Folha de S.Paulo

Curado de câncer, técnico Dorival Júnior faz plano de voltar ao futebol

- Alex Sabino

são paulo Dorival Júnior não se desesperou quando soube que estava com câncer na próstata. Não ficou sequer nervoso. Sua reação foi tão prática quanto possível em uma situação como essa.

“Meu único pensamento foi: ‘vamos resolver logo isso, então’”, afirmou o técnico.

A notícia chegou em março, mas ele só se submeteu à cirurgia para retirada do tumor em outubro. Teve de esperar os resultados de mais exames. Mais difícil foi lidar com a preocupaçã­o dos três filhos (Lucas, Bruno e Gabriela) e da mulher Valéria.

Hoje em dia ele confessa que a doença o fez pensar em “algumas situações”. Não cita a palavra “morte” em hipótese alguma. Mas a preocupaçã­o não foi excessiva.

Jogador profission­al por 13 anos e técnico desde 2002, ele escondeu o diagnóstic­os de colegas do mundo do futebol, da imprensa e de torcedores. Só o divulgou em setembro, antes da operação.

“Nesse período recebi contatos de alguns clubes que estavam sem profission­ais, mas perguntei se podíamos esperar até dezembro. Era algo sério [a doença] e eu tinha de buscar uma solução.”

A confiança de Dorival se deu, em parte, porque o câncer foi descoberto no início. Não aconteceu por meio do exame de toque, como costuma ocorrer. Seu médico desconfiou que poderia haver algo errado quando seu teste de sangue deu taxa alterada de PSA (sigla em inglês para Prostate-Specific Antigens), as moléculas produzidas pela próstata. Quando há algum problema, a concentraç­ão da substância aumenta.

“Acho que não encarei com uma preocupaçã­o excessiva. Pegar bem no início ajudou bastante e eu já fazia acompanham­ento. Mesmo antes da confirmaçã­o eu tinha certeza que não seria algo tão ruim assim. Foi o que aconteceu. Por isso que a prevenção é fundamenta­l”, completa.

Dorival não considera que seu caso tenha sido tão grave porque tem um caso na família para comparar. Valéria teve detectado tumores nas duas mamas e foi caso muito mais sério, segundo o treinador. Ela passou por cinco cirurgias em quatro meses. Ele afirma ter sido traumático para ele e os filhos.

“No futebol a gente brinca muito. Dizia que tal mês teria de fazer o exame [de toque]. Mas o exame de sangue também é fundamenta­l. O homem é propício a ter problemas na próstata então é preciso quebrar esse tabu”, diz o treinador nascido em Araraquara (SP).

A doença fez com que retomasse contatos antigos. Gente com quem não conversava há anos mandou mensagens de apoio ou telefonou para conversar. Isso fez com que se sentisse querido pelo mundo do futebol. Quando saiu do hospital, assegura não ter sentido dor alguma e o pedido do médico foi que repousasse por 10 dias.

O que Dorival Júnior quer fazer agora é retomar a vida. Ele ainda não engoliu a forma como terminou seu último trabalho, no ano passado. Comandou o Flamengo em 12 jogos e levou o time ao vice-campeonato brasileiro. Ganhou sete partidas e perdeu duas. Mas com a eleição presidenci­al no clube, o eleito Rodolfo Landim contratou Abel Braga para o seu lugar. Este acabou substituíd­o pelo português Jorge Jesus, que foi campeão nacional e da Copa Libertador­es.

Claro que passa pela cabeça de Dorival que poderia ser ele a comandar o clube rubro-negro a esses títulos.

Desde o período pós-cirurgia, quando voltou para casa, o que ele mais tem feito é assistir futebol pela televisão. Mas escolhe o que ver.

“Dá saudade, não? Fiquei o ano todo fora e você sente falta. [Assistir pela TV] é totalmente diferente”, afirma.

Ele não foi é único técnico a batalhar contra a doença nos últimos meses. Na última terça-feira (26), Vanderlei Luxemburgo passou por cirurgia para tratar um câncer de pele.

Pegar bem no início ajudou bastante e eu já fazia acompanham­ento. Mesmo antes da confirmaçã­o eu tinha certeza que não seria algo tão ruim assim. Foi o que aconteceu. Por isso que a prevenção é fundamenta­l Dorival Júnior Técnico de futebol

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Giuliane Gava/Folhapress O técnico Dorival Júnior em sua casa

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