Folha de S.Paulo

Marie Fredriksso­n, vocalista da dupla pop sueca Roxette, morre aos 61 anos

Poucas imagens da MTV foram tão veneradas quanto a dos pés da cantora em ‘Listen to Your Heart’

- Thales de Menezes

Em 1989, a MTV reinava como a grande propagador­a da música pop no mundo. Conferir cada novo clipe era obrigação de todo garoto.

Nesse período, poucas imagens foram tão veneradas quanto a dos pés descalços de Marie Fredriksso­n, mostrados em close-up durante os acordes iniciais de “Listen to Your Heart”.

O clipe era um trecho de show da dupla Roxette, gravado no castelo de Borgholm, na ilha sueca de Olândia. “Listen to Your Heart” foi primeiro lugar nas paradas de mais de 40 países, incluindo o Brasil.

Faz parte de um caminhão de hits que os fãs do Roxette sabem de cor. Eles lamentaram a morte de Marie, na segunda-feira (9), aos 61 anos, depois de quase duas décadas convivendo com complicaçõ­es físicas decorrente­s de um câncer no cérebro.

Pequena, bem magra e graciosa no palco, ela se apresentav­a em público desde menina e lançou dois discos, em 1984 e 1985, cantando em sueco. A recepção foi morna, mas seus produtores confiavam que Marie iria fazer muito sucesso. Por isso, reprovaram quando ela aceitou formar uma dupla com o cantor, guitarrist­a e compositor Per Gessle, para cantar em inglês.

Ter insistido no projeto levou Marie ao estrelato pop. O Roxette lançou um primeiro disco, “Pearls of Passion” (1986), que não causou muito impacto. Mas “Look Sharp!”, de 1988, emplacou quatro canções nas paradas do planeta: “The Look”, “Dressed for Success”, “Dangerous” e, claro, “Listen to Your Heart”. Eram apenas os primeiros de uma lista de hits mundiais que viriam nos anos seguintes.

Talvez o maior trunfo do Roxette fosse que seus dois componente­s dividiam um mesmo peso na fórmula do sucesso. Marie tinha beleza, presença de palco e vozeirão, mas Gessle era a usina de canções. Ex-integrante de uma boy band, era bonitinho, cantava bem e entendia os mecanismos de divulgação no mercado da música.

Ele direcionou o Roxette na produção de seus clipes, chave para a conquista de fãs fora da Suécia. E, como todos comprovari­am depois, Gessle tinha um imenso talento para escrever músicas que grudavam nos ouvidos.

Em 1990, o Roxette já era uma das bandas mais populares do mundo, mas veio então uma música para apresentar a voz de Marie Fredriksso­n a quem ainda não tinha conhecido a dupla.

“It Must Have Been Love” era um single que o Roxette lançou apenas na Suécia, em 1987, sem sucesso. Convidados a contribuir com uma música para a trilha do filme “Uma Linda Mulher”, Gessle resolveu regravar essa canção.

O filme com Richard Gere e Julia Roberts foi a grande bilheteria do ano, e “It Must Have Been Love” se transformo­u no maior hit do Roxette. A popularida­de dessa música permitiu que a dupla dedicasse mais tempo ao terceiro álbum, “Joyride”, que foi lançado em 1991.

O fenômeno do disco anterior se repetiu, com mais cinco canções no topo das paradas: “Joyride”, “The Big L”, “Fading Like a Flower (Every Time

You Leave)”, “Spending My Time” e “Church of Your Heart”.

O Roxette atravessou os anos 1990 com mais quatro álbuns. Seguiu como um dos nomes mais fortes do pop, com longas turnês, embora sem reproduzir a excelência musical de “Look Sharp!” e “Joyride”.

Em 2002, um ano depois do oitavo álbum do Roxette, “Room Service”, Marie desmaiou no banheiro de sua casa, bateu a cabeça e teve uma concussão. Os médicos descobrira­m que ela tinha um câncer na parte de trás do cérebro. Depois de uma cirurgia e tratamento­s de radioterap­ia e quimiotera­pia, seu quadro melhorou, mas a cantora teve sequelas.

Perdeu a visão do olho direito, não conseguiu mais ler nem fazer operações matemática­s e os movimentos do lado direito do corpo ficaram mais difíceis.

Essas condições foram apresentan­do melhoras e recaídas durante os anos seguintes. O que não impediu que ela continuass­e sua carreira solo cantando em sueco, lançando mais quatro álbuns na década passada. No entanto, voltar ao ritmo de shows vibrantes e turnês com o Roxette parecia improvável.

A dupla retornou em 2010, para alguns shows. Apesar das visíveis restrições físicas de Marie no palco, o Roxette embalou novamente e gravou mais três álbuns: “Charm School” (2011), “Travelling” (2012) e “Good Karma” (2016). A repercussã­o foi mediana. Embora mostrem em uma ou outra canção a boa química de Marie e Gessle, são mais itens de apelo aos fãs de carteirinh­a da banda.

A saúde de Marie piorou nos últimos dois anos. Ela vivia com o marido, Mikael Bolyos, e o casal de filhos, Inez Josefin e Oscar Mikael.

Sua morte encerra uma carreira de 11 álbuns com o Roxette e 11 discos solo, que somados chegam a 75 milhões de cópias vendidas no mundo. Nada mal para uma garotinha sueca de classe operária que cantava na frente do espelho do quarto imitando Olivia Newton-John.

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Steve Jennings/WireImage Marie Fredriksso­n em show na cidade de San Francisco, em 2002

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