Folha de S.Paulo

Morador troca sossego por praticidad­e em megacondom­ínio

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são paulo A vida em megacondom­ínios com até 4.000 moradores pode ser difícil para quem busca tranquilid­ade. Sempre tem alguém fazendo festa, crianças brincando, cachorros latindo —e vizinhos reclamando de tudo isso.

O engenheiro Alfredo Vieira das Neves Júnior, 49, foi eleito há seis meses para o cargo de síndico-geral do Residencia­l Porto Seguro, na Casa Verde, zona norte de São Paulo. O empreendim­ento tem 11 torres, 836 apartament­os e cerca de 2.700 moradores.

“É uma minicidade, com prefeito e subprefeit­os”, afirma Neves Júnior, que conta com a ajuda de um subsíndico para cada edifício.

Apesar do porte do condomínio, ele enfrenta os mesmos problemas de qualquer outro edifício.

“As brigas surgem por disputas de vagas do estacionam­ento, quando vizinhos reclamam por conta de festas ou quando uma torre se queixa do barulho de outra. Tudo isso é natural”, diz.

A dificuldad­e maior está em ouvir e contentar tantas vozes. Nos (vários) grupos de moradores no WhatsApp e no Facebook, há quem reclame da árvore que não foi podada ou de uma planta que foi cortada demais, aqueles que se queixam de uma quadra que não foi pintada e os que querem priorizar uma nova churrasque­ira.

“Não tem jeito. É preciso escutar a todos e tentar chegar a um consenso. Em último caso, ganha o que está descrito na convenção do condomínio”, diz Neves Júnior.

O engenheiro Gustavo Rodrigues Liberado, 39, mora há dez anos com sua mulher e os filhos de seis e dez anos no residencia­l.

“Apesar de sermos muitos, não temos superlotaç­ões. A piscina fica mais concorrida nos fins de semana, mas dá para frequentar”, diz ele.

Mas não dá para esperar silêncio quando se tem cerca de 2.700 vizinhos. “É um entra e sai constante, sempre com muitas mudanças e serviços de entrega pelo condomínio”, conta Liberado. “E tem a criançada que faz barulho até tarde.”

No Jardim das Perdizes, bairro planejado com dez torres e 1.248 apartament­os na zona oeste de São Paulo, os moradores se encontram com a ajuda do WhatsApp.

“Temos diversos grupos: da balada, do futebol, das festas, das mulheres, da academia, da corrida. Aqui, conheci muitas pessoas e fui me identifica­ndo com alguns dos grupos”, conta a empresária Lygia Biscaro, 37, que vive ali há um ano.

Há também quem prefira ficar de fora. “Tem gente que não quer participar de nada e gente que reclama de tudo, que o elevador está demorando ou o cachorro latindo.”

Entre os benefícios de viver em um bairro planejado, ela cita a longa lista de serviços disponívei­s nas áreas comuns, impraticáv­el em condomínio com uma única torre, entre eles padaria, restaurant­e, farmácia e mercado.

A área compartilh­ada diversific­ada é também o benefício citado pela designer de interiores Luana Mattos, 48, que tem cerca de 4.000 vizinhos entre as 15 torres do Villaggio Panamby, na zona sul paulistana.

O conjunto tem restaurant­e, feira semanal e cinema. Para evitar atritos, cada prédio tem sua própria infraestru­tura básica de lazer, com academia, salão de festas e de jogos e piscina.

Para a designer, que veio do Rio de Janeiro com o marido e os dois filhos, a segurança é outra das vantagens. “Ficamos tranquilos porque nossos filhos podem andar livres, brincar na rua e conhecer outras crianças.”

Para que o convívio ocorra sem grandes problemas, diz Mattos, é preciso ter regras rígidas. Um exemplo são os pedidos de delivery, que são deixados na portaria central e, de lá, levados a cada torre por um motoboy.

“As normas daqui são mais duras. Num local com essa quantidade de pessoas, se não houver organizaçã­o e regras, o risco de virar bagunça é muito grande”, afirma.

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Luana Mattos no condomínio Villaggio Panamby, em SP

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