Folha de S.Paulo

À procura de mais turistas, Toronto investe em musicais e exposições

Novidades nas artes e na gastronomi­a celebram a pluralidad­e étnica da cidade

- Bruno Lee

toronto Acena cultural de Toronto anda movimentad­a. Acidade canadense ganhará, até o final do próximo ano, um pacotaço de novidades, que vai aproximá-la de outras referência­s nessa frente —Nova York, a uma hora e 20 minutos de avião, é uma delas.

Em fevereiro, começa a temporada de quatro meses do cultuado musical hip-hop“Hamilton ”, que fez sua estreia em 2015 nos Estados Unidos.

Criado por Lin-Manuel Miranda, o espetáculo conta por meio de rimas a história de Alexander Hamilton, um dos “founding fathers” dos Estados Unidos e primeiro secretário do Tesouro do país. A peça ganhou todo tipo de prêmio, entre eles Grammy, Pulitzer e Tony. Ainda há ingressos.

No fim de 2020, chega aos palcos “Harry Potter e a Criança Amaldiçoad­a”, que já passou por Londres, Nova York, Melbourne e San Francisco.

Outros reforços já podem ser conhecidos. No fim de maio, o acervo do AGO (Art Gallery of Ontario), um dos maiores museus das Américas, recebeu a obra “Let’s Survive Forever”, de Yayoi Kusama, a “japonesa das bolinhas”.

Trata-se de uma sala de espelhos. Do teto pendem esferas prateadas, que também se espalham pelos cantos do espaço. O resultado é que tudo se reflete em tudo, ao infinito, por isso o nome da obra.

Se as criações da artista parecem feitas para os tempos de compartilh­amento nas redes sociais, onde ela é de fato popular, “Let’s Survive Forever” exige certa agilidade dos colecionad­ores de curtidas.

Os visitantes, que entram em grupos de três ou quatro, podem ficar apenas um minuto na sala. Mal dá para viajar na bagunça de reflexos do lado de dentro e ouve-se um toque na porta, indicando o fim do tempo. Achar o melhor ângulo para a foto, então...

É preciso agendar um horário para conhecer a obra, o que só pode ser feito no próprio dia, na instituiçã­o. As filas são longas, portanto é recomendáv­el fazê-lo logo na chegada. A entrada, que inclui a visita à instalação, custa CAD 25 (R$ 79). Menores de 25 anos não pagam.

O AGO rende passeio de um dia inteiro —às terças e quintas, funciona das 10h30 às 17h; às quartas e sextas, das 10h30 às 21h; aos fins de semana, das 10h30 às 17h30.

O acervo tem aproximada­mente 95 mil obras, incluindo peças de Auguste Rodin, Claude Monet, Mark Rothko, Pablo Picasso —exposição dedicada ao período azul do espanhol estreia no final de junho— e outros pesos pesados.

Há um bom espaço reservado para artistas canadenses. É o caso do chamado grupo dos sete, formado por pintores atuantes entre 1920 e 1933 que se dedicaram a registrar as paisagens gélidas do país.

Aqui, também é possível incluir o arquiteto Frank Gehry, nascido em Toronto e vencedor do Prêmio Pritzker, responsáve­l por uma expansão no AGO finalizada em 2008.

Dois acréscimos dessa reforma merecem ser contemplad­os como outros quadros e esculturas. Os visitante dão de cara primeiro, logo após entrar no museu, com a escada espiralada, de madeira, que leva aos pisos mais altos.

O outro é a Galleria Italia, uma varanda com mais de 130 metros de extensão, cujo destaque é o janelão curvado que vai do chão ao teto, amparado por ripas de madeira.

Também no universo das artes, a cidade organizou neste ano sua primeira bienal, que vai até 1º de dezembro.

O evento, cujo mote é a questão “Qual é o significad­o de estar em uma relação?”, espalhou obras de mais de 90 artistas por Toronto —a maioria se concentra em uma antiga concession­ária de carros às margens do lago Ontário.

A localizaçã­o não é à toa. Um dos intuitos da bienal era abordar a relação de Toronto com o lago, que, de acordo com a curadora Candice Hopkins, recebeu rejeitos industriai­s e humanos por mais de cem anos. Atualmente, a orla passa por uma revitaliza­ção.

“Acho que o relacionam­ento de um lugar com o seu ecossistem­a natural, incluindo a água, é um sinal de quão saudável é a sociedade”, afirma.

Outro ponto é como o país lida com os povos indígenas que habitavam o território e o histórico de colonizaçã­o.

Boa parte do país está falando sobre o tema, de acordo com Candice, desde que relatórios produzidos pela Comissão da Verdade e Reconcilia­ção, formada em 2010, apresentar­am a conclusão de que houve “genocídio cultural”.

Com tantos assuntos do passado reverberan­do no presente, pareceu um “momento oportuno” para a realização da bienal, afirma Candice.

“Não só para Toronto ser mais reconhecid­a no exterior, mas para os moradores reconhecer­em os costumes incríveis deste lugar, onde são faladas mais de 170 línguas.”

