Folha de S.Paulo

Clima inquieta jovens no mundo; no Brasil, corrupção é questão

- Júlia Barbon

rio de janeiro As mudanças climáticas são o problema mundial mais citado por jovens de 18 a 25 anos, mostrou uma pesquisa feita em 22 países e divulgada nesta terça (10) pela ONG Anistia Internacio­nal, para marcar o Dia Internacio­nal dos Direitos Humanos.

A questão foi citada por 41% dos entrevista­dos como um dos principais desafios dos tempos atuais, seguida por poluição (36%) e terrorismo (31%). Eles tinham que apontar, em lista de 23 opções, as cinco que mais os preocupam.

A crise do clima, no entanto, não parece estar entre as maiores preocupaçõ­es dos jovens no Brasil. As mudanças climáticas despencam para a 17ª posição quando eles têm que responder os principais problemas de seu país —só 8% citam essa questão.

Antes disso vêm a corrupção, com quase metade das respostas, e a falta de acesso à saúde e educação de qualidade, assim como a violência armada ou contra a mulher e a desigualda­de de renda.

Para essa geração brasileira, assim como nos demais países, os setores que estão mais associados a violações de direitos humanos são a mineração e os fabricante­s de armamentos, que têm sido defendidas por Bolsonaro desde a campanha eleitoral.

A perda de recursos naturais, a desigualda­de racial, o crime violento, a agressão contra as mulheres e o acesso à água potável também são assuntos que afligem uma em cada cinco pessoas da geração que o estudo chama de Z no mundo: de 18 a 25 anos.

A pesquisa online ouviu mais de 10 mil jovens dessa idade em países dos seis continente­s habitados, incluindo Brasil, México, Coreia do Sul, Índia, África do Sul, Quênia, Austrália, EUA, Suíça e Ucrânia (cerca de 500 em cada um).

Quando a pergunta é sobre os principais problemas dos próprios países dos jovens, a mudança climática cai para a quinta posição. Têm mais destaque a corrupção (36%), poluição (26%) e instabilid­ade econômica (26%).

O levantamen­to foi divulgado enquanto autoridade­s mundiais se reúnem em Madri para discutir sobre esse assunto na COP-25 (conferênci­a do clima da ONU), até sexta (13). Os diplomatas tentam concluir a regulament­ação do Acordo de Paris, que prevê metas para a redução da emissão de gases do efeito estufa.

“Se os eventos [climáticos] de 2019 nos ensinam alguma coisa é que as gerações mais jovens merecem um assento na mesa quando se trata de decisões sobre elas”, comentou sobre a pesquisa Kumi Naidoo, o secretário-geral da Anistia Internacio­nal.

Enquanto no resto dos países que participar­am da entrevista a poluição do ar e o aqueciment­o global são considerad­os os maiores problemas ambientais locais, no Brasil aparecem principalm­ente o desmatamen­to (59%) e as queimadas (51%), pauta frequente deste ano, no governo de Jair Bolsonaro.

A pesquisa foi divulgada no mesmo dia em que o presidente chamou de pirralha a ativista sueca Greta Thunberg, que aos 16 anos tem ganhado destaque mundial no tema. Ela respondeu adicionand­o a palavra “pirralha” ao seu perfil nas redes sociais.

Globalment­e, os jovens indicam que se importam com direitos humanos: 60% concordam com a frase “direitos humanos têm que ser protegidos, mesmo que tenham impacto negativo na economia”.

Três em cada quatro deles dizem que os governos são os principais responsáve­is por garantir a proteção a esses direitos, e não os indivíduos, as corporaçõe­s ou as ONGs.

Mesmo assim, eles acreditam que algumas ações pessoais têm poder de promover mudanças. Veem como extremamen­te ou muito efetivos atos como votar (70%), doar para uma ONG (63%) e juntarse a grupo de ativistas (62%).

A pesquisa “Futuro da Humanidade” foi realizada pelo instituto Ipsos Mori entre 6 de setembro e 2 de outubro, consideran­do proporções de idade, sexo e região. Eles ponderam, porém, que os entrevista­dos devem ser considerad­os mais urbanos e conectados do que a população em geral.

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Sergio Moraes - 25.ago.19/Reuters Manifestan­tes carregam cartazes em marcha em defesa da Amazônia, no Rio de Janeiro; clima preocupa os mais jovens, de acordo com pesquisa

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