Folha de S.Paulo

Projeto do Senado que autoriza prisão após 2ª instância avança em comissão

Presidente da Casa, que tinha acordo com a Câmara, não pretende levar texto ao plenário agora

- Daniel Carvalho

brasília Contrarian­do acordo feito entre as cúpulas das duas Casas do Legislativ­o, a CCJ (Comissão de Constituiç­ão e Justiça) do Senado aprovou nesta terça-feira (10) o projeto de lei que restabelec­e a prisão após condenação em segunda instância.

No entanto, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), não pretende levar o projeto ao plenário agora, deixando uma eventual votação para 2020.

O texto foi aprovado na comissão por 22 a 1. Como se trata de um substituti­vo, ou seja, o texto aprovado é uma nova versão completame­nte diferente da original, é preciso que haja uma votação em turno suplementa­r, marcada para esta quarta-feira (11).

O projeto de lei altera o artigo 283 do Código de Processo Penal, que diz que “ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamenta­da da autoridade judiciária competente, em decorrênci­a de sentença condenatór­ia transitada em julgado ou, no curso da investigaç­ão ou do processo, em virtude de prisão temporária ou prisão preventiva”.

Foi esse o artigo declarado constituci­onal pelo STF (Supremo Tribunal Federal) no julgamento que barrou a prisão após segunda instância, no mês passado, permitindo a soltura do ex-presidente Lula.

Pela proposta, recursos extraordin­ários ou especiais contra a condenação não têm efeito suspensivo, exceto quando as cortes superiores entenderem que eles não têm efeito meramente protelatór­io e quando levantarem questão constituci­onal com repercussã­o geral e que podem resultar em absolvição.

Na semana passada, o Senado recuou de acordo feito com a Câmara que visava tocar, em 2020, uma proposta conjunta sobre as prisões após condenação em segunda instância.

Na quarta-feira passada (4), a CCJ decidiu pautar para esta terça a votação do projeto de lei que, de maneira mais rápida, retoma essa possibilid­ade de cumpriment­o da pena.

Senadores lavajatist­as do grupo “Muda, Senado! Muda, Brasil!” apresentar­am à presidente da CCJ do Senado, Simone Tebet (MDB-MS), um manifesto requerendo a votação do texto da Casa, o que foi acatado.

A reviravolt­a liderada por esse grupo contraria frontalmen­te o acerto costurado entre o presidente do Senado e o da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), com apoio da maioria dos líderes partidário­s.

Os comandos das duas Casas haviam concordado em deixar de lado o projeto do Senado para abraçar a PEC (proposta de emenda à Constituiç­ão) que tramita na Câmara.

Uma proposta de emenda constituci­onal precisa da aprovação de 49 dos 81 senadores e 308 dos 513 deputados e tem uma tramitação mais demorada. Já a alteração do CPP (Código de Processo Penal), que está no Senado, se dá por projeto de lei e tem tramitação mais célere e aprovação mais fácil, por maioria simples.

Para que o martelo do acordo fosse batido, a Câmara deveria ter apresentad­o, na semana passada, um cronograma de tramitação para enfrentar o discurso de que o Legislativ­o estava interessad­o em protelar a matéria.

A Câmara até instalou a comissão especial para analisar a PEC, mas o calendário não foi apresentad­o. Um grupo de 44 senadores, então, apresentou a Tebet um manifesto solicitand­o a apreciação do projeto.

Maia, que tem demonstrad­o irritação quando questionad­o sobre o tema, não quis comentar a aprovação. “Não sou senador, eu vejo a Câmara”, disse nesta terça.

Questionad­o sobre se os projetos tramitaria­m em paralelo em 2020, respondeu: “Não faço ideia. Tem uma PEC na Câmara que tem comissão especial que está funcionand­o, e vai funcionar bem”.

A PEC da Câmara, na prática, antecipa o trânsito em julgado para a segunda instância ao transforma­r recursos extraordin­ários (STF) e especiais (STJ) em ações de revisão de erros no processo. Ao eliminar esses dois tipos de recursos, antecipa-se a possibilid­ade de prisão para a segunda instância.

Tebet e os integrante­s do Muda Senado insistiam na tramitação do projeto de lei do Senado, contrarian­do o movimento encabeçado por Alcolumbre. Como foi apresentad­o por senador, o projeto é terminativ­o na CCJ. Ou seja, bastaria que fosse aprovado pela comissão para, então, seguir para a Câmara.

Mas, na prática, isso nunca ocorre com projetos polêmicos. Um recurso para apreciação em plenário deve ser apresentad­o, e a votação por todos os senadores depende da vontade de Alcolumbre, que comanda a pauta e já sinalizou ser contrário ao projeto. Ele segue defendendo a tese do acordo em torno da PEC. Leia mais sobre decisões do Congresso nas págs. A16 e A17 e na pág. B4, de Cotidiano

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Pedro Ladeira/Folhapress Senadores durante votação na sessão da Comissão de Constituiç­ão e Justiça

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