A diversidad­e mencionada pela curadora, e elogiada mundo afora, pode ser vista por toda a cidade. Segundo o censo de 2016, 46,1% (2,7 milhões) da população de Toronto é formada por imigrantes.

Várias comunidade­s têm seus próprios bairros na cidade, mas o puro suco da plu

ralidade cultural pode ser encontrado na região de Kensington Market, colada em Chinatown, na região central.

É um bairro boêmio. Em uma esquina, o turista pode cruzar, durante o dia, com um trio de músicos fazendo uma jam session (e fumando um baseado). Ou ir ao bar Ronnie’s Local, que era frequentad­o pelo apresentad­or Anthony Bourdain (1956-2018).

Dá para explorara região no passeio gastronômi­co Chopsticks & Forks, criado por Jusep Sim, filho de imigrantes coreanos. O roteiro, com duas horas e 30 minutos de duração, faz paradas em seis restaurant­es, onde o turista prova receitas do Oriente Médio, do Caribe, das Américas do Sule do Norte, da Ásia e da Europa.

A comilança custa CAD 79 (R$ 249) por pessoa. Como o tour começa às 11h, considere pular o café da manhã. Agendament­os devem ser feitos em chopsticks­andforks.com.

Os portuguese­s formam uma das maiores comunidade­s de imigrantes do Canadá. Em Toronto, eles se reuniram no bairro Little Portugal, na parte oeste da região central.

De perfil operário no passado, a área passou por um período de decadência e hoje é frequentad­a por modernosos, que abriram por lá lojas (uma delas anuncia em uma placa a venda de roupas orgânicas para bebês), restaurant­es, bares e muitos cafés.

Ela é cortada por duas vias principais, que percorrem praticamen­te todo o centro: Queen street e Dundas street.

Desde junho, a Dundas abriga um museu a céu aberto com 18 grafites de artistas do mundo inteiro —boa parte deles são latino-americanos, mais um aceno à diversidad­e.

Um de sta queéaobra“T rês Irmãs”, da dupla chilena Paula Tikay e Aner. É um tributo aos povos indígenas que habitavam a província de Ontário, da qual Toronto é capital.

As figuras femininas no mural representa­m o milho, a abóbora e uma variedade de feijão (“climbing bean”), tradiciona­lmente cultivados pelas tribos da América do Norte.

A própria Pau latem ascendênci­a indígena: a família delaé mapuche, povo que habita o sul do Chile. Sua bandei- raé vista comfrequên cianos protestos que sacodem o país.

Ositedunda­swest. mus e um tem um mapa coma localizaçã­o de cada obra. A comunidade de artistas e moradores que mantém o museu organiza passeios guiados em inglês, francês, espanhole português. É preciso agendar com antecedênc­ia, pelo email tours@ dundas west.museum.

Acerca de cinco quilômetro­s dali, no bairro deYorkvil- le, que concentra hotéis e gri- fes de luxo, foi inaugura doem novembro o primeiro Eataly do Canadá. São trêsrest aurantes enove bares e quiosque sem uma área de4.600m ².

Essa onda de novidades na cultura ena gastronomi­a combina, decerta maneira, coma atual fase da própria Toronto.

Fundada em 1793, portanto jovem, acidade está em obras. Guindastes estão por todos os lados. Em quatro anos, sua cara provavelme­nte será diferente da que tem em 2019.

Um dos poucos lugares que passou por mudanças mas manteve traços do passado é o Distillery District, no centro, a poucos metros da orla.

Por lá funcionava uma fábrica de uísque, a Gooderham & Worts, fundada em 1832. Tombado, o complexo abriga desde 2003 um centro de entretenim­ento, com espaço para shows, lojas, bares e cafés.

Vale dar um pulo na Soma Chocolate, que faz a guloseima artesanalm­ente, a partir de cacau de diversos países, incluindo Brasil, República Dominicana e Madagascar. A produção varia de acordo com a disponibil­idade de matéria-prima nesses países. Assim, tal qual Toronto, cada visita à loja pode ser diferente.

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Divulgação Instalação ‘Let’s Survive Forever’, da japonesa Yayoi Kusama, que integra o acervo permanente do museu AGO, em Toronto
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 ?? Fotos Bruno Lee/Folhapress ?? Murais ‘A Sonhadora’, de Emmanuel Jarus e Rudjer Bosiljevac (esq.), e ‘Três Irmãs’, dos chilenos Paula Tikay e Aner, no museu a céu aberto da Dundas street
Fotos Bruno Lee/Folhapress Murais ‘A Sonhadora’, de Emmanuel Jarus e Rudjer Bosiljevac (esq.), e ‘Três Irmãs’, dos chilenos Paula Tikay e Aner, no museu a céu aberto da Dundas street
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De cima para baixo, mensagem em café do bairro de Kensington Market que diz ‘Toronto é para todos’; pátio do Distillery District, antiga fábrica de uísque que abriga lojas, restaurant­es e cafés, incluindo a Soma Chocolate
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