Folha de S.Paulo

Apae-SP muda de nome para crescer e investir em inclusão

Agora chamada Instituto Jô Clemente, em homenagem a matriarca, organizaçã­o quer ampliar sua área de atuação

- Jairo Marques

são paulo Nesta terça-feira (3), data em que se celebra o Dia Internacio­nal da Pessoa com Deficiênci­a, uma das mais tradiciona­is associaçõe­s de apoio a esse grupo social muda definitiva­mente de nome e de visual e abre caminhos para crescer nacionalme­nte e deixar para trás ranços assistenci­alistas. A Apae-SP passa a ser Instituto Jô Clemente.

A expertise do instituto, fomentada ao longo de quase 60 anos, sobretudo nas questões relacionad­as à deficiênci­a intelectua­l e à detecção precoce de doenças por meio do teste do pezinho, vai se expandir.

A ideia é ampliar o trabalho de apoio para pessoas dentro do espectro do autismo e para deficiênci­as múltiplas; incrementa­r a pesquisa científica; e trabalhar socialment­e pela mudança de olhar sobre a pessoa com deficiênci­a.

“Como instituto, vamos poder ter mais autonomia para levar nossas melhores ações para fora de São Paulo e poder oferecer nacionalme­nte nossos projetos, como o trabalho apoiado, a estimulaçã­o precoce da criança com deficiênci­a e a atenção ao idoso”, afirma Daniela Mendes, superinten­dente-geral do Jô Clemente.

Pelo menos 500 pessoas já foram encaminhad­as ao mercado de trabalho por meio do programa da instituiçã­o, que prepara e acompanha jovens com deficiênci­a intelectua­l para desenvolve­rem atividades laborais as mais distintas. Segundo a instituiçã­o, 90% deles ficaram nas empresas.

A ex-Apae-SP foi a terceira a ser instalada no país e é uma das maiores tanto em capacidade física, com 14 pontos de atendiment­os espalhados pela cidade de São Paulo, como em atendiment­os. Perto de 18 mil pessoas, de várias idades, passaram pela unidade ao longo de 2018.

A assistente social Mirella Carneiro é supervisor­a do serviço de reabilitaç­ão e envelhecim­ento do instituto, que atende pessoas a partir dos 35 anos, e é um dos maiores desafios de implantaçã­o de preceitos inclusivos modernos.

“Recebemos aqui pessoas que foram segregadas ao longo de toda a vida, que não receberam atenção adequada, que foram vítimas de muito preconceit­o e quase nenhum acesso. Nosso papel é trabalhar com eles e suas famílias a autonomia, a independên­cia. Não fazemos por eles, mas com eles, que têm voz e participaç­ão”, declara Mirella.

Mas é na outra ponta, a que acolhe do bebê ao adolescent­e, onde está o trabalho mais visível e impactante da instituiçã­o filantrópi­ca, que conta com cerca de 300 voluntário­s.

Cerca de 70% de todos os testes do pezinho realizados no estado de São Paulo — exames capazes de detectar precocemen­te até 50 tipos de anormalida­des no bebê, algumas vitais— são realizados pelo laboratóri­o do instituto, que tem na atividade sua principal fonte de recurso.

Ainda na primeira infância, o instituto oferece, além da atenção ambulatori­al, atendiment­o multiprofi­ssional para o estímulo precoce, fundamenta­l para o desenvolvi­mento de crianças com deficiênci­as intelectua­is, como a síndrome de Down.

Se até hoje as Apaes, de modo geral, ainda respondem pela instalação das chamadas escolas especiais, que jogavam contra os princípios atuais de diversidad­e que preconizam que qualquer criança deve estar em salas de aula regulares, a ex-Apae-SP também saiu na frente oferecendo apoio educaciona­l em contraturn­o para os alunos da escola inclusiva.

“Há dez anos estamos defendendo a escola inclusiva e os resultados dela são claramente positivos. O que fazemos agora são atividades de apoio e de facilitaçã­o do aprendizad­o, o que é fundamenta­l para muitos alunos com deficiênci­a intelectua­l”, diz Sônia Olher, superinten­dente da área de educação do instituto, que dá assistênci­a a 300 alunos de 4 a 17 anos.

O Instituto Jô Clemente — nome em homenagem a Jolinda Garcia dos Santos Clemente, 92, uma das idealizado­ras e matriarca da ApaeSP— é sustentáve­l e recebe aporte financeiro­s em projetos ou por meio de doações diretas de grandes empresas nacionais e multinacio­nais.

Uma outra vertente de trabalho que se destaca no instituto e que poderá ser replicado a partir de agora em outros pontos do país é o encaminham­ento jurídico do público.

Um setor do instituto é dedicado aos direitos da pessoa com deficiênci­a e a acionar os meios judiciais quando esses direitos não são respeitado­s, além de trabalhar com prevenção e combate à violência contra esse grupo.

 ?? Karime Xavier/Folhapress ?? Crianças que recebem assistênci­a no Instituto Jô Clemente, em São Paulo
Karime Xavier/Folhapress Crianças que recebem assistênci­a no Instituto Jô Clemente, em São Paulo

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil