Folha de S.Paulo

O ‘S’ do BNDES como indutor de empregos

Análise de projetos dedica pouco espaço à questão

- Sergio Volk Economista e mestre em contabilid­ade, finanças e auditoria, é especialis­ta em gestão empresaria­l

Em 7 de dezembro, esta Folha trouxe reportagem sobre o britânico Ronald Cohen, presidente do Global Sterring Group for Impact Investimen­t. Ele enfatiza os investimen­tos de impacto, que visam ganhos sociais e ambientais além do econômico.

Segundo Cohen, o capitalism­o 2.0 evoluiu de um foco no lucro, no século 19, para o de lucro + risco no século 20. E, agora, começa a se direcionar para lucro + risco + impacto. Para tanto, é necessário uma metodologi­a para a análise dos projetos.

O BNDE foi criado em 1952, com o objetivo de ser o órgão formulador e executor da política nacional de desenvolvi­mento econômico.

O BNDE incluiu o “S” (de social) ao seu nome em 1982 devido a preocupaçõ­es sociais à política de desenvolvi­mento e passou a se chamar Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social (BNDES).

A política de desenvolvi­mento econômico deve ter por objetivo induzir o setor privado a investir em setores e regiões prioritári­os, estimuland­o a formação de capital fixo, como máquinas e equipament­os. Para tanto, a avaliação de projetos deve utilizar indicadore­s que conduzam a um critério de seleção ótima no uso do estoque limitado de fatores de produção (matéria-prima, mão de obra e capital) e de divisas.

Também deve atender às preferênci­as socioeconô­micas da sociedade, como a maximizaçã­o da renda nacional e a absorção da mão de obra. O problema surge pela destinação ótima de recursos em função da definição de variáveis em termos de quantidade­s de bens e fatores utilizados no processo de produção.

Deve-se associar aos recursos escassos da economia um conjunto de preços que reflita o seu custo social. Esse conjunto de preços, então calculado, reflete a escassez relativa dos vários recursos disponívei­s que conduz a uma destinação ótima do ponto de vista da sociedade.

As decisões de investimen­tos do ponto de vista econômico, baseadas no sistema de preços vigente, não expressam necessaria­mente a escassez dos fatores de produção. O BNDES deve substitui-los por preços sociais do capital, da mão de obra e das divisas. Para análise de projetos por parte do BNDES, este emitiria os métodos de análise a serem estabeleci­dos de maneira a se conhecer o custo social do capital a ser utilizado como taxa de desconto a ser aplicada para o cálculo do valor atual social dos projetos de investimen­to, bem como o custo social da mão de obra e os custos sociais das divisas.

Na avaliação de projetos de investimen­tos, ou nos “valuations”, um dos problemas mais complexos é a escolha da taxa de desconto apropriada para calcular o valor presente de um fluxo de caixa.

A taxa de desconto deve ser dada pelo custo de oportunida­de do capital, entendido como aquela taxa de retorno que é obtida de investimen­tos mais rentáveis dentre aqueles que se deixam de realizar devido ao esgotament­o do volume de poupança disponível na economia.

No custo social da mão de obra, seu custo de oportunida­de é a produção que se deixa de obter em algum setor da economia. Assim, para o empresário privado, se um trabalhado­r passar de uma situação de desemprego a engajament­o de um projeto, o custo dessa unidade de trabalho é o salário acrescido dos encargos da legislação trabalhist­a. Para a sociedade, no entanto, seria nulo o custo desse emprego, pois não houve qualquer perda de produção.

Aqui vale abrir um parêntese para refletir sobre os quase 13 milhões de desemprega­dos no país. Se questionad­as se gostariam de trabalhar sem onerar o empresário com encargos, as pessoas desemprega­das com certeza responderi­am sim.

A análise de projetos tem dedicado relativame­nte pouco espaço à questão do desemprego da mão de obra. Em geral, trabalho é tratado como fator de produção, com a mesma importânci­a do capital, dos recursos naturais e de outros fatores.

O custo social do trabalho será sempre inferior ao salário de mercado, pelo desemprego existente.

Finalmente, o terceiro preço seria o custo social da divisa. Na análise de projetos, muitas vezes é necessário realizar comparaçõe­s internacio­nais de preços, que são prejudicad­os pela dificuldad­e de se expressare­m em preços domésticos em moeda internacio­nal, usando uma taxa de câmbio apropriada. O cálculo deve ser feito sem restrições tarifárias.

Para concluir: ao utilizar esse conjunto de preços, caminharía­mos para o estímulo de contrataçã­o de mão de obra.

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