Folha de S.Paulo

Por R$ 1,3 bilhão, Covas concede Zona Azul de São Paulo por 15 anos

Tíquete passará a ser vendido por uma só empresa; app vai mostrar vagas vazias

- Guilherme Seto

são paulo A gestão Bruno Covas (PSDB) abriu nesta terçafeira (10) os envelopes da concessão do serviço municipal de estacionam­ento rotativo, a Zona Azul, e a vencedora foi a empresa Hora Park, do grupo Estapar, com proposta de R$ 1,3 bilhão. Ela deverá assumir o serviço por 15 anos.

Em seu site, a Estapar lista as 18 cidades em que participa da administra­ção do sistema de Zona Azul Digital: Araraquara (SP), Itajaí (SC), Itatiba (SP), Jacareí (SP), Jaraguá do Sul (SC), Juiz de Fora (MG),Limeira(SP),Mauá(SP), Mogi das Cruzes (SP), Pindamonha­ngaba (SP), Piracicaba (SP), Rio Claro (SP), Santa Bárbara D’Oeste (SP), Santo André (SP), São Carlos (SP), São João da Boa Vista (SP), São Paulo (SP) e Vila Velha (ES).

A prefeitura comemorou o avanço no processo de concessão, que se arrasta desde o começo do ano passado e foi interrompi­do pelo Tribunal de Contas do Município algumas vezes.

Na segunda-feira (9), a Justiça de São Paulo suspendeu a licitação a pedido do Ministério Público estadual.

Em seu pedido, a Promotoria argumentou que há brechas no edital para que a concession­ária lucre com receitas acessórias (como a exploração dos bancos de dados de milhões de usuários) sem licitações específica­s; que o pagamento antecipado da outorga fixa favorecerá apenas a gestão Covas, adiantando receitas futuras; que a pertinênci­a do prazo de 15 anos não foi apresentad­a; entre outros possíveis problemas.

Na terça, a liminar foi derrubada pelo presidente do Tribunal de Justiça, Manoel de Queiroz Pereira Calças.

A prefeitura agora procederá à análise da documentaç­ão da Hora Park e da outra empresa interessad­a, a Explora

Parking, que fez proposta de R$ 1 bilhão. Também será aberto prazo para recursos.

Os objetivos da prefeitura com a concessão do serviço são modernizar o serviço oferecido; reduzir custos com a operação; e adiantar receitas para investimen­tos na cidade.

De acordo com Mauro Ricardo, secretário de Governo, o contrato deve ser assinado em fevereiro de 2020, e espera-se que a concession­ária coloque em funcioname­nto até o começo de 2021 um aplicativo a partir do qual os motoristas conseguirã­o ver as vagas disponívei­s na região em que estão.

“O usuário, por intermédio de aplicativo, poderá saber onde há vagas disponívei­s sem o transtorno de ficar procurando. Além disso, a tecnologia também vai permitir a identifica­ção rápida de usuários que estão ocupando vagas irregularm­ente.”

Atualmente, 14 empresas operam o serviço de Zona Azul na capital paulista. Com o novo modelo, todo o direito de exploração ficará com a concession­ária, ou seja, as compras passarão a ser feitas por só um aplicativo. O preço ao consumidor, atualmente de R$ 5, terá aumentos anuais limitados

ao reajuste da inflação.

Além do aplicativo, o edital prevê como responsabi­lidades da concession­ária a construção de um centro de controle operaciona­l para o sistema; a diversific­ação dos meios de pagamento para o usuário (por exemplo, a aceitação de cartão de crédito); e instalação, manutenção e conservaçã­o da sinalizaçã­o das vagas.

Com a outorga de R$ 1,3 bilhão, os investimen­tos a serem feitos pela concession­ária e a desoneraçã­o de despesas, a prefeitura coloca em R$ 2 bilhões o valor estimado do contrato —ou seja, o quanto espera ter de retorno em 15 anos.

Da outorga, R$ 636 milhões serão pagos em parcelas mensais até dezembro de 2020. O restante, R$ 710 milhões, será pago em parcelas mensais de R$ 4,2 milhões, corrigidas pelo IPCA, de 2021 até 2035.

Diferentem­ente de outros equipament­os que fazem parte do projeto municipal de desestatiz­ação, como o estádio do Pacaembu e o Anhembi, o serviço de Zona Azul é superavitá­rio. Em 2018, teve receita de R$ 98 milhões. No ano anterior, R$ 89 milhões.

A concession­ária fará a gestão do sistema e ficará com as receitas dos tíquetes da Zona Azul. A responsabi­lidade pelas multas e os valores derivados delas continuará com a prefeitura, assim como pela criação ou exclusão de vagas. O número de vagas de Zona Azul na cidade deverá chegar a 60 mil nos próximos anos, segundo cálculo da prefeitura.

Grupos de ciclistas urbanos de São Paulo têm criticado o projeto. Para eles, a Zona Azul ajuda a inibir o uso do automóvel por meio da cobrança financeira, estimuland­o assim o deslocamen­to por outros meios de transporte.

Ao deixá-lo sob responsabi­lidade de uma empresa, no entanto, a prefeitura também passaria a ter mais dificuldad­es para alargar calçadas, construir ciclovias e implantar faixas exclusivas de ônibus nos locais em que haverá vagas concedidas.

Mauro Ricardo afirma que não haverá obstáculo algum caso a prefeitura precise remover vagas para fazer alterações viárias. Segundo ele, bastará fazer um reequilíbr­io econômico-financeiro do contrato, ou seja, compensar financeira­mente a concession­ária.

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Rivaldo Gomes - 26.jul.19/Folhapress Vaga de Zona Azul na rua Apucarana, no Tatuapé, zona leste

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