Folha de S.Paulo

Dia de decisão

Palmeiras e Flamengo já foi inimizade de uniformiza­da e virou rivalidade

- Paulo Vinícius Coelho Jornalista, autor de “Escola Brasileira de Futebol”, cobriu seis Copas e sete finais de Champions

A estúpida lista das brigas de torcidas uniformiza­das inclui uma emboscada feita no início da década de 1980, para os flamenguis­tas que chegavam para uma partida contra o Palmeiras, no Morumbi. De cima de uma passarela da via Dutra, uma banca de jornais caiu sobre o ônibus que transporta­va os visitantes.

O episódio ficou na memória de gerações e sempre deixou palmeirens­es e rubro-negros em lados opostos nas alianças de uniformiza­das. A Mancha se alia com a Galoucura, do

Atlético-MG, é contra a Máfia Azul, do Cruzeiro, que se dá com a Independen­te, do São Paulo, que por sua vez é amiga da Jovem Fla.

O que era inimizade de uniformiza­das transforma­se agora numa rivalidade de dois povos. Campeões da Libertador­es e do Brasileiro, os rubro-negros falam sobre o Palmeiras como se fosse o Vasco ou o Botafogo. Talvez por não ter rivais regionais poderosos, os flamenguis­tas miram os alviverdes.

Gabigol comemorou a Libertador­es

dizendo que o Palmeiras não tem mundial, e Mano Menezes tratou a provocação como elogio.

Para o Palmeiras, os grandes rivais seguem sendo Corinthian­s e São Paulo. A torcida palmeirens­e está incomodada por não ter vencido nada em 2019, não porque o campeão foi o Flamengo.

Mesmo assim, o clássico deste domingo (1º), no Allianz Parque, importa muito para o futuro do clube, do diretorexe­cutivo Alexandre Mattos e do técnico Mano Menezes.

A importânci­a de vencer o campeão brasileiro e da Libertador­es foi ilustrada na quinta (28) com a escalação de seis reservas contra o Fluminense. O Flamengo também poupou titulares contra o Ceará, mas não exatamente para guardar forças para domingo (1).

Mano Menezes tentou igualar o descanso, por jogar um dia depois do Flamengo. Vencer não fará nenhuma diferença do ponto de vista da classifica­ção. O Palmeiras já está na fase de grupos da Libertador­es e a faixa de vice-campeão não seduz, mesmo que o prêmio em dinheiro seja maior.

A derrota aumentará a pressão, ora com argumentos consistent­es, ora com inexistent­es. No conselho e na torcida, há quem diga ser uma vergonha ficar abaixo do Santos pelo investimen­to e que Mano não vence adversário­s mais fortes. Perdeu três vezes, para Santos, Fluminense e Grêmio.

O argumento mais sereno é o de que pode ser necessário ter estilo mais ofensivo, para vencer muito, empatar e perder pouco. Com Jorge Jesus aumentando a pontuação do campeão, com o recorde de gols nos pontos corridos, pode ser mesmo necessário um Palmeiras mais agressivo.

Mano já deixou claro que estuda para ter times mais protagonis­tas. No Bola da Vez, da ESPN Brasil, tratou de sua evolução com a metáfora de uma ponte. Quer atravessá-la, mas entende que o pior cenário é tentar cruzar o viaduto e ficar no meio do caminho.

Mano já fez outros times ofensivos, como o Corinthian­s de 2009, campeão da Copa do Brasil e invicto do Paulista, que tinha Dentinho, Ronaldo e Jorge Henrique.

O Flamengo não tem por que pensar no Palmeiras, uma vez que ganhou tudo o que lhe importava no ano. Mas deseja vencer, pela rivalidade que se criou entre eles.

O Palmeiras não precisa olhar para o Flamengo. Tem de decidir seu projeto para 2020 e montar um time capaz de ser campeão do Brasileiro e da Libertador­es.

Mas esse planejamen­to só será feito em paz se ganhar do campeão brasileiro e da Libertador­es, neste domingo. O clássico Palmeiras x Flamengo não é final de campeonato. Mas pode ser decisão.

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