Novo presidente da Funarte defende que Beatles vieram implantar o comunismo
Já o próximo dirigente da Biblioteca Nacional associa Caetano Veloso e Legião Urbana ao analfabetismo
são paulo O governo Bolsonaro nomeou nesta segunda (2) novos presidentes para a Funarte (Fundação Nacional de Artes) e a Biblioteca Nacional, seguindo uma reforma volumosa no quadro da Secretaria Especial da Cultura e órgãos subordinados à subpasta do Ministério do Turismo, hoje sob comando do dramaturgo e diretor Roberto Alvim.
As decisões foram publicadas no Diário Oficial da União.
Anunciado como o novo presidente da Funarte, o maestro Dante Mantovani é autor de livros sobre música clássica, tem programa de rádio, dá curso na internet e é youtuber.
No canal que leva seu nome e tem pouco mais de 6.000 inscritos, ele compartilha reflexões e suas teorias da conspiração sobre política e arte. Os vídeos ainda estão no ar, apesar de ele ter apagado seus perfis em redes sociais.
Entre outros assuntos, ele afirma que o fascismo é de esquerda, afirma que fake news é um conceito globalista para impor a vontade da imprensa e chama a Unesco de “máquina de propaganda em favor da pedofilia”.
Membro da Cúpula Conservadora das Américas e aluno de Olavo de Carvalho, ele tem um vídeo inteiro dedicado a explicar um comentário recente do ideólogo, de que o filósofo alemão Theodor W. Adorno, da Escola de Frankfurt, teria escrito músicas dos Beatles.
“Não é que o Adorno tenha falado assim para os Beatles, ‘faça isso, faça aquilo, faça a liberação das drogas’. O teórico desenvolve a teoria e o agente vai lá e age”, diz. “Na esfera da música popular, vieram os Beatles, para combater o capitalismo e implantar a maravilhosa sociedade comunista.”
No mesmo vídeo, o maestro traça relações entre os serviços de inteligência e a indústria fonográfica americana, dizendo que agentes soviéticos infiltrados inseriam “certos elementos” em músicas para fazer “experimentações” e “engenharia social” com crianças e adolescentes.
O resultado —o rock de Elvis Presley e dos Beatles— seria parte de um plano para vencer os Estados Unidos e o capitalismo burguês a partir da destruição da moral da juventude e das famílias.
“O rock ativa a droga, que ativa o sexo, que ativa a indústria do aborto. E a indústria do aborto alimenta uma coisa muito mais pesada, que é o satanismo. O próprio John Lennon disse abertamente, mais de uma vez, que fez um pacto com o satanás.”
Em vídeo de 2016, diz ainda que “até o século 19, a arte era muito para a sociedade, as pessoas eram educadas para gostar de coisas belas, apreciar a beleza. No século 20, a arte passou a ter uma outra função e deixou de ser veículo fundamentalmente da beleza.”
Também controversas são as opiniões de Rafael Alves da Silva, conhecido como Rafael Nogueira, escolhido nesta segunda como novo presidente da Biblioteca Nacional.
Nos vídeos do seu canal no YouTube e em suas redes sociais, Nogueira fala sobre José Bonifácio, a saída do presidente do PSL, supostas fraudes nas urnas eletrônicas e passa adiante as palavras de Olavo de Carvalho, de quem o autointitulado “aspirante a filósofo” se diz aluno.
À frente agora de uma das principais instituições culturais do Brasil, com acervo de livros que remonta à chegada da família real ao país, Nogueira pouco fala de livros e de literatura. Ao buscar esses termos em seu perfil no Twitter, que tem 40 mil seguidores, os resultados são poucos.
Um deles é uma mensagem de 2011: “Cadê nossa literatura? Quem é o herdeiro atual de Machado de Assis? Cadê a nossa filosofia? Espero que o legado de Olavo de Carvalho resolva”. Outro é de 2010: “A justificação dos crimes alheios pela pobreza, constante em nossa literatura e cinema, é uma mentira insultuosa aos pobres honrados.”
Procurado para comentar o seu projeto à frente da Biblioteca, Nogueira preferiu não dar entrevista e disse que só falaria com a reportagem depois de tomar posse.
Se é pouco conhecido do mercado editorial, o novo presidente da instituição mostra em suas redes sociais ser próximo do universo da música.
Em 2017, Nogueira associou Caetano Veloso, Legião Urbana e Gabriel O Pensador ao analfabetismo. “Livros didáticos estão cheios de músicas de Caetano Veloso, Gabriel O Pensador, Legião Urbana. Depois não sabem por que está todo mundo analfabeto”, escreveu.
Nogueira assume a Biblioteca Nacional no lugar de Helena Severo, que pôs o cargo à disposição na sextafeira (29) em uma carta enviada a Roberto Alvim.
Graduado em filosofia e direito e com mestrado em educação em faculdades de Santos, onde mora, Nogueira também é professor e já deu aulas particulares de humanidades e de redação para o Enem.