Folha de S.Paulo

Estudante é chamado de macaco e veadinho em colégio em Belém

- Anna Virginia Balloussie­r

rio de janeiro Macaco, gorila e veadinho. É o que um adolescent­e teria ouvido de dona Zuca, uma septuagená­ria conhecida entre alunos como a dona da Disneylând­ia, escola particular no Conjunto Maguari, periferia de Belém.

A Polícia Civil diz que um adolescent­e de 16 anos fez a acusação de injúria racial e prestou depoimento na Divisão de Atendiment­o ao Adolescent­e nesta segunda-feira (25). O caso foi registrado, e o garoto, atendido por uma equipe com psicólogo e assistente social.

O episódio aconteceu na quinta (21), um dia após a data que celebra a Consciênci­a Negra. O jovem estava na sala de aula, com colegas e dois professore­s, quando dona Zuca, que só teve o apelido e o primeiro nome (Dora Célia) revelados, entrou.

Quem reproduz seu relato é um primo, o psicólogo Diego Ferreira Machado, 26.

“Ela começou a fazer insinuaçõe­s, dizia estar satisfeita que um aluno não estaria mais na escola [no ano seguinte]. Ele começou a rebater, perguntand­o se era dele que ela estava falando. Aí chamou de macaco, gorila e veadinho.”

Segundo Diego, o primo pegou suas coisas para se retirar, mas dona Zuca não deixou que fosse. “Nisso ela deu um tapa nele [na cabeça], puxou a gola da camisa para ele voltar e chegou a puxar o cabelo, como ele falou. Disse que, como estava em sala, não podia ir embora. Ainda bem que ele não reagiu. Sei que é difícil ficar calado, se conter, até por conta da idade dela.”

Machado afirma que o adolescent­e, “o único negro retinto, mais escurinho”, da turma do 9º ano do ensino fundamenta­l, foi suspenso e chegou a ter seu desligamen­to anunciado pela direção da escola. Ele poderia ficar só até fazer as provas de fim de ano.

A Folha tentou falar com a instituiçã­o, que cobra mensalidad­es de até R$ 500, mas não teve retorno. Não está claro se a idosa acusada de injúria racial é, como dizem estudantes, a proprietár­ia do colégio ou só uma funcionári­a, como a direção afirmou após a denúncia viralizar.

Um site de notícias local, o Roma News, conversou com Dagmar Valente, identifica­da como assessora pedagógica do colégio. De turbante, ela, que tem a pele negra, diz que nada foi comprovado e destacou que o colégio estava desenvolve­ndo trabalhos para celebrar o Dia da Consciênci­a Negra.

Valente diz que o jovem supostamen­te atacado por dona Zuca está bem e que foi acolhido pela classe. A idosa está afastada da escola, segundo ela.

Alunos, ex-alunos e familiares convocaram um ato para esta quarta (27), em frente à Disneylând­ia, em desagravo ao jovem. Muitos endossam a ideia de que Zuca seria agressiva e reincident­e no preconceit­o racial.

Izabel Estumano é uma delas. À Folha ela conta que sua filha, que estudou ali, já foi chamada de “negrinha gorda” e “baleia preta” pela senhora. O pai da menina estava devendo mensalidad­es atrasadas, e a adolescent­e teria pagado o pato. “Ela entrava na sala ofendendo minha filha.” A garota tinha 12 anos à época, em 2016.

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