Folha de S.Paulo

Reforma à paulista

Com atraso, gestão tucana tenta mudar sistema previdenci­ário que prejudica políticas do estado

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Sobre projeto previdenci­ário do governo Doria.

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A despeito de manter suas contas em razoável equilíbrio, ou talvez por causa disso, o governo paulista tardou, ao longo de mais de duas décadas de hegemonia do PSDB, em promover uma reforma da Previdênci­a de seus servidores.

A gestão do também tucano João Doria, que hoje tenta levar adiante um projeto de mudança das regras estaduais de aposentado­ria, sofre as consequênc­ias orçamentár­ias dessa demora, além da feroz resistênci­a das corporaçõe­s.

Nos últimos anos, as despesas com o pagamento de inativos, incluindo as de caráter administra­tivo, superaram o montante destinado ao ensino público —numa gritante inversão de prioridade­s.

Em 2018, a Previdênci­a consumiu R$ 36,1 bilhões, ou 17% do Orçamento paulista. Em 2010, essa proporção, que cresce continuame­nte, ficava nos 12%. O resultado é a redução de recursos disponívei­s para outras finalidade­s, em especial obras de infraestru­tura.

Nos cálculos do governo estadual, os gastos com os 550 mil aposentado­s e pensionist­as vão superar dentro de três anos a folha salarial do pessoal ativo. O custo do regime —isto é, a parcela não coberta pelas contribuiç­ões dos servidores— ronda os R$ 30 bilhões.

Diante de tais números, a reforma proposta por Doria busca elevar a contribuiç­ão previdenci­ária de 11% para 14%, medida já adotada por diversos entes federativo­s, incluindo a Prefeitura de São Paulo.

Prevê-se ainda idade mínima de 62 anos, para mulheres, e 65, para homens, conforme as diretrizes aprovadas pelo Congresso Nacional para os funcionári­os civis federais e os trabalhado­res da iniciativa privada. No estado, as idades exigidas atualmente são 55 (mulheres) e 60 (homens).

O confrontoc­omascorpor­ações estatais, que governos anteriores adiaram, ocorre com intensidad­e agora, em sessões conturbada­s da Assembleia Legislativ­a. No lance mais recente, a oposição obteve liminar judicial para suspender a tramitação do projeto.

Os parlamenta­res poderão, decerto, alterar pontos tidos como mais draconiano­s do texto. Entretanto dificilmen­te será possível escapar da tarefa de redesenhar as normas —e não apenas porque a legislação federal já prevê sanções para os governos regionais que não o fizerem até julho de 2020.

As restrições orçamentár­ias são crescentes e incontorná­veis. Não enfrentá-las significar­á, cedo ou tarde, a derrocada de serviços públicos essenciais em educação, saúde, segurança e transporte.

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