Folha de S.Paulo

Nova série mostra Maradona em estado puro e inclui até xingamento a Felipão

- Bruno Rodrigues

são paulo Darío Benedetto recebe de frente para o gol, limpa o zagueiro Luan e chuta forte para superar Weverton e marcar o segundo gol do Boca Juniors (ARG) sobre o Palmeiras, no jogo de ida da semifinal da Libertador­es de 2018.

“Gol! Gol! Vamos, hijo de puta!”, grita Diego Armando Maradona, que não está em seu camarote na Bombonera, mas sim dentro da sala da comissão técnica do Dorados de Sinaloa, do México, clube que o contratou para ser treinador.

Ainda eufórico, Maradona emenda: “Scolari, botón! Scolari, botón!” (botón é um xingamento da gíria portenha que pode significar “cagueta”, também usado para se referir a policiais), seguido de uma frase com palavras enroladas que termina em “la puta madre que te parió”.

Estas cenas do ídolo argentino podem ser vistas em nova série da Netflix, “Maradona no México”, que estreou neste mês de novembro. Em sete capítulos, com aproximada­mente 30 minutos cada um, o fã de futebol enxerga, mesmo no contexto específico de seu trabalho no Dorados, as glórias, dores e contradiçõ­es de toda uma carreira.

Contratado pelo clube mexicano em 2018, o técnico chega com a missão de subir a equipe para a primeira divisão.

As imagens dos treinos e as conversas no vestiário evidenciam o que todos mais ou menos já sabem sobre as qualidades de Maradona como treinador. O argentino influencia muito pouco na parte tática, função destinada ao seu auxiliar Luis Islas —terceiro goleiro da Argentina no Mundial de 1986.

Mas impression­a a forma como sua presença tem ascendênci­a sobre os jogadores. No elenco, ele encontra quatro argentinos. O goleiro Gaspar Servio e o atacante Jorge Córdoba são os mais impactados pela figura do compatriot­a e ídolo.

O zagueiro mexicano Jesús Chávez chega a cogitar colocar o nome do treinador no filho que está por nascer, sugestão rechaçada por sua esposa: “Nem vem”.

Mesmo com dificuldad­e para encontrar as palavras, afinal nunca teve enorme aptidão como orador, os discursos de Maradona no vestiário injetam ânimo nos atletas.

Ele pega o time nas últimas posições e leva a equipe até a decisão do Apertura, contra o Atlético San Luis. Em praticamen­te todas as vitórias, a celebração é feita ao som de cumbia e termina com o técnico dançando (até onde seus joelhos permitem).

No jogo de ida das finais, revoltado com a não marcação de um pênalti, Maradona discute com a arbitragem e o técnico do time adversário.

Expulso de campo, ele deixa o gramado fazendo o sinal da cruz e dá um beijo na grama. Ao chegar à sala da comissão técnica, diz para o câmera: “O técnico do San Luis me mandou calar a boca. E eu disse, ‘É mesmo? Sabe quantas partidas eu joguei? E você, tem que apresentar identidade para entrar na sua casa, filho da puta!’”, conta Maradona, antes de dar um tapa na mesa.

Ao episódio da discussão com o técnico rival somamse outros que mostram o exjogador contrapond­o a imagem do ídolo de origem simples, que agradece os massagista­s do clube por tratarem seus joelhos, castigados pelas várias infiltraçõ­es durante a carreira, e o showman que gosta dos holofotes, mas que nem sempre sabe lidar da melhor forma com eles.

Às vésperas de um jogo, o argentino vai até a grade autografar camisas e bonés. Os seguidos gritos de “Diego! Diego!” lançados por crianças impacienta­m o técnico, que responde: “Se continuare­m gritando ‘Diego’, vou embora, ok? Estou aqui respeitand­o vocês, então me respeitem também.”

Maradona no México

Argentina, EUA e México, 2019. Direção: Angus Macqueen. 16 anos. Disponível na Netflix (7 episódios)

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Divulgação Netflix Em cena do documentár­io, Maradona celebra no vestiário do Dorados

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