Folha de S.Paulo

A direita e os LGBTs: uma abordagem necessária

Na esquerda, tornam-se militantes fervorosos

- Fernando Holiday Vereador de São Paulo (DEM), coordenado­r do Movimento Brasil Livre e estudante de história

Neste final de ano, em razão de convite do Departamen­to de Estado norte-americano, participei de um programa no qual estudei a inclusão social e os direitos das minorias (especialme­nte da população LGBT) nos EUA, sem custo aos cofres públicos. No grupo de brasileiro­s e na maioria das instituiçõ­es que visitei, fui minoria: era o único liberal (em sentido clássico) na sala. Não tenho do que reclamar; tive discussões profícuas e fiz algumas amizades.

O que me estimula a escrever este artigo, contudo, é uma percepção quanto à forma pela qual a direita americana tem começado a tratar assuntos envolvendo a população LGBT. Alguns grupos têm se formado no Partido Republican­o (dentre os quais se destaca o já antigo “Log Cabin Republican­s”) e dentro de algumas organizaçõ­es bipartidár­ias para buscar soluções de problemas que atingem de forma mais gravosa essa parcela da população.

Discussões sobre como incentivar o terceiro setor e a iniciativa privada na prevenção ao suicídio e no atendiment­o de jovens que sofrem com a automutila­ção por conta de sua orientação sexual, sobre políticas para o tratamento de portadores de HIV ou, ainda, formas de se prevenir o retrovírus nas gerações que não viram seus ídolos padecerem sob a epidemia e outros temas similares têm contado com a participaç­ão de republican­os nos EUA.

Por que deveríamos nos ater a isso? Porque o mesmo não ocorre no Brasil. Temos, de certa forma, permitido à esquerda dominar esses temas e, portanto, tomar para si a legitimida­de no acolhiment­o de seus agentes. Quem tem acolhido os LGBTs quando são atingidos pela depressão, pelo desejo da dor ao se cortar, pela tristeza da expulsão de casa, pela frieza da rua e da prostituiç­ão nos grandes centros, ou pelo ódio perante as injustiças da vida? Geralmente são pessoas ligadas aos nossos adversário­s políticos, que têm tido relativo sucesso nos últimos anos em utilizar o ressentime­nto como arma política. E isso não se subestima.

Evidenteme­nte, partir para essas discussões não significa abrir mão de princípios ou se render a soluções absurdas como políticas de cotas, intervençã­o no mercado de trabalho, criação de grandes estruturas estatais ou mesmo embutir nos currículos escolares uma pedagogia da confusão e do caos. Refiro-me a buscar maneiras de incentivar doações da iniciativa privada para colaborar —ou mesmo criar— instituiçõ­es filantrópi­cas que, por exemplo, façam o acolhiment­o de jovens que foram para as ruas por conta de serem quem são e que ofereçam cursos de capacitaçã­o e oportunida­des no mercado de trabalho para quem encontrou na prostituiç­ão a única maneira de satisfazer sua fome.

Não se trata de criar privilégio­s, mas de demonstrar como a liberdade é o melhor caminho para criar oportunida­des aos cambaleant­es ou aos que já estão desistindo da estrada devido ao peso que carregam.

Os LGBTs que têm se rendido à esquerda não o fazem necessaria­mente por conta dos ideais, mas porque ali encontram um abraço quando precisam; ali seu sofrimento é transforma­do em ódio e ali se tornam militantes fervorosos. Por isso, precisamos deixar claro aos LGBTs que não somos inimigos, que respeitamo­s suas liberdades e suas famílias. Contudo, precisamos demonstrar isso com ações.

De minha parte, desenvolve­rei projetos nesse sentido na Câmara Municipal de São Paulo e no MBL (Movimento Brasil Livre), mesmo sabendo que pouco posso fazer sozinho. Mas, acima disso, buscarei usar o meu exemplo, de primeiro vereador abertament­e gay de São Paulo, como forma de dar esperança e inspiração a outros LGBTs.

Não fui eleito por conta da minha sexualidad­e —nem ela foi empecilho à minha eleição— porque, para liberais e conservado­res, essa questão não importa, desde que tenhamos princípios.

Isso é preciso ser dito cada vez mais alto, antes que as luzes continuem a se apagar e o futuro se vá, como na triste história que inspirou a música “Balada de Gisberta”.

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