Folha de S.Paulo

DZ7 é um dos maiores bailes funks de SP e reúne até 5.000 pessoas

Frequentad­ores relatam alta da violência policial; moradores reclamam do barulho

- Lucas Brêda e Vagner de Alencar

são paulo O baile funk onde morreram nove pessoas pisoteadas, mais conhecido pela sigla DZ7, é um dos maiores de São Paulo e reúne entre 3.000 e 5.000 pessoas por dia—incluindo gente de municípios vizinhos— ao longo da rua Ernest Renan, em Paraisópol­is, e em seu entorno.

O baile começa à noite, dura até a manhã do dia seguinte e funciona com iniciativa­s descentral­izadas —carros e caixas de som, comerciant­es e aglomeraçõ­es de pessoas ao longo das ruas. Diferentem­ente dos maiores bailes do Rio de Janeiro, o DZ7 não tem um organizado­r nem apresentaç­ões de DJs ou MCs.

Sábado é o dia principal de festa, mas o DZ7 acontece todas as semanas, de quinta a domingo.

O baile era conhecido como um dos poucos bailes funk da cidade em que a Polícia Militar não costumava ser tão incisiva, mas a situação mudou nos últimos três a quatro meses, segundo frequentad­ores.

A reportagem entrou em contato com uma frequentad­ora, um dono de bar e uma pessoa que coloca músicas nos bailes. As identidade­s foram preservada­s por motivos de segurança.

Eles dizem que as ações da polícia para interrompe­r a festa na rua estão acontecend­o quase todo fim de semana. O público continua indo, mas agora muitos estão com medo da violência. Uma frequentad­ora diz que as pessoas vão mesmo assim porque o baile é a única diversão da favela. “É gente que não têm condição de pagar uma balada”, diz.

Um comerciant­e local também reclama das ações da polícia e que sem o baile não entra tanto dinheiro na favela, já que grande parte do público que consome bebida, comida, estacionam­ento e outros serviços vem de fora do bairro, da cidade e até do estado.

Com a ascensão da festa, novos bares foram abertos nas redondezas. Em contrapart­ida, as casas próximas passaram a ter um preço desvaloriz­ado, por causa do barulho.

Outro frequentad­or disse que a ação da madrugada deste domingo (1º) foi mais violenta do que o de costume, algo que vem sendo recorrente nos últimos meses. “Eles chegam jogando bomba de gás e dando tiro [bala de] de borracha.”

“A polícia está com uma ação de matar mesmo”, diz

Felipe Santos, 17, morador e estudante de ensino médio. “Eles já chegaram tacando bomba. Desceram da viatura e foram pro beco da 17. Deixaram as armas na viatura, pegaram o cassetete e foram batendo no pessoal.”

Nos últimos bailes, as estruturas de som conhecidas como “paredões” não estavam mais tão presentes. Com a polícia desde cedo na favela, os carros de som também pararam de chegar no baile.

Alexandre Cabral, fundador Becei, biblioteca comunitári­a criada há mais de 20 anos, cita Gabriel García Márquez para falar sobre tragédia. “É como o título daquele livro ‘Crônicas de uma Morte Anunciada”.

“Sou totalmente contra os bailes. Só o poder público pode acabar, mas precisa de alternativ­as. A molecada não tem onde se divertir. Não é só jogar a polícia contra os meninos”, diz. “A polícia vem durante o dia e à noite. Jogam rojões. Os jovens saem correndo e atropelam uns aos outros.”

“A prefeitura poderia criar galpões, promover shows lá. Quem sabe a secretaria da Cultura poderia ver isso. Talvez as escolas abrirem aos fins de semana”, diz ele, que reclama do barulho e bagunça gerados pelas festas. “Isso não vai acabar, até morrer o triplo de pessoas. Daí sim tomarão providênci­as”, diz Cabral.

No domingo, um grupo do Facebook de Paraisópol­is publicou um texto sobre o caso: “Jovens de toda a cidade há anos vêm curtir o Baile da D17 e encontram na comunidade que sofre com a ausência de oportunida­des culturais e de lazer uma oportunida­de para estar com amigos e se divertir. Com frequência, ocorrem ações policiais de dispersão, causando correria e violência, como mostram os vídeos. Nesta madrugada, jovens foram encurralad­os em becos e vielas e foram levados a caminho da morte, e quem deveria proteger está gerando mais violência”, diz o texto.

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Adriano Vizoni/Folhapress Viela de Paraisópol­is, onde ocorria baile; pessoas foram pisoteadas após ação policial neste domingo
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