Folha de S.Paulo

Região sofre pressão em áreas de proteção ambiental

- JPP

“Alter do Chão não tem que ser como Copacabana ou Ipanema. Os turistas vêm por causa de suas belezas naturais. Desconfigu­rá-las seria assinar uma carta de suicídio da região como destino turístico

salvador O balneário de Alter do Chão (PA) vive um cenário de devastação de áreas de proteção ambiental, pressão imobiliári­a e disputas em torno de uma legislação que permitiria a construção de prédios nas margens do rio Tapajós.

Com 6.000 habitantes e a 38 km da zona urbana de Santarém, oeste do Pará, Alter é um dos principais destinos turísticos da Amazônia e reúne até 100 mil visitantes na alta estação.

O vilarejo é conhecido pelas águas cristalina­s, áreas de floresta e forte influência da cultura indígena. Desde meados dos anos 1990, passou a atrair grandes grupos de turistas, sobretudo de São Paulo.

Os incêndios em setembro, porém, acenderam o alerta da comunidade e das autoridade­s para uma possível nova ofensiva sobre áreas de proteção ambiental deste paraíso amazônico.

Nas margens do Tapajós, a área de proteção ambiental tem 86% da sua área coberta pela floresta e pelo cerrado amazônico. Ali, existem 475 espécies de árvores e mais de 500 espécies de animais, incluindo algumas ameaçadas de extinção como a onçapintad­a e o maracajá-peludo.

“É uma área federal e de proteção ambiental, mas que vem sendo desmatada e vendida em lotes. Já embargamos o loteamento, mas as decisões são descumprid­as, inclusive com hostilidad­e aos fiscais”, afirma o procurador Camões Boaventura, do Ministério Público Federal do Pará.

Além da pressão sobre áreas de proteção ambiental, o povoado de Alter de Chão

Camões Boaventura procurador do Ministério Público Federal do Pará

também enfrenta uma disputa no campo legislativ­o em torno da flexibiliz­ação das regras para construçõe­s no local.

Há dois anos, tramitou na Câmara de Vereadores de Santarém uma nova lei de uso e ocupação do solo que autorizava a construção de prédios de até seis andares em Alter do Chão, além da instalação de um porto no Lago do Maicá, berçário de espécies de peixes e aves.

A mudança não foi adiante após protestos que uniram indígenas, quilombola­s, ambientali­stas e empresário­s do segmento turístico.

“Foi um movimento propositiv­o, apartidári­o e horizontal que acabou dando certo. No final, aprovamos uma legislação razoável, nem xiita pra um lado nem para o outro”, afirma Caetano Scannavino, coordenado­r da ONG Projeto Saúde e Alegria e morador de Alter de Chão.

Para a comunidade, ele diz, é imprescind­ível evitar o cresciment­o desordenad­o de um balneário que tem problemas básicos de infraestru­tura.

A região, por exemplo, ainda tem baixa cobertura de saneamento básico, que resulta em ligações clandestin­as que despejam esgoto nos rios. Para o procurador Boaventura, o cresciment­o do balneário precisa ser sustentáve­l para que ele não perca a sua vocação turística.

“Alter do Chão não tem que ser como Copacabana ou Ipanema. Os turistas vêm por causa de suas belezas naturais. Desconfigu­rar essas belezas seria assinar uma carta de suicídio da região como destino turístico”, diz.

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