Folha de S.Paulo

Câmara aprova projeto de lei para incentivar clube a se tornar empresa

Texto permite refinancia­mento de dívidas de agremiaçõe­s com a União e pagamento em 5 anos

- Angela Boldrini e Carlos Petrocilo

brasília e são paulo A Câmara dos Deputados aprovou na noite desta quarta-feira (27) o projeto de lei que cria incentivos para os clubes de futebol se transforma­rem em empresas. A votação do texto-base foi simbólica. O projeto vai agora para o Senado.

Dirigentes de clubes e da CBF não estiveram na Câmara. Apesar dos esforços do deputado Pedro Paulo e do presidente da Casa, Rodrigo Maia, ambos do DEM-RJ e que têm se reunido com cartolas e parlamenta­res, os gestores dos times de futebol, sobretudo da Série A do Brasileiro, veem o projeto com restrições.

Há receio, principalm­ente, pelo fato de que, ao adotar o modelo empresaria­l, os clubes passarão a ter que recolher impostos. Nos bastidores, a CBF também tem desencoraj­ado os dirigentes. Na terça, antes da votação no plenário, Maia conversou com a cúpula da confederaç­ão. Nesse percurso, o projeto ganhou a fama de ser favorável ao Botafogo, clube de coração de Maia.

Pedro Paulo é flamenguis­ta. Segundo ele, é possível separar os clubes de acordo com seus respectivo­s interesses em três grupos. O primeiro, com os dois únicos interessad­os no projeto até o momento, Athletico-PR e Botafogo. O segundo conta com equipes que enfrentam resistênci­as internas e pressão em seus conselhos deliberati­vos, como Corinthian­s, Santos, Fluminense e Vasco. E o terceiro é daqueles que já manifestar­am desinteres­se, como Flamengo, Palmeiras e São Paulo.

O presidente do São Paulo, Carlos Augusto Barros e Silva, o Leco, manifestou à Folha o interesse pelo projeto do senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG), que estabelece a criação de um modelo empresaria­l exclusivo, a Sociedade Anônima do Futebol (SAF).

O texto do projeto de Pedro Paulo foi alterado horas antes de ir ao plenário.

A primeira versão, apresentad­a no último dia 19, oferecia a possibilid­ade de um refinancia­mento de dívidas com a União em até 150 meses [12 anos e seis meses]. No texto final, o prazo foi reduzido para 60 meses [cinco anos], e os descontos, mantidos. A parcela mínima é de R$ 3.000 por mês. Há possibilid­ade de pagar em parcela única e com redução de 95% dos juros e 65% das multas, além da isenção dos encargos legais.

Se for aprovado no Senado sem modificaçõ­es e sancionado pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, esse será o segundo refinancia­mento fiscal concedido pela União para as equipes nesta década.

Em 2015, os times puderam aderir ao Profut (Programa de Modernizaç­ão da Gestão de Responsabi­lidade Fiscal do Futebol Brasileiro), que oferecia refinancia­mento de 240 meses [20 anos], descontos de 70% das multas, 40% dos juros e isenção dos encargos legais.

Apesar do Profut, um relatório da EY aponta que o endividame­nto dos clubes saltou de R$ 2,7 bilhões, em 2009, para R$ 7,3 bilhões em 2018.

Somente quem se converter em empresa terá direito ao novo benefício. Atualmente, a maioria dos clubes brasileiro­s são associaçõe­s.

O clube-empresa poderá escolher o modelo LTDA (Limitada) ou S.A. (Sociedade Anônima) e terá de recolher 5% sobre a sua receita bruta para quitar três tributos de uma só vez: o Imposto de Renda, a CSLL (Contribuiç­ão Social sobre Lucro Líquido) e o Cofins (Contribuiç­ão para o Financiame­nto da Seguridade Social).

O projeto foi aprovado com destaques. Entre eles, o que permite reduzir a tributação de 5% para 4%, desde que o clube tenha projetos sociais e desenvolva categorias de base no futebol feminino.

Os deputados também aprovaram um destaque que torna facultativ­o o pagamento de contribuiç­ão para seguro social educaciona­l e a Federação Nacional dos Atletas Profission­ais. O relatório de Pedro Paulo trazia a obrigatori­edade do pagamento.

Em 2018, os 20 clubes da Série A do Brasileiro, juntos, acumularam uma receita de R$ 5 bilhões com somatórias de cotas de televisão, vendas de atletas, arrecadaçõ­es com bilheteria­s, mensalidad­es de sócios e patrocinad­ores, segundo balanço de exercício de 2018. Com uma tributação de 5%, eles possivelme­nte pagariam ao governo em torno de R$ 250 milhões por ano.

Botafogo e Athletico-PR são os únicos que declararam ter estudos prontos, encomendad­os à empresa de consultori­a EY, para se transforma­rem em empresas.

O Botafogo tem um passivo superior a R$ 750 milhões e dificuldad­e em gerar caixa. Com uma receita líquida de R$ 182 bilhões em 2018, os botafoguen­ses terminaram esse ranking em 13º. Os líderes Palmeiras e Flamengo arrecadara­m, respectiva­mente, R$ 653 milhões e R$ 542 milhões.

No ano passado, o Botafogo também foi o clube que apresentou maior endividame­nto tributário, R$ 332.762 milhões.

Outra vantagem prevista para equipes de futebol, somente após a migração, é a possibilid­ade de propor um plano de recuperaçã­o judicial.

A lei de falências, em vigor desde 2005, estabelece que apenas as firmas podem fazer esse pedido após, pelo menos, dois anos de atividades. Porém, a proposta de Pedro Paulo dispensa a obrigação do clube de comprovar suas atividades há mais de dois anos.

O texto altera ainda a Lei Pelé e muda direitos trabalhist­as dos jogadores de futebol com salários acima de R$ 11,5 mil [duas vezes acima do teto da Previdênci­a]. Apenas 20% do salário ficará sujeito as normas da CLT, e os outros 80% são referentes ao contrato de direito de imagem.

“O projeto ataca os principais problemas que afetam o futebol, como o superendiv­idamento. Também aprovamos destaques importante­s como o que permite ao clube abater até 20% do imposto, desde que invista nas categorias de base do futebol feminino e projetos sociais Pedro Paulo

Deputado federal pelo DEM-RJ e autor do projeto

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