Aos 12 anos, lutadora do Itaim Paulista tem 101 medalhas no jiu-jítsu
são paulo | agência mural Quando tinha quatro anos, Samara Uno, 12, mostrou interesse pela natação. Mas por falta de dinheiro da família que vive no Itaim Paulista, na zona leste, não iniciou as aulas. Aproveitou a experiência da mãe para aprender jiu-jítsu, atividade que os primos já praticavam.
“Quando ela era bebê, já me acompanhava. Enquanto treinava ela me olhava”, conta Andressa Souza, 33, vice-campeã mundial master.
“Sempre agradeço à minha mãe por ter insistido em mim”, diz a estudante. “Precisava fazer um exercício físico e o único que ela podia me dar naquele momento era a arte marcial.”
Samara tem se destacado nos tatames. Ao todo, soma 101 medalhas, sendo 57 de ouro. Ela treina com os primos que também competem e são campeões no esporte.
A conquista mais importante veio em 2016, quando ficou com o título mundial disputado em São Paulo.
Nas últimas semanas, a garota ficou em terceiro lugar no Paulista de Jiu-Jítsu na categoria infanto A —colorida— na faixa laranja. O evento é oficializado pela CBJJE (Confederação Brasileira de Jiu-Jitsu Esportivo).
Samara nasceu na Santa Casa de Suzano, na Grande São Paulo, mas sempre morou no Itaim Paulista, bairro do extremo leste da capital, onde começou a lutar.
O jiu-jítsu é uma luta que tem como característica o combate no solo, com foco na imobilização e finalizações como chaves de braço, perna e estrangulamento.
A atleta mirim quer ser médica cirurgiã, mas não vê o futuro sem a luta. Pretende disputar competições internacionais. O jiu-jítsu não é uma modalidade olímpica, mas Samara não descarta migrar para o judô, esporte que pratica há dois anos. As modaliades tem semelhanças, com técnicas similares de queda e imobilização.
Apesar de ter a mãe como sensei (termo usado para chamar os professores), a pequena não tem moleza: treina de segunda-feira a sexta-feira na academia Barbosa — B9 Zona Leste.
A rotina é pesada, principalmente nas semanas que antecedem as lutas, quando a dinâmica dos treinos muda. É praticada mais a parte dos movimentos da luta do que a luta em si.
“Nessa fase a ideia é trazer similaridade da competição. É trabalhado qualquer déficit de capacidade física que o atleta apresenta e que seja de extrema importância para a luta”, diz Andressa.
Quando chega o dia da luta, Samara procura seguir protocolos que a ajudam a se acalmar. Ouve os conselhos da mãe, procura conversar com as competidoras sobre outros assuntos. “Isso me acalma”, diz a menina.
Sobre os conselhos, a sensei revela que tenta falar que, se Samara perder a luta, ainda será o orgulho das pessoas que torcem por ela.
“Sou atleta e sei como é perder. São anos de treinamento para em minutos esvair. O pior sentimento é decepcionar quem está lá fora.”
Ser conhecida como uma criança que pratica artes marciais não é uma das tarefas mais fáceis dentro da escola. Enquanto algumas pessoas pensam que a qualquer momento Samara irá usar o que sabe de maneira irresponsável, ela pontua: “A luta te traz disciplina, concentração e paciência”.
“O máximo que devo fazer é autodefesa, empurrar para longe ou imobilizá-la. A minha força e técnica são diferentes das da pessoa.”