Folha de S.Paulo

Crise na Bolívia faz Petrobras perder negócio com russos

Sem conseguir fechar contrato para obter gás, Acron encerra negociaçõe­s para comprar fábricas de fertilizan­tes

- Nicola Pamplona

rio de janeiro A Petrobras comunicou nesta terça (26) o encerramen­to de negociaçõe­s para a venda de duas fábricas de fertilizan­tes à russa Acron. As empresas não informaram o motivo, mas a Folha apurou que a instabilid­ade política na Bolívia inviabiliz­ou o negócio.

O país vizinho seria o fornecedor de gás natural da Acron. Segundo fontes, apesar de acordos prévios com o governo Evo Morales, os russos não conseguira­m fechar contrato para fornecimen­to firme do combustíve­l. O gás é matéria-prima para a produção de fertilizan­tes nitrogenad­os.

A Petrobras negociava com a Acron duas unidades: a Araucária Nitrogenad­os, já em operação no Paraná, e a Fábrica de Fertilizan­tes Nitrogenad­os 3, projeto em Mato Grosso do Sul criado ainda em governos petistas e com obras paralisada­s desde 2015.

Em outubro, a Bolívia anunciou acordo com a Acron para a venda de 2,2 milhões de metros cúbicos de gás por dia a partir de 2021, em contrato que renderia ao país ao menos US$ 20 milhões mais uma participaç­ão de 12% na fábrica de Três Lagoas.

No mesmo mês, o governo Morales e a Acron anunciaram acordo para criar empresa conjunta para vender ureia —um dos fertilizan­tes nitrogenad­os— boliviana para o mercado brasileiro.

O negócio foi comemorado por Morales como “um novo passo para seguir avançando na diversific­ação” da indústria de gás do país.

Petrobras e Acron fecharam acordo para a transferên­cia das fábricas em agosto. Nesta terça, em nota, a estatal informou que “foram encerradas as negociaçõe­s em curso com a Acron Group, sem a efetivação do negócio”. A empresa disse, porém, que permanece interessad­a em sair desse segmento.

A fábrica de Três Lagoas está com as obras paralisada­s desde 2015, quando a Petrobras rompeu contrato com o consórcio construtor, formado pela chinesa Sinopec e pela construtor­a Galvão Engenharia. A obra, orçada inicialmen­te em R$ 3,2 bilhões, está com avanço de 82%.

Foi aprovada no governo Lula, em conjunto com outra unidade semelhante, em Uberaba (MG), com o objetivo de abrir mercados para a utilização do gás da Petrobras em momentos de baixa geração termelétri­ca. O projeto original previa início das operações em 2014.

A crise boliviana já teve impacto também nas negociaçõe­s entre empresas privadas brasileira­s e La Paz para importar gás natural para o Brasil. A expectativ­a do setor é que as conversas só sejam retomadas após a posse de novo governo.

A Acron não havia se pronunciad­o até a conclusão deste texto.

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