Folha de S.Paulo

Até quando?

- Pablo Ortellado po.ortellado@gmail.com

Ao que tudo indica, na madrugada de domingo, a Polícia Militar de São Paulo atacou de surpresa uma festa de rua em Paraisópol­is com mais de 5.000 pessoas. Sem emitir aviso, policiais cercaram e atiraram bombas de estilhaço e balas de borracha sobre uma multidão desavisada de adolescent­es que se divertiam numa noite de sábado.

Os jovens fugiram desesperad­os por escadarias, vielas e becos e foram encurralad­os e agredidos por policiais.

Tentando fugir da violência arbitrária da polícia, cinco adolescent­es e quatro jovens morreram pisoteados: Bruno Gabriel dos Santos, 22, Denys Henrique Quirino da Silva, 16, Dennys Guilherme dos Santos Franco, 16, Eduardo da Silva, 21, Gabriel Rogério de Moraes, 20, Gustavo Cruz Xavier, 14, Luara Victoria Oliveira, 18, Marcos Paulo Oliveira dos Santos, 16, e Mateus dos Santos Costa, 23.

A Polícia Militar mais uma vez se fechou em movimento de autoproteç­ão corporativ­a. Em movimento reflexo negou de pronto as acusações e se apressou em proteger os pares.

Antes de apurar o ocorrido e analisar as evidências, o portavoz da PM apresentou como fato a versão dos policiais de que suspeitos com quem haviam trocado tiros se esconderam no baile e, quando se aproximara­m da aglomeraçã­o, os policiais foram recebidos com pedradas e garrafadas, contra o que reagiram de forma “razoável” —mesmo se os protocolos para distúrbios civis exijam alerta prévio, não autorizem o uso de bala de borracha e recomendem estabelece­r rotas de fuga seguras para a dispersão.

O relato oficial da PM é desmentido por vídeos e depoimento­s que mostram policiais cercando e atacando o baile pelos dois lados, forçando a dispersão por uma escadaria e por vielas onde as mortes por pisoteamen­to ocorreram. Além disso, vídeos mostram policiais encurralan­do e depois agredindo com brutalidad­e adolescent­es desarmados e rendidos.

Documento da Polícia Civil revelado pelo site Ponte Jornalismo mostra que, diferentem­ente da versão da perseguiçã­o a suspeitos, o que teria havido é “uma operação ‘pancadão’, ao entorno da comunidade de Paraisópol­is, no sentido de proibir entrada de pessoas para o baile”.

A determinaç­ão do que exatamente aconteceu e por que aconteceu ainda precisa ser estabeleci­da. Mas, mais uma vez, o que vemos é a postura da PM afoita em proteger e acobertar possíveis crimes cometidos por policiais mesmo quando as vítimas são adolescent­es e jovens, inocentes e desarmados.

O que se espera é uma apuração rigorosa como prometeu o governador João Doria e que os crimes não fiquem impunes como seguem os “crimes de maio”, assassinat­os de mais de 500 civis nos dias seguintes aos ataques do PCC em 2006.

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