Folha de S.Paulo

Relatório da Câmara aponta falhas no MEC

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são paulo Um relatório preliminar de comissão da Câmara dos Deputados aponta problemas no Ministério da Educação como a falta de mulheres em cargos de alto escalão, pouca experiênci­a dos servidores em cargos de confiança e ausência de planejamen­to para implementa­ção de ações.

“No fim das contas, a conclusão é de que a execução da educação brasileira está solta e não segue um planejamen­to estratégic­o ou tático”, afirma o deputado Felipe Rigoni (PSB-ES), relator do grupo.

A Folha teve acesso ao documento, revelado pelo jornal O Estado de S. Paulo.

A comissão foi criada em maio deste ano pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), a partir de requerimen­to assinado por 50 deputados de diferentes partidos.

O objetivo era acompanhar o desenvolvi­mento dos trabalhos do MEC, em meio a cortes de verbas da educação e incertezas sobre o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio).

É a primeira vez em que um grupo do tipo é formado na Casa para analisar o trabalho da pasta, hoje comandada por Abraham Weintraub.

Sobre o planejamen­to estratégic­o, o documento diz que o MEC não o apresentou em 2019 e que os planos de trabalho da pasta são pouco robustos. E não apresentam especifici­dade nas priorizaçõ­es, clareza nas metas ou estabelece­m responsáve­is ou prazos para cumpriment­o das ações.

Entre os projetos com problemas está a nova Política Nacional de Alfabetiza­ção, meta apresentad­a para o MEC nos primeiros cem dias de governo que prioriza o chamado método fônico (que concentra a atenção na relação entre sons e letras).

O relatório diz que, apesar de anunciada como prioridade, não foi implementa­da e não há plano de ação que a detalhe ou determine quando chegará às escolas. O ministro da Educação afirmou em outubro que a política chegaria às salas de aula em 2020.

O documento da Câmara diz ainda que metas do PNE (Plano Nacional de Educação) estão atrasadas. Aprovado por meio de lei em 2014, estabelece 20 metas para serem cumpridas entre 2015 e 2024. Segundo o texto, a Base Nacional Comum Curricular também segue com muitos pontos de indefiniçã­o.

A falta de investimen­tos, em um ano de contingenc­iamento de recursos para a área da educação, é outra questão. Apenas 4,4% do montante para investimen­tos do MEC foi gasto de janeiro a julho, menos da metade do que foi investido no mesmo período de 2018, segundo o documento.

Mudanças na estrutura organizaci­onal seriam as responsáve­is por “sobreposiç­ões de atividades e lacunas de atuação em áreas fundamenta­is”.

Entre as alterações estão o alto número de exoneraçõe­s. Segundo o documento, enquanto em governos anteriores o padrão era de exoneraçõe­s no início da nova gestão seguidas por estabilida­de em cerca de cinco meses, a pasta atual manteve o número alto de exoneraçõe­s até setembro.

O documento também diz que a interferên­cia do governo na escolha de reitores, distribuiç­ão de recursos e contingenc­iamento seletivo colocam em risco “a autonomia didático-científica, administra­tiva e de gestão financeira e patrimonia­l das instituiçõ­es de ensino superior”.

O relatório, de 268 páginas, foi feito com base em 38 requerimen­tos de informação, 12 visitas técnicas ao MEC, nove audiências públicas, análise de documentos oficiais e consultas a especialis­tas. Foi enviado para os parlamenta­res do grupo no último domingo (24), segundo Rigoni.

O texto contém 52 sugestões para o Executivo para melhorar a condução de políticas educaciona­is. Foi enviado aos parlamenta­res do grupo no domingo (24), para que façam consideraç­ões.

Em nota, o MEC afirma que “lançará em breve programas e materiais sobre a Política Nacional de Alfabetiza­ção”. Sobre a execução orçamentár­ia, diz que “o desconting­enciamento total dos recursos só foi realizado há quatro dias” e que “o MEC já empenhou mais de 80% dos gastos discricion­ários e trabalha para executar todo o orçamento”.

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