Dólar mantém trajetória de alta e fecha a R$ 4,258
BC volta a intervir e detém em parte pressão da moeda, que se valoriza 0,4%
são paulo A cotação do dólar bateu o terceiro recorde seguido nesta quarta-feira (27), a R$ 4,258, alta de 0,4%. Desde segunda (25), a moeda renova sua máxima nominal —sem levar em conta a inflação— diariamente. O dólar turismo está a R$ 4,43 na venda, segundo cotação da Refinitiv.
Entre os principais motivos para a alta da moeda americana estão a saída de dólares do país, a frustração com o leilão do pré-sal e a fala do ministro da Economia, Paulo Guedes, na segunda (25), de que “é bom de acostumar com câmbio mais alto por um bom tempo”.
Investidores viram conforto por parte do governo no dólar acima de R$ 4,20, o que abriu espaço para sua valorização, com o mercado apostando na alta, de modo a testar o patamar limítrofe para atuação do Banco Central.
Desde o leilão do pré-sal, sem a esperada participação de estrangeiros e entrada de dólares no país, a moeda americana acumula alta de mais de 6%.
Tanto na terça (26) quanto nesta quarta, a autoridade interveio ao redor de R$ 4,27. Na véspera foram feitos dois leilões à vista, que fizeram a moeda baixar de R$ 4,277, para R$ 4,2410.
Na sessão desta quarta, o BC vendeu 3.000 contratos de swap cambial reverso, somando US$ 150 milhões, além de até US$ 785 milhões da moeda à vista. Adicionalmente, a autarquia vendeu 12.700 contratos de swap cambial tradicional em rolagem do vencimento janeiro 2020.
Além dessas operações, que haviam sido anunciadas na véspera, o BC fez uma venda extraordinária de dólares à vista por volta das 12h40, quando o dólar estava a R$ 4,265, levando a cotação a perder força. Com a alta contida, o real foi a quarta moeda emergente que mais se desvalorizou na sessão, atrás dos pesos chileno e colombiano e do novo leu romeno.
O diretor de Política Monetária da instituição, Bruno Serra, afirmou nesta quarta que o BC deve continuar a oferecer a venda de dólares no mercado spot (a vista) conjugada com contratos de swap reverso (dólar futuro) neste final do ano, quando sazonalmente há maior demanda por liquidez pela remessa de lucros e dividendos ao exterior e pelo aumento da procura pelo dólar turismo.
No entanto, Serra destacou que “uma hora a gente vai ter que interromper isso e ver como o mercado volta a funcionar sem [esse] instrumento, acho que é saudável [rever a política]. Vamos ter que avaliar ao longo do tempo qual vai ser o momento adequado”, afirmou Serra durante evento da Apimec (associação de profissionais do mercado de capitais), em São Paulo.
O diretor acrescentou que intervenções pontuais em venda de dólares no mercado à vista e vendas de swap “seguem na mesa como instrumentos que também vão ser usados quando o mercado tiver mau funcionamento”.
Serra reforçou discurso feito pelo presidente do BC, Roberto Campos Neto, na véspera, dizendo que as atuações do BC não visam uma meta para a taxa de câmbio.
Em visita a Manaus nesta quarta (27), o presidente Jair Bolsonaro evitou opinar sobre a alta do dólar e reafirmou colocar sua confiança no trabalho do ministro Paulo Guedes (Economia) e em Roberto Campos Neto (Banco Central).
“Já falei para vocês que quem entende de economia é o Paulo Guedes, o Pedro Guimarães [presidente da Caixa], o Roberto Campos. Eles que tratam deste assunto. Dei carta branca para eles. O Brasil tem que dar certo”, disse.