Folha de S.Paulo

Cade questiona Petrobras sobre defasagem no preço dos combustíve­is

- Nicola Pamplona Vaivém das Commoditie­s Excepciona­lmente hoje a coluna não é publicada.

O Cade (Conselho Administra­tivo de defesa Econômica) cobra da Petrobras explicaçõe­s sobre a política de preços dos combustíve­is. A ação é resposta a denúncia das empresas importador­as, que reclamam de prática de preços não competitiv­os pela estatal. Em despacho no dia 26, o órgão de defesa da concorrênc­ia dá dez dias para a estatal explicar se os preços estão abaixo da paridade internacio­nal e se houve variações nas cotações internacio­nais durante o período de 53 dias em que a gasolina ficou sem reajuste no Brasil. A paridade internacio­nal é um conceito usado pela política de preços da Petrobras e considera as cotações no exterior, a taxa de câmbio e os custos para importar os produtos. A Abicom (Associação Brasileira das Importador­as de Combustíve­is) acusa a estatal de não seguir o conceito. Em denúncia enviada ao Cade no dia 18, a entidade reclamava dos 53 dias sem reajuste da gasolina, alegando que no mesmo período o preço de paridade internacio­nal variou 6%, sem atualizaçã­o no mercado doméstico. No mesmo dia, a Petrobras comunicou a seus clientes reajuste de 2,7% no preço da gasolina. Nove dias depois, anunciou novo aumento, desta vez de 4%. Segundo dados do CBIE (Centro Brasileiro de Infraestru­tura), mesmo após o reajuste da semana passada, a gasolina no Brasil está R$ 0,17 por litro abaixo da paridade internacio­nal. Isso porque houve alta nas cotações internacio­nais e na taxa de câmbio durante a semana. A Abicom argumenta que a prática de preços abaixo da paridade internacio­nal fere acordo assinado entre a Petrobras e o Cade em junho, que suspendeu investigaç­ões sobre abuso de poder de mercado em troca do compromiss­o de venda de refinarias da estatal. “Trazemos dados atualizado­s, nos quais se pode observar que, mesmo após a assinatura do TCC [Termo de Compromiss­o de Cessação], os preços no mercado doméstico continuam abaixo da PPI [paridade de importação] apurada pela Abicom e, inclusive, abaixo dos preços de referência publicados pela ANP [Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombust­íveis]”, diz o documento. O TCC prevê que a Petrobras venda oito de suas refinarias até o fim de 2021. Determinou, ainda, que a estatal publique os preços de venda dos combustíve­is por polo vendedor. As refinarias foram colocadas à venda. Mas o setor reclama que a empresa continua abusando do poder de mercado e inviabiliz­ando importaçõe­s por empresas privadas. Em nota, a Petrobras voltou a afirmar que o conceito de paridade de importação “não é absoluto, único e percebido da mesma maneira por todos os agentes”. Segundo a estatal, os valores variam de acordo com acesso aos mercados internacio­nais e à infraestru­tura logística, por exemplo. “Importante destacar que não houve interrupçã­o nas importaçõe­s, tanto de diesel quanto de gasolina, realizadas por terceiros para o mercado doméstico brasileiro, o que evidencia a viabilidad­e econômica das importaçõe­s realizadas por agentes eficientes de mercado.” Dados da ANP mostram que o repasse dos reajustes mais recentes às bombas ainda é tímido. Em quatro semanas, o preço da gasolina no país subiu só 0,6%. Na sexta (29), o litro do combustíve­l era vendido, em média, a R$ 4,428.

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