Democratas acusam formalmente Trump de abuso de poder e obstrução
Plenário da Câmara dos Deputados espera votar artigos de impeachment na próxima semana
washington e são paulo | reuters e afp Os líderes do Partido Democrata na Câmara dos EUA anunciaram nesta terçafeira (10) as acusações formais no processo de impeachment contra Donald Trump, atribuindo ao presidente americano os crimes de abuso de poder e obstrução do Congresso.
Com isso, a tendência é que já na próxima semana a Casa —de maioria democrata— realize a votação para autorizar o impeachment do presidente, que será então julgado pelo Senado. Ele permanece no cargo até o fim do processo.
O texto de nove páginas afirma que o republicano montou um esquema para “pedir de forma corrupta” ajuda do governo ucraniano para investigar um possível adversário seu nas eleições de 2020 —o democrata Joe Biden.
“O Presidente Trump abusou dos poderes da Presidência ao ignorar e prejudicar o interesse nacional e outros interesses vitais nacionais para obter um benefício político pessoal impróprio”, diz um trecho da acusação.
“Ele também traiu a nação ao abusar de sua função ao recrutar um poder estrangeiro para corromper eleições democráticas”, afirma o texto.
A acusação diz ainda que Trump praticou obstrução e fez uma “provocação categórica, indiscriminada e sem precedentes” contra o Congresso ao ordenar que subordinados seus se recusassem a testemunhar e a entregar documentos aos deputados que investigavam a questão ucraniana.
Os democratas deram andamento rápido ao inquérito de impeachment desde o início da investigação, em 24 de setembro, sobre as alegações de que Trump pressionou Kiev a investigar o filho de Biden, Hunter, que foi conselheiro de uma empresa ucraniana.
Eles acusam Trump de infringir a lei ao reter ajuda militar de US$ 400 milhões à Ucrânia, bem como ao condicionar o agendamento de reunião na Casa Branca para convencer o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, a iniciar a investigação contra o rival.
O republicano “enxerga a si mesmo como acima da lei”, disse nesta terça o deputado democrata Jerrold Nadler, que comanda o comitê Judiciário da Câmara. “Temos de ser claros, ninguém, nem mesmo o presidente, está acima da lei.”
Ao lado da presidente da Casa, Nancy Pelosi, e de colegas presidentes dos comitês que investigaram se Trump deveria ser impugnado, Nadler também disse a repórteres que o presidente havia colocado em risco a Constituição dos EUA, minando a integridade das eleições de 2020.
Por outro lado, os republicanos acusam os democratas de tentar anular os resultados das eleições de 2016 classificando o processo como “caça às bruxas”. “O presidente vai se defender dessas falsas acusações no Senado e espera ser completamente inocentado, uma vez que não fez nada de errado”, disse em comunicado a porta-voz da Casa Branca, Stephanie Grisham.
O próprio Trump usou rede social para se defender. Ele disse que a acusação feita por Nadler “não era verdadeira” e afirmou que nunca pressionou o presidente ucraniano.
Caberá agora ao comitê Judiciário da Câmara decidir se aceita ou não as acusações.
A expectativa é que essa votação aconteça já nesta quinta (12) e que o colegiado confirme o prosseguimento do processo, abrindo o caminho assim para uma sessão histórica no plenário da Câmara.
Segundo The New York Times, se tudo ocorrer como o previsto, a tendência é que na próxima semana os deputados votem o impeachment do presidente dos EUA—todas as previsões apontam que a
Casa deve aprovar a medida.
O processo seguirá então para o Senado, a quem cabe julgar se de fato Trump cometeu os crimes dos quais é acusado, o que deve acontecer no início de 2020.
O presidente permanecerá no cargo até o julgamento no Senado e é improvável que ele seja condenado, pois a Casa tem maioria republicana — são necessários dois terços dos votos para seu afastamento.
Mesmo assim, o rito do impeachment ainda pode impactar sua campanha à reeleição no próximo ano e na disputa pelo controle do Legislativo.
Em toda a história americana, a Câmara só autorizou a abertura do processo contra dois presidentes, os democratas Andrew Johnson (1868) e Bill Clinton (1998), mas ambos acabaram inocentados no Senado. O republicano Richard Nixon renunciou em 1974 quando a Câmara se preparava para votar a abertura do processo e seu impeachment já era dado como certo.
“Temos de ser claros, ninguém, nem mesmo o presidente, está acima da lei Jerrold Nadler deputado democrata