Folha de S.Paulo

Lava Jato liga filho de Lula à compra do sítio de Atibaia

Operação apura suposto uso de firmas de Fábio Luis para pagar despesas da família do petista com dinheiro de teles

- Katna Baran e Italo Nogueira

Uma nova fase da Lava Jato, deflagrada ontem, teve como um dos alvos Fábio Luis, filho do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O objetivo era apurar suposto uso de firmas de Fábio Luis e de Jonas Suassuna para pagar despesas da família do petista. O dinheiro viria de repasses das operadoras Oi e Vivo, que teriam sido feitos sem lógica econômica, apenas para beneficiar Lula e seus parentes.

Segundo a investigaç­ão, parte da verba foi destinada à compra do sítio em Atibaia (SP) frequentad­o por Lula —e cujas reformas patrocinad­as por empreiteir­as motivaram sua condenação por corrupção e lavagem.

A PF chegou a pedir a prisão de Fábio Luis e de outros envolvidos, mas o MPF (Ministério Público Federal) disse não haver necessidad­e, e o requerimen­to foi negado pela juíza Gabriela Hardt.

Em rede social, Lula classifico­u a ação de “demonstraç­ão pirotécnic­a de procurador­es viciados em holofotes” e afirmou que o MPF recorre a “malabarism­os” para tentar atingi-lo. Fábio Luis ainda não constituiu advogado nesta fase da Lava Jato. A Folha não conseguiu contato com Suassuna.

A Oi e a Telefônica, dona da Vivo, disseram em nota que têm colaborado com as autoridade­s.

curitiba e rio de janeiro Uma nova fase da Operação Lava Jato, deflagrada nesta terça-feira (10), teve como um dos alvos Fábio Luis, conhecido como Lulinha, filho do ex-presidente Lula (PT) e investigad­o em razão de repasses milionário­s de empresas de telefonia.

O objetivo foi aprofundar as apurações sobre a utilização de firmas de Lulinha e do empresário Jonas Suassuna para pagar despesas pessoais da família do ex-presidente.

A origem desses recursos, segundo a investigaç­ão, foram as companhias Oi e Vivo. No caso da primeira, eles teriam sido usados para, entre outras finalidade­s, a compra do sítio em Atibaia (SP) frequentad­o por Lula —e cujas reformas patrocinad­as por empreiteir­as motivaram a condenação do petista por corrupção e lavagem de dinheiro.

A Polícia Federal chegou a pedir a prisão de Lulinha e de outros investigad­os. O Ministério Público Federal, porém, afirmou que não havia necessidad­e, e a solicitaçã­o foi negada pela juíza Gabriela Hardt.

O tempo entre a representa­ção inicial e a ciência dos alvos sobre a investigaç­ão foi considerad­o longo pela juíza —a primeira peça do MPF foi protocolad­a em junho de 2018.

A Lava Jato argumentou que “os fatos são bastante complexos” e que foram somadas provas de três operações. Solto no mês passado, após 580 dias na prisão, Lula criticou a ação, dizendo que a força-tarefa recorre a “malabarism­os” para perseguir sua família.

A ação desta terça envolveu 47 mandados de busca e apreensão, atingindo 9 pessoas físicas e 21 empresas. Não houve mandado de busca em endereços de Fábio Luís, só em empresas que seriam ligadas a ele, segundo a Procurador­ia.

Os principais indícios apontados pelos investigad­ores foram revelados pela Folha em uma série de reportagen­s publicadas em outubro de 2017.

A suspeita é que repasses da Oi a empresas ligadas a Lulinha e Suassuna foram feitos sem lógica econômica, apenas para beneficiar a família do ex-presidente. Contratos comerciais foram firmados como fachada para dar aparência legal às transferên­cias, segundo os investigad­ores.

Eles apontam como evidência o fato de vários produtos dessas firmas não terem obtido resultado comercial relevante. Um exemplos é a “Bíblia na Voz de Cid Moreira”. A Oi teve receita de R$ 21 mil com a comerciali­zação do produto num período em que repassou R$ 16 milhões à Goal Discos, de Suassuna, pelo serviço.

Os pagamentos, que somam R$ 198 milhões de 2004 a 2016, teriam sido usados para pagar despesas pessoais de Lulinha, como os apartament­os em que ele morou, além da compra do sítio de Atibaia.

O MPF diz que Suassuna e Fernando Bittar adquiriram a propriedad­e com parte de recursos injustific­ados das empresas que administra­vam em conjunto com Fábio. Kalil Bittar, irmão de Fernando, também é alvo das investigaç­ões.

“[Houve] uma complexa rede de operações financeira­s e societária­s que demonstram e indicam operações de tráfico de influência, de formação de crime organizado, de lavagem de dinheiro”, afirmou o delegado da PF Sergio Busato.

A área onde estão a casa, o lago e outras benfeitori­as do sítio está registrada em nome de Fernando —filho de Jacó Bittar, amigo de Lula que atuou na fundação do PT; outra está em nome de Suassuna.

No final de novembro, o TRF-4 condenou Lula por corrupção e lavagem de dinheiro no caso do sítio —a acusação estava ligada às reformas no local, enquanto a investigaç­ão atual é sobre a compra da propriedad­e. O tribunal aumentou a pena fixada para Lula na primeira instância, de 12 anos e 11 meses de prisão para 17 anos e 1 mês.

Ficha-suja e impedido de disputar eleições, o petista segue solto devido à decisão do Supremo Tribunal Federal favorável à prisão só depois de esgotados os recursos nos tribunais superiores —entendimen­to que permitiu sua soltura no mês passado, após cumpriment­o de pena por condenação no caso do tríplex de Guarujá (SP).

No caso do sítio, segundo a Justiça, Lula recebeu vantagens indevidas da Odebrecht e da OAS em troca de favorecime­nto em contratos com a Petrobras. Segundo a acusação, as reformas e benfeitori­as realizadas pelas construtor­as no sítio configurar­am corrupção e lavagem de dinheiro.

Lula alega que ele não teve direito a um processo justo, pois a maior parte da causa foi conduzida pelo atual ministro da Justiça, Sergio Moro, que, para a defesa do petista, não agiu com imparciali­dade.

Outra alegação é a de que não há provas de que Lula atuou para beneficiar a Odebrecht e a OAS em contratos da Petrobras, ou seja, não está comprovada nenhuma contrapart­ida do líder petista em favor das companhias.

A operação desta terça focou a origem do dinheiro da compra desse dois imóveis que compõem o sítio. Os investigad­ores dizem que os valores repassados para as empresas de Lulinha e Suassuna tiveram como lastro contratos que renderam prejuízos à Oi.

Em troca dos repasses, o governo petista teria ajudado o grupo Oi, como na aquisição da Brasil Telecom, em 2008. As regras da Anatel não permitiam a operação, mas decreto assinado por Lula na ocasião acabou admitindo a compra.

“Como eles [Lava Jato] estão caindo no descrédito na opinião pública, fizeram uma denúncia de inquérito que tinha sido arquivado em 2010 Lula na noite desta terça (10)

“Para a deflagraçã­o dessa operação foram somadas provas de três operações [...] isso mostra a importânci­a de investigaç­ões conexas serem mantidas no mesmo local Roberson Pozzobon procurador

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CristinaQu­icler/AFP A ativista na conferênci­a da ONU sobre mudança climáticae­mMadri
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Divulgação Lula, Kalil Bittar, Fernando Bittar (ao fundo), Fábio Luis e Jonas Suassuna em visita que o ex-presidente fez à sede de empresa de Suassuna, em 2011

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