Comédia francesa faz gargalhar sem incorrer na paródia
Se fosse produzido nos anos 1980, “Um Amante Francês” certamente teria Gérard Depardieu no papel principal.
O veterano gigolô Alex seria perfeito para ele, com seu jeito presunçoso e malandro.
O filme parece realmente com uma produção rodada há 20 ou 30 anos. E isso é um elogio. Tira seu humor de situações bem construídas, de personagens que são vigaristas simpáticos. Nada de paródias ou esse humor de referências que infesta o cinema hoje.
Kad Merad, que escreveu o roteiro junto com o diretor Oliveir Baroux, interpreta Alex, quase cinquentão. Desde jovem, seduziu idosas ricaças, vivendo muito bem como recompensa por sua performance sexual. Até encontrar Denise, viúva milionária.
E assim, 28 anos depois, os dois ainda estão juntos, e Alex não tem do que reclamar. Mora numa mansão e espera Denise morrer para ficar com tudo. Mas ela resolve trocá-lo por um homem mais jovem.
Ele acaba indo morar com a irmã. Sarah é viúva, odeia Alex e tem um filho de dez anos, Hugo, um nerd adorável. Para desespero da mãe, o garoto começa a receber lições do tio, preocupado porque Hugo não sabe lidar com as meninas. Então Alex conhece Samantha, avó riquíssima de uma colega do sobrinho.
O filme tem pelo menos cinco ou seis cenas de arrancar gargalhadas, começando pela abertura. Mas o humor está pulverizado pela narrativa.
“Um Amante Francês”, no entano, só funciona porque Kad Merad acerta demais. Às vezes é ingênuo e imbecil, e isso faz com que a plateia torça por ele.
“Aspirantes”, longa de estreia de Ives Rosenfeld, esteve no Festival do Rio de 2015, mas só agora chega ao circuito comercial. E não há nada no filme que justifique esse atraso.
Temos dois amigos da pequena Saquarema (RJ) que buscam um lugar ao sol no futebol profissional. Bento (Sérgio Malheiros) é obviamente talentoso, e já está com um futuro armado. Júnior (Ariclenes Barroso) atravessa uma crise com a gravidez da namorada Karine (Julia Bernat), o que atrapalha seu rendimento no time amador da cidade.
O longa nem sempre é bemsucedido, mas há momentos em que uma verdade rara é alcançada. Nas cenas de futebol, por exemplo. Não é fácil filmar esse esporte traiçoeiro. O que Rosenfeld consegue, com o uso da câmera lenta e o ângulo aproximado, é um assombro.
São imagens que nos levam a perceber também a derrocada de Júnior a partir de seu medo do futuro e da frustração. O orgulho faz com que ele recuse a ajuda do amigo, cujo sucesso aumenta seu ciúme.
O entendimento da amizade entre os dois e das coisas que não controlamos, mas podem dominar nossa mente, é igualmente raro em um diretor jovem. Por isso relevamos a fragilidade de alguns diálogos.
Em determinado momento, Karine discute com a mãe (Karine Telles), depois com o padrasto, todos observados por Júnior, mais próximo da câmera e o único em foco. O diálogo não é grande coisa, mas o enquadramento o transforma.
No final da cena, Karine senta em frente a ele, dentro da área focal, denotando o interesse do diretor, a juventude, enquanto a geração mais velha permanece fora do foco.
É por essas soluções de encenação que os diálogos não incomodam tanto. E é pelas cenas impressionantes (e impressionistas) de futebol que o filme permanece conosco.