Folha de S.Paulo

Chefe do TJ no Acre e promotor levam multa por desmate

Francisco Djalma e Adenilson de Souza, proprietár­ios rurais em Sena Madureira, negam crime

- Fabiano Maisonnave

O presidente do Tribunal de Justiça do Acre, Francisco Djalma, e o promotor estadual Adenilson de Souza foram autuados pelo Ibama após desmatarem uma área de suas propriedad­es rurais. Ambos negam irregulari­dades e recorreram.

rio branco (ac) O presidente do Tribunal de Justiça do Acre e um promotor de Justiça do estado foram autuados por crime ambiental pelo Ibama. Proprietár­ios rurais em Sena Madureira (AC), os dois negam irregulari­dades e apresentar­am recurso.

O desembarga­dor Francisco Djalma foi multado em R$ 280 mil no dia 17 de setembro por desmatar uma área de 55,73 hectares, que foi embargada. A fazenda, de nome Valentina, tem 2.414 hectares.

Na autuação do promotor Adenilson de Souza, em 28 de agosto, o Ibama identifico­u 221,87 hectares de floresta danificada. Imagens de satélite mostram a retirada de vegetação para reabrir uma estrada e pontos de degradação, o que indicaria um processo de limpeza para pastagem. A multa foi de R$ 1.110.000.

Em ambos os casos, houve comunicaçã­o de crime ao Ministério Público Federal, além de abertura de processo administra­tivo no Ibama.

Em resposta por escrito, Djalma afirmou que a autuação se deu por conta de um equívoco do Imac (Instituto de Meio Ambiente do Acre), que emitiu uma licença de operação em maio do ano passado. Segundo ele, não constava no documento a palavra “desmate”.

O desembarga­dor afirmou que o Imac corrigiu o erro emitindo uma nova licença seis dias depois da autuação. Desta vez, a autorizaçã­o do órgão estadual prevê “a atividade de desmate corte raso, sem uso de fogo, com a utilização de máquina agrícolas ou não, em uma área de 45,22 hectares de vegetação nativa” para formar pasto.

Sobre a diferença de dez hectares entre a autuação e licença do Imac, o presidente do TJ-AC afirmou que se deve a um erro do fiscal. Ele afirmou que a sua propriedad­e respeita os 80% de área preservada (reserva legal), como prevê a legislação para imóveis rurais na Amazônia.

Por telefone, Souza afirmou que “não desmatou absolutame­nte nada”. “Houve a abertura de um ramal [estrada de terra] para tirar estaca e fazer cerca para proteger, para o gado não adentrar a mata”, disse.

Segundo ele, não há necessidad­e de licença para retirada de madeira porque a utilização seria dentro da propriedad­e e não ultrapassa­ria 20 metros cúbicos, o que configurar­ia uma atividade de baixo impacto. Sobre a estrada, afirmou que a via já existia quando comprou a fazenda e que apenas realizou uma limpeza.

Além de contestar diretament­e no Ibama, Souza entrou com um mandado de segurança pedindo o cancelamen­to das autuações. Entre outros argumentos, ele afirma que cabe ao Imac a fiscalizaç­ão de sua propriedad­e, de cerca de 4.000 hectares e dedicada à pecuária.

“O que houve ali foi um abuso. Acredito que foi uma perseguiçã­o política porque, na época, falavam no meu nome para sair candidato a procurador-geral de Justiça”, afirmou.

O Acre foi o segundo estado com maior aumento no desmatamen­to entre agosto de 2018 e julho deste ano, segundo o sistema de monitorame­nto Prodes. O cresciment­o de 55%, percentual apenas inferior a Roraima, que teve um salto de 216%.

Em discurso em Sena Madureira no dia 31 de maio, o governador do Acre, Gladson Cameli (PP), orientou os produtores rurais a não pagarem multa emitida pelo Imac.

“Se o Imac estiver multando alguém, me avisa […] Me avisem e não paguem nenhuma multa, porque quem está mandando agora sou eu”, disse. “Não vou permitir que venham prejudicar quem quer trabalhar”.

O Ibama afirma que a fiscalizaç­ão de desmatamen­to e degradação de floresta é tarefa compartilh­ada com órgãos estaduais, já que se trata de patrimônio público.

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MapBiomas Alerta e Plane Imagem acima mostra área de 55,73 hectares antes de desmatamen­to (abaixo) na fazenda do desembarga­dor Francisco Djalma
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