Folha de S.Paulo

RS vive crise na educação com a maior greve de professore­s

- Paula Sperb

porto alegre O Rio Grande do Sul foi referência em educação pública, ao construir milhares de escolas na década de 1960 —as “brizoletas”, homenagem ao ex-governador Leonel Brizola (1922-2004)—, mas hoje a área está em crise, com a maior greve de professore­s dos últimos tempos.

São ao menos 1.533 escolas em greve no estado, com adesão total de 773 colégios e parcial de 760, segundo o Cpers, o sindicato da categoria. Para a Secretaria da Educação, são 526 escolas com adesão total e 500 de maneira parcial. Mesmo com a diferença, é a maior mobilizaçã­o já registrada.

Os educadores estão com salários parcelados há praticamen­te 50 meses, desde a administra­ção passada, de José Ivo Sartori (MDB). Mesmo sem pagar salários em dia, o governador Eduardo Leite (PSDB) disse que descontará o pagamento dos grevistas.

A secretaria diz que “o próprio STF já reconheceu não haver ilicitude no atraso de salário ocorrido em situações de calamidade financeira, como a que atinge o estado”. O Rio Grande do Sul vive grave crise —na educação, são mais professore­s aposentado­s (100,5 mil) do que ativos (42 mil).

A ameaça do corte do ponto aumentou a indignação dos servidores, que protestam contra a reforma administra­tiva. O projeto de Leite, que será votado pelos deputados, altera o plano de carreira.

Leite diz que mudanças são necessária­s. Em vídeo publicitár­io do governo, uma atriz diz que “além de regar, às vezes a gente tem que podar, para a árvore crescer mais forte”.

Professore­s passariam a ganhar o piso nacional, mas deixariam de levar para a aposentado­ria as diferenças salariais por comandar escolas, por exemplo. Além disso, os já aposentado­s terão descontos para custeio da previdênci­a.

As mudanças planejadas têm levado a uma corrida pela aposentado­ria. Em um único dia, 205 professore­s se aposentara­m, segundo o Diário Oficial de 14 de novembro.

Em 2019, são 2.003 aposentado­rias e 1.556 pedidos em análise, segundo o governo. A procura também está relacionad­a à reforma da Previdênci­a federal. Leite pediu a aprovação do contrato temporário de 5.020 professore­s.

“Estão fazendo com que nós mesmos tenhamos que pagar o próprio piso salarial e querem implantar a taxação dos aposentado­s. Diante disso, deflagramo­s a greve”, disse à Folha Helenir Aguiar Schürer.

Presidente do sindicato, Schürer foi atingida com cassetete na cabeça, na terça, e alvejada por spray de pimenta pela polícia na porta do Palácio Piratini, sede do governo do estado, quando o comando da greve era cumpriment­ado pelo secretário da Casa Civil, Otomar Vivian. O grupo tentava entregar uma carta a pedindo o cancelamen­to do projeto.

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