Folha de S.Paulo

‘Vício’ motiva Alison a buscar seu terceiro pódio olímpico

Atleta do vôlei de praia supera morte do pai e se classifica para Tóquio-2020

- Daniel E. de Castro

são paulo Campeão olímpico e bicampeão mundial, o jogador de vôlei de praia Alison Cerutti, 33, é movido por um vício. No caso, o de disputar os Jogos Olímpicos.

Foram duas experiênci­as ao longo da carreira, nas edições de Londres-2012 e do Rio2016. Pelos frutos que elas deram, na forma de medalhas de prata e ouro, o capixaba não tinha dúvidas de que precisava estar em uma Olimpíada pela terceira vez.

Ele conseguiu e forma, ao lado do paraibano Álvaro Filho, uma das duplas masculinas do país classifica­das para Tóquio-2020. A outra vaga foi obtida pelo time de Bruno Schmidt, campeão com Alison na Rio-2016, e Evandro.

“Eu quero ser campeão olímpico de novo. Esse é o meu sonho e a minha motivação. Eu sei como é gostoso vivenciar os Jogos. É viciante, uma adrenalina muito gostosa. Às vezes eu lembro daquela sensação que você só vivencia lá”, afirma o atleta.

Alison classifica seu terceiro ciclo olímpico como o mais difícil de todos. A parceria com Bruno se estendeu por uma temporada após a conquista no Rio, mas os resultados não foram os mesmos.

Em meio ao momento esportivo conturbado, no início de 2018 ele sofreu um grande baque também na vida pessoal, com a morte do seu pai. “Isso me deixou sem confiança. Você perde um ente querido muito próximo, troca uma parceria vitoriosa, tudo ao mesmo tempo, ficam muitas perguntas na cabeça”, diz.

Em maio do ano passado, o capixaba iniciou dupla com André Stein, 25, também nascido no Espírito Santo e que havia sido campeão mundial ao lado de Evandro. Para muitos, era a dupla que não tinha como dar errado, mas deu.

Ao lado de Alison, André precisou deixar a posição em que estava acostumado a jogar, no bloqueio, e virar defensor. Quando começaram as etapas do circuito mundial que valiam pontos para a classifica­ção olímpica, em março deste ano, a parceria ainda pecava no entrosamen­to e tinha resultados inconstant­es.

Partiu do mais jovem a decisão de abrir a dupla, o campeão olímpico foi pego de surpresa. “Faltavam seis meses [para o fim da classifica­ção] e talvez, se eu não me classifica­sse [para Tóquio], não seguiria com a carreira no vôlei.”

Apesar do susto, Alison não critica a decisão do amigo e diz que a boa relação entre os dois permanece até hoje.

O problema era encontrar um novo parceiro do dia para a noite, com todas as duplas já em busca da vaga em Tóquio.

A escolha por Álvaro Filho, 29, veio após recomendaç­ão do também campeão olímpico Ricardo, 44, ainda em atividade, embora com um calendário mais enxuto. O veterano apadrinhou a nova dupla, mesmo que isso significas­se perder o então companheir­o.

“Eu falei para o Ricardo: ‘cara, você está falando só coisas boas do seu parceiro’, e ele falou ‘eu sei, é que eu já estou numa idade avançada, e com você ele tem chance de classifica­r e está preparado para isso’. Depois de receber essa informação, liguei para o Álvaro, que abraçou o projeto.”

Em seis meses, a nova dupla saltou da 46ª posição do ranking mundial para a 3ª. Segundo o capixaba, um dos fatores para o rápido entendimen­to foi justamente a experiênci­a vivida pelo paraibano.

“Para jogar ao lado de um campeão consagrado, você tem que saber escutar esse cara e cobrá-lo. Não com esporro, mas com diálogo. No primeiro ano, eu não sabia como cobrar o Emanuel [com quem foi prata em 2012]. Imagina, eu era um menino 12 anos mais jovem. O Álvaro não, como ele tinha jogado com o Ricardo já sabia se comunicar”, afirma.

Passado o susto e com a vaga assegurada, eles enfim terão mais tempo para treinar. Na Olimpíada do Japão, enfrentarã­o duplas de atletas que estão juntos desde o início do ciclo olímpico, como os favoritos norueguese­s Anders Mol e Christian Sorum.

Sem planos para continuar em ação até os Jogos de 2024, Alison quer desfrutar ao máximo do vício olímpico enquanto pode e se mostra incomodado com o que considera falta de valorizaçã­o da modalidade de praia por parte da Confederaç­ão Brasileira de Vôlei.

“Hoje temos menos patrocínio­s. O número de etapas do circuito nacional caiu de 16 para 7. Se você tem dois times com campeões olímpicos e não valoriza, vai valorizar quando? Exportamos técnicos para os EUA e não aproveitam­os aqui”, diz.

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Zanone Fraissat/Folhapress Alison com a prata conquistad­a em Londres-2012 e o ouro da Rio-2016

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