Folha de S.Paulo

Beck se encontra no minimalism­o de Pharrell em seu 14º disco

- LB

Hyperspace

Beck. Gravadora: Capitol. Nas plataforma­s digitais *****

Beck não está no auge de sua carreira. Ainda que tenha levado o principal prêmio no Grammy, de disco do ano, há apenas quatro anos, aquela não foi uma premiação usual.

Em 2015, a Academia de Gravação acabou preterindo artistas mais populares —Beyoncé era um das concorrent­es— para reconhecer um álbum com pouco apelo comercial.

O disco premiado, “Morning Phase”, era um resgate do folk reflexivo de “Sea Change”,

de 2002, um dos melhores trabalhos de Beck. Em 2017, contudo, ele mudou os rumos.

Em “Colors”, Beck passou a perseguir um pop açucarado, em uma busca por diversão tão imediata quanto o título do álbum sugeria.

No novo disco, ele também adianta as intenções no título. “Hyperspace” é grandioso em suas ambiências, continuand­o o flerte com o pop eletrônico, mas, desta vez, sem ignorara introspecç­ão conhecida dos melhores trabalhos de Beck.

As principais mudanças na abordagem vieram comum novo produtor. Em“Colors”, Beck colaborou com Greg Kurstin, que traz obras de Adele e Paul McCartney no currículo. Em “Hypersapce”, seu principal parceiro é Pharrell Williams.

Em uma união que provavelme­ntepararia o mundo do pop alternativ­o nos anos 2000 — quando eles viviam os melhores momentos de suas carreiras—,Beck parece ter encontrado aforma para ainda soar original em seu14º disco.

Se em“Colors” ele experiment­ava como trape aEDM onipresent­es nas paradas de sucesso, agora, as músicas combinam mais organicame­nte elementos do hip-hop, do folk e até do space rock.

Masa contribuiç­ão mais importante dePharrell— que assinas etedas11fa ixas—foi enxugando os arranjos. Em músicas como “Uneventful Days”, ele transforma as composiçõe­s ortodoxas de Beck em pop de sintetizad­ores viajados, graves secos e um clima atmosféric­o —sem que deixem de soar como composiçõe­s de Beck.

A lembrança dos primeiros álbuns do Coldplay em “Stratosphe­re” não é coincidênc­ia. O próprio vocalista da banda, Chris Martin, fornece backing vocals nesta balada que resgata a letargia de “Morning Phase”.

Esta dinâmica segue em “Dark Places”, na qual Beck imerge na desesperan­ça de uma madrugada solitária. Mas essas músicas não refletem apenas o momento atual, e sim grande parte da carreira dele.

Mesmo em seus discos mais obscuros, Beck nunca escondeu o apreço por fazer música que soe palatável, ainda que apenas como embalagem para reflexões de ordem pessoal. Em “Hyperspace”, há uma confluênci­a muito mais coerente dessas ideias.

Mas, ainda que a produção de Pharrell indique o caminho, o álbum está cheio de momentos pouco inspirados. Com uma slide guitar, “Saw Lightning”, por exemplo, parece uma tentativa vazia de recriar hits como “Loser”.

Em termos de letra, Beck também não está na ponta dos cacos. Em geral, o disco trata o fim de um relacionam­ento, mas não parece contemplar a confusão de sentimento­s que as letras sugerem.

Ainda que o minimalism­o de “Hyperspace” soe como uma evolução na produção recente de Beck, o disco não tem tantas canções memoráveis para marcar uma discografi­a tão abrangente quanto a dele.

Interessan­te o suficiente para saciar os fãs de Beck, “Hyperspace” não indica novidades para a música pop atual. O que instiga a imaginação para o que uma colaboraçã­o com Pharrell poderia gerar, tivesse acontecido 15 anos atrás.

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