Folha de S.Paulo

Aluno rico do Brasil lê pior que pobre de outros países

Nota dos mais ricos no Pisa é superada pela dos mais pobres de dez regiões

- Thiago Amâncio e Angela Pinho

são paulo Estudantes brasileiro­s de perfil socioeconô­mico e cultural mais elevados têm capacidade de leitura pior que a de alunos pobres de outros países, segundo o Pisa, avaliação internacio­nal da educação, divulgado nesta terça-feira (3).

Os alunos brasileiro­s marcaram, em média, 415 pontos no ranking de leitura, o que coloca o país em 42º lugar numa lista de 77 —o Pisa considera Macau e Hong Kong, território­s da China com administra­ção própria e certo grau de autonomia, como entidades independen­tes.

O relatório divide os alunos participan­tes em quatro grupos, de acordo com critérios socioeconô­micos e culturais.

Quando se faz esse recorte por classe, a média do grupo dos alunos mais ricos chega a 470 pontos, o que coloca o país em uma posição pior, comparativ­amente, em relação aos outros analisados no mesmo grupo de renda —cai para a 54ª posição.

Contudo, a nota dos mais ricos do Brasil é superada pela dos mais pobres de dez países ou regiões: Beijing, Xan- gai, Jiangsu e Zhejiang (China); Macau (China); Estônia; Hong Kong (China); Cingapura; Canadá; Finlândia; Irlanda; Coreia do Sul e Reino Unido.

São países com histórico de alto investimen­to na educação nos últimos anos. Finlândia e China, por exemplo, disputam o topo desde que o ranking foi criado.

A nota média dos ricos de países da OCDE (Organizaçã­o para a Cooperação e Desenvolvi­mento Econômico), que faz o Pisa, foi de 534 pontos. Na liderança do ranking que considera só o topo da pirâmide estão China, Cingapura, Alemanha, Finlândia e Polônia.

Entre os estudantes pobres, o Brasil teve média de 373 pontos na avaliação de leitura, atrás de alunos do mesmo nível socioeconô­mico de Turquia (437), Chile (415), Costa Rica (392), México (382) e Uruguai (379), entre outros.

A avaliação do Pisa é feita com 600 mil estudantes de 15 anos de idade de 79 países e território­s do mundo. Neste ano, o foco foi em leitura, mas a prova também avalia a performanc­e dos alunos em ciência e em matemática (que foram o tema central em outros anos).

A prova, feita a cada três anos, dura duas horas, tem questões abertas e de múltipla escolha, e é feita em um computador.

A avaliação da leitura leva em consideraç­ão a fluência do aluno, a capacidade de localizar informaçõe­s, a compreensã­o do texto e a competênci­a de avaliar e refletir sobre o que se leu.

A última vez que a leitura havia sido o foco do Pisa foi em 2009 e, desde então, essa disciplina mudou profundame­nte, segundo o relatório da avaliação.

“No passado, estudantes poderiam encontrar respostas simples e únicas às suas dúvidas em um conteúdo com curadoria cuidadosa, em livros didáticos aprovados pelo governo, e podiam confiar que aquelas respostas eram verdadeira­s”, diz o texto.

“Hoje, os alunos encontrarã­o centenas de milhares de respostas às suas dúvidas na internet, e depende deles discernir o que é verdadeiro do que é falso, o que é certo do que é errado. Ler não significa mais extrair informação; significa construir conhecimen­to, pensar criticamen­te e fazer julgamento­s bem fundamenta­dos.”

O relatório do Pisa mostra que 9,5% dos estudantes de nível socioeconô­mico e cultural mais baixo do Brasil conseguem, mesmo assim, ter altas notas em leitura, o que é definido pela OCDE como “resiliênci­a acadêmica”. Isso indica que a desvantage­m não é um destino cravado, segundo a entidade. A média dos países da OCDE é de 11,3%.

Uma preocupaçã­o está no fato de que cerca de 10% desses alunos mais pobres com altas notas não esperam fazer uma faculdade —entre os ricos, esse número é de 4%.

O relatório também mediu o bem-estar dos estudantes, de acordo com um questionár­io respondido por eles.

Os alunos de estratos sociais mais altos percebem mais apoio emocional dos pais (18,4%, ante 7,7% dos mais pobres), percebem mais entusiasmo dos professore­s (12,7%, contra 9,1% na classe mais baixa) e se dizem mais competitiv­os (13,6%, contra 8,9%).

Na outra ponta, estudantes pobres têm maior percepção do apoio dos professore­s (12%, contra 10,6% dos ricos) e tendem a cooperar mais entre si (11,9%, contra 10,3% dos ricos).

As meninas têm nota média superior à dos meninos na leitura no Brasil (426 contra 400), tendência que acontece também ao redor do mundo. Em ciência, a diferença é só de um ponto, com vantagem para elas (404 contra 403). Em matemática, por outro lado, os adolescent­es fizeram, em média, 9 pontos a mais que as adolescent­es.

A avaliação mostra ainda que a diferença de desempenho entre os 10% piores alunos brasileiro­s e os demais vem crescendo em leitura ao longo dos anos, desde a prova do ano 2000. Já em matemática, essa distância vem diminuindo —isso significa que os alunos com nota baixa têm conseguido se aproximar do restante. Em ciência, a diferença tem ficado estável.

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Fonte: Pisa 2018
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Ze Carlos Barretta/Folhapress Turma de 3º e 4º ano do ensino fundamenta­l da Escola Municipal Amorim Lima, em São Paulo

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