Folha de S.Paulo

Desigualda­de de oportunida­des e educação

Ioeb induz colaboraçã­o entre escola, família e Estado

- Carvall Tereza Perez Presidente da Comunidade Educativa Cedac

Avaliar a qualidade de educação tem significad­o muitas vezes acompanhar as notas dos estudantes em provas. O desempenho de quem frequenta o sistema educaciona­l é importante, mas notas, boas ou ruins, falam não só de quem fez a prova, como também de uma complexa engrenagem que funciona para que 48 milhões de alunos aprendam.

Para iluminar a questão, o Índice de Oportunida­des da Educação Brasileira (Ioeb) avalia a qualidade do ecossistem­a de educação de um determinad­o território e explicita esforços do poder público e da sociedade civil para que os cidadãos que lá vivem possam se desenvolve­r. Com isso, amplia a visão sobre a educação para além do Ideb (Índice de Desenvolvi­mento da Educação Básica), que capta fluxo escolar e proficiênc­ia em leitura e matemática.

Os resultados de 2019 (com dados de 2018) indicam um avanço, ainda que tímido, do nível de oportunida­des ofertadas. Em uma escala de 1 a 10, a nota dos municípios brasileiro­s subiu de 4,67 em 2017 para 4,71 em 2019, ano que marca a terceira edição do índice. Ao considerar a trajetória desde 2015, três em cada quatro (76%) avançaram, 5% estão estáveis e 20% recuaram. O índice está disponível para 4.909 municípios, incluindo capitais, todos os estados e o Distrito Federal (ioeb.org.br).

Com base no modelo estatístic­o utilizado pelos economista­s Reynaldo Fernandes e Fabiana de Felício, que também idealizara­m o Ideb, o Ioeb faz um recorte do panorama de oportunida­des educaciona­is ofertadas na educação formal.

É composto de indicadore­s de insumos (escolarida­de dos professore­s; horas-aula; experiênci­a dos diretores; atendiment­o na educação infantil) e resultados (Ideb ajustado dos anos iniciais e finais do ensino fundamenta­l e taxa líquida de matrícula do ensino médio).

Um diferencia­l do Ioeb é incluir crianças e jovens que estão fora da escola, muitas vezes invisíveis em outros índices. Outro avanço é neutraliza­r a influência da condição socioeconô­mica das famílias no desempenho escolar. A contribuiç­ão do Ioeb está, portanto, em traduzir uma visão sistêmica sobre as condições a serem assegurada­s para que crianças e jovens possam entrar na escola, lá permanecer e ter sucesso da educação infantil ao ensino médio.

Nenhum índice é suficiente para fazer um diagnóstic­o da educação. O conceito de oportunida­de do Ioeb carrega o desejo da equidade, mas é fundamenta­l entender por onde passam as desigualda­des. O Indicador de Desigualda­des e Aprendizag­ens (IDeA) aponta a desigualda­de de aprendizag­em entre grupos sociais, definidos por nível socioeconô­mico, raça ou gênero.

Ao explicitar distorções, Ideb, Ioeb e IDeA nos provocam a perseguir caminhos para que todos possam usufruir de seus direitos.

Essa empreitada não é só do diretor, do secretário de Educação ou do prefeito. Ao tratar da educação básica como um todo, o Ioeb se revela um ótimo indutor da colaboraçã­o, entre escola e família e entre municípios e estados.

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