
O negócio foi comemorado por Morales como “um novo passo para seguir avançando na diversificação” da indústria de gás do país.
Petrobras e Acron fecharam acordo para a transferência das fábricas em agosto. Nesta terça, em nota, a estatal informou que “foram encerradas as negociações em curso com a Acron Group, sem a efetivação do negócio”. A empresa disse, porém, que permanece interessada em sair desse segmento.
A fábrica de Três Lagoas está com as obras paralisadas desde 2015, quando a Petrobras rompeu contrato com o consórcio construtor, formado pela chinesa Sinopec e pela construtora Galvão Engenharia. A obra, orçada inicialmente em R$ 3,2 bilhões, está com avanço de 82%.
Foi aprovada no governo Lula, em conjunto com outra unidade semelhante, em Uberaba (MG), com o objetivo de abrir mercados para a utilização do gás da Petrobras em momentos de baixa geração termelétrica. O projeto original previa início das operações em 2014.
A crise boliviana já teve impacto também nas negociações entre empresas privadas brasileiras e La Paz para importar gás natural para o Brasil. A expectativa do setor é que as conversas só sejam retomadas após a posse de novo governo.
A Acron não havia se pronunciado até a conclusão deste texto.