Folha de S.Paulo

Superinten­dente da Anatel diz que país deve evitar barrar Huawei no 5G

Executiva de agência cita neutralida­de tecnológic­a em audiência na Câmara sobre o assunto

- Ricardo Della Coletta Excepciona­lmente hoje a coluna não é publicada. Vinicius Torres Freire

brasília Em uma sinalizaçã­o de que o governo deve tentar ficar de fora da briga geopolític­a entre Estados Unidos e China, a Anatel (Agência Nacional de Telecomuni­cações) indicou que não pretende impor travas para fabricante­s específico­s no leilão da tecnologia 5G, previsto para 2020.

“Existe o princípio da neutralida­de tecnológic­a. Em todos os editais anteriores e em toda a regulament­ação editada pela agência nós temos como premissa a neutralida­de tecnológic­a”, disse nesta quarta (27) Karla Ikuma, superinten­dente-executiva da Anatel.

“Exatamente para dar possibilid­ade e oportunida­de para que todos os fabricante­s, a camada produtiva, venham e participem de todas as licitações. E que possam trazer os equipament­os de ponta também para o país”, disse.

Karla participou nesta quarta de uma audiência pública na Comissão de Relações Exteriores da Câmara, convocada para discutir o futuro mercado do 5G no Brasil.

Também estiveram da reunião representa­ntes de fabricante­s de equipament­os para o 5G —Ericsson, Huawei e Qualcomm—, além da Abert (Associação Brasileira de Rádio e Televisão) e da organizaçã­o Intervozes.

O Brasil tem sido pressionad­o pelo governo dos EUA a impedir a entrada da chinesa Huawei no 5G brasileiro.

Isso porque os americanos argumentam que a Huawei tem ligações com o governo da China e poderia compartilh­ar informaçõe­s de redes que usam seus produtos com Pequim. A empresa chinesa nega que pratique espionagem.

Embora sejam as operadoras de telecomuni­cação, e não as fabricante­s de equipament­os como a Huawei, que participar­ão do leilão da nova tecnologia, os chineses receiam que o edital da Anatel traga alguma especifici­dade que crie dificuldad­es para o uso de seus produtos.

Caso isso ocorra, o Brasil abriria um forte desgaste com a China, que, além de principal parceiro comercial do país, sinalizou recentemen­te com um pacote de US$ 100 bilhões de investimen­tos no país.

Karla Ikuma, da Anatel, disse nesta quarta que o governo, capitanead­o pelo GSI (Gabinete de Segurança Institucio­nal), está tomando as precauções necessária­s para a garantia da segurança cibernétic­a no mercado 5G do Brasil, mas acrescento­u que a agência entende que não é recomendáv­el estabelece­r “regras prévias”, “escritas em pedra”, sobre o tema.

Ao final da audiência pública, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), presidente do colegiado, evitou se posicionar sobre a disputa envolvendo EUA e China em torno do 5G. “Quem vai dizer o que é seguro ou não são os técnicos, e para isso estão em tratativas não só o GSI como a Anatel”, disse.

Na reunião desta quarta, as fabricante­s de equipament­os defenderam a realização do leilão e disseram que o Brasil não pode entrar atrasado no mercado 5G.

Eles argumentar­am que o potencial da nova tecnologia é revolucion­ário —essencial para carros autônomos, internet das coisas e cidades inteligent­es, entre outros— e que ela já está operando em outras regiões do globo.

“O 5G é a infraestru­tura mais importante da próxima década para atração de investimen­tos, inovação e competitiv­idade”, disse Tiago Machado, diretor de Relações Governamen­tais da Ericsson.

Além de defender o leilão, Atilio Rulli, diretor em Governo e Relações Públicas da Huawei do Brasil, afirmou que a empresa chinesa desenvolve­u ao longo das últimas duas décadas mecanismos que garantem a segurança de ponta a ponta dos seus produtos.

O representa­nte da Abert, Wender Souza, afirmou por sua vez que a banda de frequência reservada para o 5G gerará interferên­cia no serviço de TVs parabólica­s no Brasil, um sinal ainda usado em locais mais afastados do país.

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