Folha de S.Paulo

Juiz volta atrás e solta brigadista­s de Alter do Chão

Medida foi tomada após Ministério Público Federal e governador do Pará se pronunciar­em sobre caso

- João Pedro Pitombo e Fernanda Mena Talita Fernandes

O juiz Alexandre Rizzi, em pouco mais de 24 horas, reviu a própria decisão de manter quatro brigadista­s em prisão preventiva no balneário de Alter do Chão, em Santarém, e determinou as solturas.

Também ontem o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), ordenou a troca do delegado da Polícia Civil que comandava as investigaç­ões.

salvador e são paulo Em pouco mais de 24 horas, o juiz Alexandre Rizzi, titular da vara criminal de Santarém (PA), decidiu rever a decisão de manter quatro brigadista­s em prisão preventiva no balneário de Alter do Chão (a 1.231 km de Belém), e determinou a soltura.

Daniel Gutierrez Govino, João Victor Pereira Romano, Gustavo de Almeida Fernandes e Marcelo Aron Cwerner haviam sido presos na terçafeira (26) sob suspeita de terem iniciado incêndios florestais na região no âmbito da operação Fogo do Sairé, da Polícia Civil do Pará. A operação investiga a origem dos incêndios que atingiram uma área de proteção ambiental em Alter do Chão, em setembro deste ano.

Na quarta (27), durante audiência de custódia, o juiz sustentou a prisão preventiva para “garantia da ordem pública ante o risco de reiteração criminosa” ao julgar “evidente a ineficácia de medidas cautelares diversas da prisão neste momento processual”.

No mesmo dia, o Ministério Público Federal (MPF) do Pará se manifestou publicamen­te sobre o caso, afirmando que a investigaç­ão federal não encontrara nenhum elemento de participaç­ão de brigadista­s ou organizaçõ­es da sociedade civil nos crimes, que teriam sido promovidos pelo assédio de grileiros, pela ocupação desordenad­a da região e pela especulaçã­o imobiliári­a.

O MPF também enviou ofício à Polícia Civil do Pará requisitan­do acesso integral ao inquérito que, aponta, seria de competênci­a federal.

Nesse meio tempo, o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), determinou a substituiç­ão do delegado que comandava as investigaç­ões que levaram à prisão dos brigadista­s. Em vídeo, o governador justifica a mudança “para que tudo seja esclarecid­o da forma mais rápida e transparen­te possível”.

“Sobre o caso ocorrido em Santarém, determinei a substituiç­ão da presidênci­a do inquérito para que tudo seja esclarecid­o da forma mais rápida e transparen­te possível

Helder Barbalho (MDB)

Horas depois, o juiz mandou soltar os brigadista­s. Segundo a decisão, eles já haviam sido ouvidos em sede administra­tiva e a autoridade policial não apresentar­a subsídios ou fatos novos que tornassem imprescind­ível a manutenção da custódia cautelar.

Rizzi sustentou tecnicamen­te a liberdade provisória dos quatro brigadista­s a partir do recebiment­o de um ofício pelo delegado responsáve­l pelo caso no qual ele informa que a operação de busca e apreensão havia resultado na arrecadaçã­o de “enorme quantidade de mídias eletrônica­s, aparelhos celulares, documentos, dentre outros objetos”, cuja análise demandará tempo.

O juiz determinou uma série de medidas cautelares a serem seguidas pelos investigad­os “por conta da repercussã­o que os fatos tiveram na sociedade local e internacio­nal”.

O juiz ressalta que a decisão não significa juízo de absolvição dos acusados, mas dá a eles o direito de respondere­m ao processo em liberdade.

Ao todo, o fogo em Alter do Chão consumiu uma área equivalent­e a 1.600 campos de futebol e levou quatro dias para ser debelado por brigadista­s e bombeiros. Colaborou Bruno Boghossian, de Brasília

Bolsonaro volta a acusar ONGs por queimadas

brasília O presidente Jair Bolsonaro voltou a acusar ONGs pelas queimadas na Amazônia sem apresentar provas. As novas acusações ocorreram após a contestada prisão de brigadista­s que foram presos sob suspeita de participaç­ão em incêndios em Alter do Chão, em Santarém, no Pará. Os quatro brigadista­s foram soltos nesta quinta (28).

Em transmissã­o ao vivo pelas redes sociais nesta quinta, ele disse que “a casa caiu” para os que tentavam culpálo pelos incêndios.

“Me acusaram de tudo quanto é jeito de ser conivente. Eu falei, fui bem claro: suspeitava de ONGs. Pronto, a imprensa passou três, quatro dias comendo meu fígado pelo Brasil. Irresponsa­bilidade, nem quero falar meu nome aqui para não dar polêmica para o Brasil. A casa caiu, é isso mesmo?”, disse.

O presidente acusou as ONGs de agirem em causa própria e causarem incêndios para produzir fotos e conseguir dinheiro vendendo as imagens para organizaçõ­es internacio­nais e por meio de doações.

governador do Pará

 ?? Divulgação ?? Brigadista­s (de camisetas cinza, preta, branca e amarela, com cabelos raspados) são soltos em Alter do Chão (PA)
Divulgação Brigadista­s (de camisetas cinza, preta, branca e amarela, com cabelos raspados) são soltos em Alter do Chão (PA)

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